domingo, 31 de maio de 2009

Un aforismo de Norberto Chaves

La música vale por la profundidad del vacío que deja cuando calla

Qual o texto mais antigo em português?

Por Luiz Fujita

É um texto de 1175, chamado Notícia de Fiadores, mas o duro é entendê-lo! A semelhança com o português atual é pouquíssima. Até o jeito como o patrício escrevia as letras é complicado! Mas os lingüistas identificam vários elementos nele que o caracterizam como português antigo, ou galego-português, e o diferem do latim, ainda muito empregado na época. O texto lista os fiadores de um tal de Pelágio Romeu, um português que, apesar de nobre, não era rico. O documento foi descoberto pela pesquisadora Ana Maria Martins, da Universidade de Lisboa, em 1999. Ela o encontrou no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, enquanto pesquisava para sua tese de doutorado. Como o local possui um imenso acervo inexplorado, ainda podem pintar outros documentos mais antigos. Confira ao lado a versão original do velho texto. E depois, claro, sua "tradução"!
Texto Original
Noticia fecit pelagio romeu de fiadores Stephano pelaiz .xxi. solidos lecton .xxi. soldos pelai garcia .xxi. soldos. Güdisaluo Menendici. xxi soldos /2 Egeas anriquici xxxta soldos. petro cõlaco .x. soldos. Güdisaluo anriquici .xxxxta. soldos Egeas Monííci .xxti. soldos [i l rasura] Ihoane suarici .xxx.ta soldos /3 Menendo garcia .xxti. soldos. petro suarici .xxti. soldos Era Ma. CCaa xiiitia Istos fiadores atan .v. annos que se partia de isto male que li avem
Versão modernizada
Pelágio Romeu lista aqui seus fiadores: para Pedro Colaço, devo dez contos; para Estevão Pais, Leitão, Paio Garcia, Gonçalo Mendes, Egas Moniz, Mendo Garcia e Pedro Soares, deve vinte contos; para João Soares, trinta contos, e para Gonçalo Henriques, quarenta contos. Agora estamos em 1175, e só daqui a cinco anos vou ter que pagar esses patrícios!

Como são feitos os dicionários?

O primeiro passo é preparar um grande inventário de palavras, usando como material obras literárias, jornais, revistas, bulas de remédio, manuais técnicos e praticamente tudo relacionado à língua corrente. É claro que o levantamento não começa do zero, pois dicionários antigos também são utilizados para abastecer o gigantesco arquivo. As milhões de palavras que aparecem nesse material são então cadastradas com a ajuda de um leitor óptico, um tipo de scanner, que passa esses dados para a memória de um computador. Novamente com o auxílio da informática, o passo seguinte é cruzar as vezes que cada vocábulo surge, descobrindo quais são os mais freqüentes na língua e que efetivamente serão publicados.
"Uma língua tem milhões de palavras, das quais apenas uma parte fará parte do dicionário", diz o lexicógrafo (autor de dicionários) Mauro de Salles Villar, diretor do Instituto Antônio Houaiss, entidade responsável por um dos principais dicionários da língua portuguesa, o Houaiss, que possui quase 230 mil verbetes. Após serem definidas as palavras que entrarão na obra, é hora de preparar o texto dos seus significados, além de pesquisar outras informações que podem complementar os verbetes, como a origem do vocábulo e a data em que ele passou a ser usado na língua. Todo esse trabalho pode levar anos ou até décadas e, invariavelmente, envolve uma grande equipe de pesquisadores. O dicionário Houaiss levou 15 anos para ser feito, contando com mais de 200 colaboradores e lexicógrafos do Brasil e de outros países de língua portuguesa.
O fruto de tanto trabalho
Além do significado do vocábulo, um verbete traz outras informações curiosas
1. A abreviação s.m. quer dizer "substantivo masculino". Ou seja, a classificação da palavra na língua portuguesa
2. Essas siglas informam quando a palavra entrou no idioma, no ano 870; c.f. quer dizer "confronte", indicando a necessidade de outra pesquisa para maior precisão. Já JM3 mostra de onde saiu a data, um dicionário etimológico escrito por José Pedro Machado
3. Cada número em negrito, como esse 1, indica um sentido diferente que a palavra analisada possui
4. MASTZOO é a abreviação de "mastozoologia", ou estudo dos mamíferos, classe da biologia da qual fazem parte os cavalos
5. A abreviação fam. indica "família", que é uma das categorias em que os animais são divididos nas classificações da biologia
6. As iniciais p.metf. pej. indicam "por metáfora pejorativa". Nesse trecho do verbete são apresentados usos da palavra cavalo como sinônimo de insultos
7. A letra P vem de Portugal. Nessa parte do verbete será apresentado um outro significado de cavalo específico para aquele país
8. AGR é a abreviação de "agricultura", pois, além de designar um animal, a palavra cavalo também indica um tipo de enxerto
9. ETIM lat. se refere a "campo de etimologia latina". Ou seja, aqui se mostra a origem da palavra cavalo, que vem do latim caballus
10. Já o trecho ‘cavalo castrado, esp. cavalo de trabalho’ aponta o significado do termo na origem latina. A abreviação esp. é usada para "especialmente"
11. A abreviação f.hist. resume "forma histórica". Aqui são mostradas as diferentes maneiras de escrever a palavra cavalo ao longo dos séculos, desde o ano 870

