domingo, 9 de maio de 2010
REQUIEM PARA BERTHA KLIGERMAN
Quinta-feira passada, Roseana Murray, "minha mais nova amiga de berçário", telefonou-me, convidando-me para almoçar em sua casa no dia das mães. Já, de há muito, nomeei-a minha "Idish Mamma" e, como tal, nos temos comportado, embora eu seja muito mais velho do que ela. Para o evento, preparei-me todo: vestiria linho, dos pés à cabeça, lembrando-me de outra amiga que diz que um homem elegante se reconhece porque usa roupas de linho. Na sexta-feira, Roseana me ligou, dizendo que o almoço fora antecipado para o sábado, porque ela deveria ir ao Rio ver sua mãe, internada em hospital. Como sempre, fui ler o "blog" de minha amiga-anfitriã e chorei ao ler sobre a agonia de sua mãe, cujo pulso já estava parado. No texto postado, a escritora dizia que as últimas palavras que a progenitora lhe dirijira foram: "Você está tão bonita!" Telefonei imediatamente à Roseana que me assegurou que a paela, feita por seu marido, Juan Arias, estava sendo preparada. Não querendo incomodar, num momento familiar tão delicado, o Juan, perguntei-lhe, por telefone, se minha presença não seria inconveniente. Ele insistiu que eu fosse almoçar em sua casa. Lá, brindamos, com vinho tinto espanhol, à Roseana e à sua mãe, que se apagava como uma vela e que, sem seus 89 anos, fora uma fogueira de amor maternal. Hoje, pela manhã, telefonei à Roseana a fim de saber como passara a noite e ela me deu a notícia de que sua mãe, ao lado das duas filhas, "fizera uma bela passagem". Com toda delicadeza, Bertha antecipara a partida para não marcar funebremente o "dia das mães". Lembrei-me de minha tia Laia que, para não me deixar triste no dia do meu aniversário, falecera dia 6 de setembro, véspera da comemoração do meu nascimento.Imediatamente, recapitulei todos os momentos da longa doença de Bertha, que foi assistida totalmente por sua irmã Alice e pelo carinho estremoso das filhas. Roseana e Evelynm são filhas exemplares, que deram à mãe toda a assistência possível, prolongando-lhe, com alegria, a existência. Guardo de Bertha as melhores lembranças e lições. Foi uma sábia. No meio de sua doença, que lhe consumia o corpo franzino, tinha sempre um sorriso e uma palavra oracular. Ela era só espírito de luz, iluminando a seu redor e a posteridade. Sinto-me parte dessa família amorosa e minhas lágrimas são de tristeza pela perda, mas também de alegria por ter conhecido, embora por pouco tempo, a Bertha Kligerman, figura ímpar e memorável. Parafraseio-a dizendo: "Roseana é bela".
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