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> Sempre, nesta data, eu me lembro intensamente de duas mulheres: a a rtista
> plástica, Ana Lasevicius, que foi a última mulher do nosso cantor e
> compositor Taiguara, e a flautista Lourdes Carvalho.
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> Tal lembrança, fincada assim em duas mulheres, tem uma singularidade: é que
> elas me trazem a lembrança de uma homenagem aos homens.
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> Há uns treze anos passados, bem no Dia Internacional da Mulher, me foi
> perguntado qual a mulher que eu elegeria para ser premiada nesse dia.
> Respondi: Ana Lasevicius, porque ser mulher não é ser médica, professora,
> advogada, seja lá o que for; ser mulher é a ser a mulher de um determinado
> homem. E Ana foi, na essência, a Mulher que Taiguara encontrou e com quem
> contou nos seus últimos anos de vida. Jamais pude ver tamanha dedicação de
> uma mulher a um determinado homem – cuidado, carinho, zelo, dedicação,
> amorosidade, são pa lavras poucas para expressar tanta grandeza em uma
> mulher. E com essa mulher eu aprendi a beleza de se ser Mulher.
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> Anos depois, ainda por comemoração dessa entidade – a Mulher –, houve um
> concerto no Centro Cultural Banco do Brasil. Uma orquestra composta só de
> Mulheres, executou obras de relevância do cenário musical internacional.
> Entre essas obras, pudemos destacar um Concerto de Vivaldi, executado pela
> solista, a flautista Lourdes Carvalho. Belíssimo. Eu escutava tudo aquilo
> em total estado de êxtase, sentada em uma cadeira de final de fileira. Bem a
> meu lado, em pé, esteve um homem, com uma criança bem pequena no colo, que
> dormia. No final da execução daquele Vivaldi tão imenso, enquanto a platéia
> batia suas calorosas palmas, o homem dizia, pensando, em voz alta, “que
> Mulher, que Mulher”, referindo-se à flaut ista. Eu escutava o balbuciar d
> aquele homem, ainda tão jovem, e já tão homem, tão pai, e ficava com vontade
> de dizer: “ela é minha irmã, ela é minha irmã”. Mas eu não disse para não
> minimizar a ressonância que vibrava naquele coração de homem, sobretudo
> porque entendi que ela, muito mais que minha (irmã), é do mundo.
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> No final do concerto, a mesma flautista, acompanhada por aquela orquestra
> tão singular, tão delicada, tão materna, fez voar pelos ares As Rosas não
> Falam, de Cartola. E todo espetáculo se concluiu com Zezé Motta, surgindo,
> emergindo, do seio daquela orquestra, vindo à platéia, com um buquê enorme
> de flores nos braços, ofertar um botão de rosa branca a cada homem ali
> presente. Nesse exato momento, saí de meu lugar e fui ao encontro da atriz.
> Pedi-lhe um daqueles botões, pois o homem que este ve ao meu lado, por todo o
> espetáculo, não poderia ser esquecido. Acheguei-me a ele, ofereci-lhe o
> rosa, olhei-lhe e lhe disse: “que homem, que homem é você, assim tão capaz
> de sentir uma flauta, de sentir u ma mulher”.
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> Desde esse dia, fiquei entendendo que todas as mulheres do mundo devem
> homenagear os homens, no Dia Internacional da Mulher. Por isso, hoje, aqui
> no espaço de minha palavra, dirijo-me a esses que me foram, na vida,
> verdadeiros exemplos, para prestar minha homenagem: João Lombardi, pai que
> embalava cinco filhos, todas as noites de seus dias, porque sua mulher,
> nessa hora, empreendia seu ofício de professora; Ruy Rabello, pai de nove
> filhos, criatura mais doce que pude conhecer e admirar, homem que lia
> romances para sua mulher escutar, enquanto ela costurava roupas para os
> filhos; Luiz Baptista (Luizin ho), um homem que um dia me disse que me amava
> tanto quanto à seus filhos, pois, segundo ele, restringir o amor paterno não
> é beleza; Chico Chagas, pai, pai, pai; Mauro de Albuquerque Madeira, pai tão
> pai que massageia as costas de uma filha bem no momento em que essa aguarda
> o momento de dar a luz a uma criança; Latuf Isaias Mucci, pai que se
> espalha na vÃ?ternidade e a vida fica em emanação; José Dias de Lana, amor
> paterno tão delicado quanto as rosas de Zezé Motta e tão delicado como o
> música; José Durval Cavalcante de Albuquerque, pai que vai além do corpo e
> abarca o centro mágico de uma emoção; Cynégiro Sette dos Santos, delicadeza
> macha jamais vista, homem sábio e bom, competência profissional sem limites;
> Fabiano, Bosco, Marcos, Zé, Luiz AntÃ?nio, Clà ¡udio, Ricardo - irmãos e
> primos tantos. A TODOS VOCÊS EU HOMENAGEIO NO DIA INT ERNACIONAL DA MULHER E
> ENTREGO O MEU CORAÇÃO. Isto porque ser Mulher é viver entregando o coração e
> bem que eu queria ser um coração para todos vocês.
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> Piedade Carvalho
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sábado, 13 de março de 2010
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Olá, embora possa parecer estranho, gostaria de saber se é possível obter o contato da Piedade Carvalho. Explico: estou com seu livro "Villa-Lobos: do crepúsculo à alvorada" e me encantei com sua escrita. Procurei se havia algum site dela, mas só encontrei alguns textos dela aqui neste blog. Enfim, tive o impulso de procurá-la apenas para compartilhar o poético que nos toma das mais diversas maneiras.
ResponderExcluirObrigado.
Fábio