Vitorinha e seu Vô, em conversação onírica

- Você sonhou noite passada?
- Sim.
- O que você sonhou?
- O sonho.

A CURIOSIDADE É O PRINCÍPIO DA SABEDORIA

Qual a maior palavra da língua portuguesa?
por Marina Motomura
-Segura aí: é pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. Abaixo, você vai ver que o significado desse palavrão de 46 letras é simples. O vocábulo ganhou registro definitivo em 2001, quando apareceu no dicionário Houaiss e fez outras palavras enormes comerem poeira. Antes, o título pertencia ao advérbio "anticonstitucionalissimamente", que tem 29 letras e descreve algo que é feito contra a constituição. O vice era "oftalmotorrinolaringologista", com 28 letras, que se refere ao especialista nas doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta. O Houaiss é o campeão de palavras na língua portuguesa, com 228 500 verbetes. Ele não traz, por exemplo, palavras da química que têm dezenas de sílabas, usadas para definir compostos. Uma delas é tetrabromometacresolsulfonoftaleína, que tem 35 letras e indica um corante usado em reações. "Palavras como essa são muito específicas e só aparecem em glossários de terminologia química", diz o filólogo Mauro Villar, do Instituto Antônio Houaiss.
Olha o palavrão
Entenda cada parte desse vocábulo de 46 letras
Pnmeumoultramicroscópico
Pneumo - Pulmão
Ultra - Fora de
Microscópico - Muito pequeno
Silicovulcanoconiótico
Sílico - Vem de silício, um elemento químico presente no magma vulcânico
Vulcano - Vindo de um vulcão
Coniótico - Vem de coniose, doença causada por inalação de pós em suspensão no ar
Tudo isso junto...
Pessoa que sofre de uma doença pulmonar, a pneumoconiose, causada pela aspiração de cinzas vulcânicas!

AFETO FAMILIAR

Hoje, telefonei à minha única tia viva, Tia Ziza, que tem belos 82 anos, recentmente celebrados, e a quem, como representante legítima de minha saudosíssima Mãe, sempre peço a bênção. De seu marido, o Tio Olímpio, da mesma idade, também lhe tomo a bênção; no telefonema de hoje, ele me repetia: "Você é um menino de ouro. Você é um menino de ouro". Esse espontâneo elogio me faz imensamente feliz, reportando-me à minha abençoada infância . Tentarei conservar uma pureza de menino. Quanto ao "ouro", devo-lhe ao tesouro de minha Família.

sábado, 30 de maio de 2009

BARTHESIANAMENTE FALANDO

“Não há nenhum lugar sem linguagem: não podemos opor a linguagem, a verbal, e até a verbosa a um espaço puro, digno, que seria o espaço do real e da verdade, um espaço fora da linguagem. Tudo é linguagem, ou mais precisamente a linguagem está em todo o lado. Atravessa todo o real; não há real sem linguagem. (...) Tentamos criar com a linguagem burguesa as suas figuras de retórica, os seus modos sintáticos, os seus valores de palavras, uma nova tipologia da linguagem: um espaço novo em que o sujeito da escrita e o da leitura não têm exatamente o mesmo lugar. Este é todo o trabalho da modernidade” (BARTHES, Roland. O grão da voz, Lisboa: Edições 70, 1981, p. 159)

