sexta-feira, 30 de abril de 2010

RONALDO MONTE, O POEMA DA LUA

Existem muitos poemas dedicados à lua. Não há poeta, creio, que já não tenha cometido ao menos um verso comovente para a lua. Desconfio que até os uivos dos lobos e cachorros sejam poemas dedicados à lua cheia.

É angustiante acompanhar a espera da noite por Álvaro de Campos, (talvez o mais fértil da legião que habita Fernando Pessoa), no poema “Dois excertos de odes”. Toda a angústia, nossa e do poeta, se acaba quando “no alto céu ainda claramente azul (...) a lua começa a ser real.”

Como ao poeta, a lua cheia sempre nos pega de surpresa. Não há quem não se espante ao vê-la, de repente, começando a ser real. Foi semelhante espanto, certamente, que minha neta sentiu na última lua cheia. E foi tanto espanto, que ela o quis repartir com sua mãe. Do alto dos seus dois anos e meio, levantou as mãos para apanhar a lua. Com a lua nas mãos, voltou-se para a mãe e lhe deu a lua de presente.

Sem saber de metáforas ou metonímicas, a menina fez a lua ser mais real em suas mãos do que era real solta no céu. Ela transformou a lua em presente e a deu de presente a quem mais amava.

Naquele momento, pelas mãos da menina, foi composto o mais belo poema que a lua cheia possa merecer.



Ilustração: Veruschka Guerra

Postado por Ronaldo Monte





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2 comentários:

  1. Sou leitor assíduo dos Contos do Professor e Poeta Ronaldo Monte no Jornal ContraPonto em João pessoa /PB.

    Não é prolixo e não faz observações que não valem o esforço da leitura.É econômico com o tempo e respeita a paciência do leitor.
    Torna-se uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela.

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  2. Ecoa Mário de Andrade: "Mamãe, me dá esta lua!"

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