quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SEMIOLOGIA EXISTENCIAL

SEMIOLOGIA EXISTENCIAL
As palavras são as palavras e as coisas são as coisas. "Vertigem", por exemplo, é uma linda palavra: tem ritmo, cria imagem, afirma, embora seja hesitação. Quando adolescente, passei, lembro-me, por uma crise de labirintite. Agora, já decano (todavia, sem cãs, pois tenho a cabeça zenmente raspada), tenho, de novo, neste carnaval escaldante, uma crise de vertigem. Tudo roda comigo. Eu rodo no meio de tudo. Sinto náuseas. Perco, literalmente, o equilíbrio e ando como um bêbado que não bebeu. Não sou bêbado nem equilibrista. É horrível a coisa da vertigem. Mas a palavra é bela e até nomeia uma estética, o Decadentismo, que consagrei no meu livro "Ruína & simulacro decadentista", tão lido, tão parafraseado, tão intertextualizado. "As palavras e as coisas", escreveu muito bem Michel Foucault, sintagma onde a conjunção aditiva "e" diferencia-se, essencialmente, da terceira pessoa do plural do verbo "ser": as palavras não "são" as coisas. O signo designa. O nome nomeia. O termo determina. Mas a coisa é a coisa. E pronto. Ponto final na semiologia.

Um comentário:

  1. Nunca estive tão embevecido e cheio de vertigem ao ler este texto. Maravilhoso hein!

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