GRAFITTI HUMANOS, DEMASIADAMENTE HUMANOS

"JESUS ME DÊ FENDI"

"PEDINDO COM FÉ, DEUS DOBLÔ"

RILKEVER!

ttp://www.youtube.com/watch?v=DWk5ZP4xrvQ

SECRET LOVE / QUE SERA SERA (WHATEVER WILL BE, WILL BE)

Once I had a secret love
That lived within the heart of me
All too soon my secret love
Became impatient to be free
So I told a friendly star
The way that dreamers often do
Just how wonderful you are
And why I'm so in love with you
Now I shout it from the highest hills
Even told the golden daffodils
At last my hearts an open door
And my secret love's no secret anymore
Now I shout it from the highest hills
Even told the golden daffodils
At last my hearts an open door
And my secret love's no secret anymore

QUE SERA SERA (WHATEVER WILL BE, WILL BE)
When I was just a little girl
I asked my mother,
What will I be
Will I be pretty, will I be rich
Here's what she said to me
Que Sera, Sera,
Whatever will be, will be
The future's not ours to see
Que Sera, Sera
What will be, will be
When I grew up and fell in love
I asked my sweetheart what lies ahead
Will we have rainbows, day after day
Here's what my sweetheart said
Que Sera, Sera,
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera
What will be, will be
Now I have children of my own
They ask their mother, what will I be
Will I be handsome, will I be rich
I tell them tenderly
Que Sera, Sera,
Whatever will be, will be
The future's not ours, to see
Que Sera, Sera
What will be, will be
Que Sera, Sera

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Film Monsieur Max

- Je ne suis pas romancier. Je suis poète.
- Et quelle en est la différence?
- Un romancier dira: "la robe est verte". Un poète écrira: "Une robe d'herbes"

Natália, filha de Vinícius de Moraes

Bueno, mi queridísimo Latuf, voy a seguir con mis niños: Mimnermo que prefiere morir a volverse viejo y perder el amor, Alceo que busca en el vino el remedio para superar la tristeza de la vejez y el terror a la muerte; con mi querido Horacio que se debate entre el carpe diem y eláurea mediocritas y con otros más que llenan mi alma y me ayudan a vivir. te quiero entrañable e incondicionalmente. Aletheia

FRENTE AL MAR, POEMA DE ALFONSINA STORMI (Capriasca, Suíça- Mar del Plata, Argentina,1892-1938)

Oh mar, enorme mar, corazón fiero
De ritmo desigual, corazón malo,
Yo soy más blanda que ese pobre palo
Que se pudre en tus ondas prisionero.
Oh mar, dame tu cólera tremenda,
Yo me pasé la vida perdonando,
Porque entendía, mar, yo me fui dando:
«Piedad, piedad para el que más ofenda».
Vulgaridad, vulgaridad me acosa.
Ah, me han comprado la ciudad y el hombre.
Hazme tener tu cólera sin nombre:
Ya me fatiga esta misión de rosa.
¿Ves al vulgar?
Ese vulgar me apena,
Me falta el aire y donde falta quedo,
Quisiera no entender, pero no puedo:
Es la vulgaridad que me envenena.
Me empobrecí porque entender abruma,
Me empobrecí porque entender sofoca,
¡Bendecida la fuerza de la roca!
Yo tengo el corazón como la espuma.
Mar, yo soñaba ser como tú eres,
Allá en las tardes que la vida mía
Bajo las horas cálidas se abría...
Ah, yo soñaba ser como tú eres.
Mírame aquí, pequeña, miserable,
Todo dolor me vence, todo sueño;
Mar, dame, dame el inefable empeño
De tornarme soberbia, inalcanzable.
Dame tu sal, tu yodo, tu fiereza.
¡Aire de mar!... ¡Oh, tempestad!
¡Oh enojo! Desdichada de mí, soy un abrojo,
Y muero, mar, sucumbo en mi pobreza.
Y el alma mía es como el mar, es eso,
Ah, la ciudad la pudre y la equivoca;
Pequeña vida que dolor provoca,
¡Que pueda libertarme de su peso!
Vuele mi empeño, mi esperanza vuele...
La vida mía debió ser horrible,
Debió ser una arteria incontenible
Y apenas es cicatriz que siempre duele.
//

