Depois de um longo recesso das aulas, quando me dediquei, totalmente, à escritura de textos vários, voltei, ontem, à sala de aula, primeiro na graduação em Produção Cultural, depois, à tarde, na pós-graduação em Letras, no belíssimo "campus" do Gragoatá. Já, no ônibus para o IACS, reencontrei um antigo aluno, que me foi logo perguntando: "E a aposentadoria, como vai?" Vi, naquela pergunta intempestiva, um índice de que há uma expectativa quanto à minha aposentadoria e quase tive um travo de tristeza, porque "aposentadoria" significa, para muitos, abandono, rejeição, esquecimento. Penso diferentemente quanto à minha própria aposentadoria, para a qual me preparo ritualisticiamente. A aula de "Ética & Estética", no IACS, começou a acontecer; naquele "campus", o professor tem que lutar quase que contra tudo, porque é o espaço do depauperamento. No Gragoatá, debruçado sobre a Baia da Guanabara, é a glória, porque a secretaria funciona a pleno vapor. Minha sala ficou pequena para tantos alunos, de doutorado e de mestrado. Trata-se de um grupo bem heterogêneo,mas já picado pela mosca azul de Barthes, "corpus" do meu curso. Acolhendo mestrandos, pude verificar que alguns estão começando sua pesquisa acadêmica. Pensei nos meus primórdios na UFRJ e me disse: teremos paciência com os jovencíssimos, e eles terão paciência com os mais velhos. Lembrei-me até de quando eu aprendia a dirigir, lá no Méier; no vidro traseiro da auto-escola, havia uma frase assim: "Você já passou por isto". No decurso do curso, Fui logo dizendo que Barthes é um fantasma de nossas gragoatardes, um fantasma luminoso e gostoso. Compus um haicai imperfeito: "Barthes não é acréscimo/ Barthes não é necessidade/ Barthes é urgência".
Disse que o curso é a véspera de minha aposentadoria, porque oferecerei, no próximo semestre, "Seminários especiais", dirigidos aos meus orientandos; no primeiro semestre de 2011, retomarei Roland Barthes, obra inconclusa, e, assim, fecharei, com chave de ouro decadentista, espero eu, meu ciclo acadêmico.
Elenquei o rol de textos para estudos e fiquei imensamente gratificado quando vi os alunos fazerem fila, na mecanografia, para replicarem os textos em torno de Barthes.
Não dou aula no "Collège de France", mas o nome de Roland Barthes tem um força demiúrgica.
quarta-feira, 17 de março de 2010
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