quarta-feira, 5 de maio de 2010

AMÉM, DE COSTA-GRAVAS

"Amém" (2002), de Costa-Gravas, não é apenas mais um filme sobre nazismo, que exterminou judeus, ciganos, deficientes físicos e homossexuais, tema abordadíssimo, no cinema contemporâneo, sobretudo quanto ao genocídio judaico. "Amém" filma a consciência, com seus dramas, mas, principalment, expõe, com imagens e interstícios, o silêncio da Igreja Católica com relação ao extermínio de milhões de judeus, praticado por Hitler. Não se apresentam torturas nem os horrores, que ficam subtendidos, através, por exemplo, do buraco de uma fechadura e, constantemente, por um trem, que atravessa, em alta velocidade, a tela inteira e que solta uma fumaça negra: aquele trem intempestivo vai para os campos de concentração. Há uma cumplicidade, velada e revelada pelo filme. Apenas um padre - um jesuíta -, justamente uma sociedade, considerada a mais arrojada, dentro do Catolicismo, que ousa enfrentar o Vaticano e expõe a Pio XII (nada piedoso)a tragédia que está acontecendo. A estrela de Davi, pregada na batina preta do Pe. Riccardo Fontana, simboliza uma reconciliação, talvez impossível, mas, quem sabe, sonhada. A palavra "Amém", da liturgia católica, é pronunciada por esse padre-herói, que não se resigna com os horrores nazistas, mas suplica misericórdia a Deus; é uma releitura do "Pai, pai, por que me abandonaste", gritado por Cristo, na cruz. No filme, a cruz é estrelada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário