De 20 de maio a 21 de junho - o Sol transita por Gêmeos: signo de AR, mutável. Pólens da primavera, ponte entre as estações.
A natureza geminiana e o devaneio poético
O céu de Gêmeos no hemisfério norte sempre anuncia o verão.
Estive na Itália, em junho de 2007, e de passagem por Orte, como sempre faço nos lugares que visito, não poderia deixar de saudar o Sol ao amanhecer.
A vista bucólica enevoada do alto do vale trazia a sensação de um tempo subjetivo de memórias ancestrais, que aos poucos coloriam a paisagem dos campos de aparência ainda medieval com a tênue luz de uma aquarela natural. O silêncio foi sendo quebrado por pingos de silvos dos pardais, que se espalhavam pelas poucas árvores à volta: bico de pena. Um pio aqui, outro ali, como as gotas de orvalho que se dissolvem na alegria do dia nascendo. E logo, como se despertassem uns nos outros uma espécie de orgia estridente e contagiante, dos trinados foram criando algazarras, balançando as copas das árvores, e voando em bando de uma árvore para outra, num diálogo que anunciava a iminente chegada do Sol.
Que através dos pássaros revoando, as árvores conversavam entre si, numa espécie de linguagem misteriosa, mais do que secreta, mística, sagrada, não tenho a menor dúvida. O que eu queria mesmo saber era o que estavam falando...
Tal é a natureza geminina:
Seu glifo é o número dois em romano, que representa a sua função multiplicadora. Tudo que passa por Gêmeos se dissemina. "Se tenho uma informação, e você tem outra. Quando trocamos, cada um fica com duas".
Às vezes, de forma bem didática, podemos fazer uma analogia entre esse signo e as borboletas, que pousam de flor em flor polinizando o jardim. As borboletas nasceram para ser livres e não se fixar por muito tempo em lugar algum. Para expressarem-se na leveza das múltiplas cores e formas como se as flores, através delas, se amasssem entre si, se desprendedo do caule e deixando suas raízes para se espalharem pelo campo.
De tão efêmera a sua existência, que um poeta extraiu, daí, a sua inspiração para conectar a borboleta à idéia da felicidade:
"A felicidade é como uma borboleta linda.
Corre-se atrás, ela corre.
Corre-se mais rápido ainda.
Apanha-se, ela morre."(Ratisbone)
Gêmeos pode também ser associado aos beija-flores ou colibris. Tem a elegância de um vôo leve e ligeiro e nunca se prende a nada. Você já viu um colibri comendo migalhas pelo chão? Nem muito menos sobrevivem em gaiolas. São simbolo de liberdade.
Feitos de ar, são o elemento de troca. Por vezes voláteis, outras vezes volúveis, pois o mesmo ar que um respira, respira o outro também. Através do ar somos UM, estamos em contato, em comunicação, em constante troca, ligados em nossa unicidade. E assim se encontram em todos os lugares, e em lugar algum ao mesmo tempo. De tão despreendidos chegam a ser displicentes, às vezes até consigo mesmos, pois sempre há um assunto novo, um novo interesse, alguma curiosidade. Assim como uma pequena abelha é capaz de encontrar uma única flor na campina, num raio de alguns quilômetros, para extrair-lhe o néctar, segue Gêmeos em busca da particularidade da beleza de cada um, e realça o que cada um tem de mais belo.
Mas, do modo como chegam, também se vão, assim como as flores jovens dão lugar à maturidade, Gêmeos cumpre a sua missão, nos vagalumes, pirilampos, que em relance trazem as estrelas do céu para terra, só para lembrar da nossa natureza estelar. Somos pó de estrelas... nascemos TODOS para brilhar, juntos! Solidarizar, dar a luz do próprio Sol. Centelhas de consciência, flashes de rara lucidez.
Gêmeos é representado na iconografia medieval por um menino e uma menina, o que justifica em algumas tradições ter a regência esotérica de Vênus. Hermes e Afrodite se misturam na natureza desse signo e se fundem nas múltiplas destrezas, da escrita, da pintura, da oratória, da inteligência criativa, da abertura para serem eternos aprendizes do ofício de ser humano.
sábado, 23 de maio de 2009
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