quarta-feira, 28 de abril de 2010

O LÍBANO EM NOSSOS CORAÇÕES

Agora, tenho a certeza de que o melhor da festa é esperar por ela. Quando recebi o convite para estar no coquetel que o presidente do Líbano, General Michel Sleiman, ofereceria à comunidade libanesa no Rio de Janeiro, senti-me o mais honrado dos mortais. Minha primeira reação foi comunicar à minha família toda, onde sou considerado o mais libanês dos Mucci; informei, também, aos amigos mais chegados, que compartilhariam comigo tamanha honradez. O problema todo era a quetão do traje, porque o convite reza "traje passeio completo" e eu tive que consultar várias pessoas para saber do que se tratava. Alguns me disseram que era questão de terno e, aí, quase entrei em pânico, chegando mesmo a pensar em desistir de `comparecer à recepção presidencial. Busquei, no meu inflado guarda-roupas, o tal "terno escuro"; nada encontrei. Falaram-me em alugar um e eu optei pelos brechós. Vesti o primeiro que vi e, hoje, ele faz parte do armário de meu filho, que, envergando aquele linho todo, ficou ainda mais elegante. Perguntei ao Juan Arias o que seria "traje passeio completo" e ele me orientou, dizendo que, no Brasil, país tropical, pode ser um bleizer escuro com calça social, também escura. Voltei animadíssimo ao meu opulento guarda-roupas, onde separei vários bleizeres. Expus camisas, gravatas e bleizeres, fazendo de Maria, a moça que trabalha aqui em casa há décadas, e ela, depois de me ter perguntado se o evento seria de dia ou de noite, pontificou: este bleizer risca-de-giz com calça preta Christian Dior, uma camisa de tom berinjela para combinar com o botão do bleizer. Adorei a observação, que segui à risca. Amealhei gravatas, que nunca uso, mas que servem, muitas vezes, de cinto para os meus roupões, e fui, com alma e bagagem, para a casa da Cláudia em Copacabana. Era a primeira vez que eu visitava seu novo lar, que me encantou pelo requinte da decoração. Sérgio, seu marido, decidiu a gravata: de seda, vermelha, italianíssima. Eu estava pronto. Montado para ver o presidente do meu Líbano. Na manhã do domingo, em que ocorreria a recepção, recebi um telefonema de minha irmã Martha, avisando que, no canal Canção Nova, se transmitia a missa, em rito maronita, na Igreja Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo, com a presença do casal presidencial. Telefonei a todos da família maronita e fiquei embevecido diante de tanta pompa. É realmente suntuosa a liturgia maronita, cheia de mitras e brilhos. Fiquei observando o Sr. e a Sra. Seilman, e até pude ver lágrimas correndo pela face da primeira dama, quando recebeu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Certamente que ela pensava em seu longínquo Líbano, tão necessitado de paz. Às 19hs daquele domingo de tantas emoções, estava eu, levado por Sérgio e Cláudia, nos portões do Clube Monte Líbano, local do coquetel, já lotado de damas em traje de noite e cavaleiros de terno, de bleizer, de bleizer branco, de sapato branco, sem gravata. Havia uma certa carnavalização brasileira no ar. Na entrada do clube, não me pediram o convite, apenas tive, como todo mundo, que passar pelo detetor de metais. Era uma multidão à espera do presidente do Líbano e eu era apenas mais um no meio daquela multidão, que falava árabe, francês, árabe misturado com francês, como sói acontecer na classe média libanesa, e o vernáculo. Eu reparava os semblantes e todos me pareciam familiares; vi até uma libanesa que se parece com minha cunhada Carlota, de origem portuguesa. Com quase uma hora de atraso, despontou o casal presidencial, ovacionado. Ouvimos o hino nacional do Líbano, que me emociou, apesar de não compreender as palavras cantadas, mas por pensar intensamente em meu pai, que estaria orgulhoso de mim, como representante da família; o hino nacional brasileiro foi cantado com plenas vozes. O presidente tomou da palavra, iniciando com um "boa noite", em bom português, e proferiu um discurso formal, em árabe, traduzido num telão. O coquetel era muito farto e, sobretudo, brasileiro, oferecendo de árabe alguns quitutes, como quibe e esfiha. Feito o discurso, o casal postou-se para o beija-mão. Enfretei uma longa fila e lá fui eu dizer meu nome e, em francês, o origem de minha família. Mais formal, de ambos os lados, impossível. Eu queria uma foto com o presidente, mas, na hora "h", não vi nenhum fotógrafo. Soube, depois, que Habibi, meu amigo de "orkut", me flagrara apertando a mão presidencial. Verei depois. Tendo estado face-a-face com o presidente do Líbano, só me restou romper na multidão para fazer caminho até à portaria, onde me esperavam Cláudia e Sérgio, meus reais anfitriões. Levo comigo a imagem, que ficou, o tempo todo, exibida no telão: duas mãos, formando um coração, no qual estava inscrita a frase: "O Líbano em nossos corações". Voltando para a minha nova casa no Rio, onde Cláudia me tinha recebido com um jantar totalmente árabe, despis-me das roupas protocolares e fui sonhar sobre meus momentos de glória libanesa. Na manhã seguinte, a Claúdia jogaria tarô para mim, quando pude ver que minha relação com o Líbano é ancestral e perene.

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