POEMAS DE ALEJANDRA PIZARNIK (Buenos Aires, 1936-1972)

A LA ESPERA DE LA OSCURIDAD
Ese instante que no se olvida
Tan vacío devuelto por las sombras
Tan vacío rechazado por los relojes
Ese pobre instante adoptado por mi ternura
Desnudo desnudo de sangre de alas
Sin ojos para recordar angustias de antaño
Sin labios para recoger el zumo de las violenciasperdidas en el canto de los helados campanarios.
Ampáralo niña ciega de alma
Ponle tus cabellos escarchados por el fuego
Abrázalo pequeña estatua de terror.
Señálale el mundo convulsionado a tus pies
A tus pies donde mueren las golondrinas
Tiritantes de pavor frente al futuro
Dile que los suspiros del mar
Humedecen las únicas palabras
Por las que vale vivir.
Pero ese instante sudoroso de nada
Acurrucado en la cueva del destino
Sin manos para decir nunca
Sin manos para regalar mariposas
A los niños muertos

LA ENAMORADA
esta lúgubre manía de vivir
esta recóndita humorada de vivir
te arrastra alejandra no lo niegues.
hoy te miraste en el espejo
y te fue triste estabas sola
la luz rugía el aire cantaba
pero tu amado no volvió
enviarás mensajes sonreirás
tremolarás tus manos
así volverá tu amado
tan amado oyes la demente sirena
que lo robó el barco con barbas de espuma
donde murieron las risas
recuerdas el último abrazo
oh nada de angustias
ríe en el pañuelo
llora a carcajadas
pero cierra las puertas de tu rostro
para que no digan luego
que aquella mujer enamorada
fuiste tú
te remuerden los días
te culpan las noches
te duele la vida
tanto tanto desesperada
¿adónde vas?
desesperada ¡nada más! (Alejandra Pizarnik, de La última inocencia, 1956)

LA JAULA
Afuera hay sol.
No es más que un sol pero los hombres lo miran y después cantan.
Yo no sé del sol.
Yo sé la melodía del ángel y el sermón caliente del último viento.
Sé gritar hasta el alba cuando la muerte se posa desnuda en mi sombra.
Yo lloro debajo de mi nombre.
Yo agito pañuelos en la noche y barcos sedientos de realidad bailan conmigo.
Yo oculto clavos para escarnecer a mis sueños enfermos.
Afuera hay sol.
Yo me visto de cenizas.

LEJANÍA
Mi ser henchido de barcos blancos.
Mi ser reventando sentires.
Toda yo bajo las reminiscencias de tus ojos.
Quiero destruir la picazón de tus pestañas.
Quiero rehuir la inquietud de tus labios.
Porqué tu visión fantasmagórica redondea los cálices de estas horas?

NOCHE
correr no sé donde
aquí o allás
ingulares recodos desnudos
basta correr!
trenzas sujetan mi anochecer
de caspa y agua colonia
rosa quemada fósforo de cera
creación sincera en surco capilar
la noche desanuda su bagaje
de blancos y negros
tirar detener su devenir

SALVACIÓN
Se fuga la isla.
Y la muchacha vuelve a escalar el viento
y a descubrir la muerte del pájaro profeta.
Ahora es la carne la hoja la piedra perdidas en la fuente del tormento
como el navegante en el horror de la civilización
que purifica la caída de la noche.
Ahora la muchacha halla la máscara del infinito y rompe el muro de la poesia

LA ÚLTIMA INOCENCIA
Partir en cuerpo y alma partir.
Partir deshacerse de las miradas piedras opresoras
que duermen en la garganta.
He de partir
no más inercia bajo el sol
no más sangre anonadada
no más fila para morir.
He de partir
Pero arremete ¡viajera!

EL DESPERTAR a León Ostrov
Señor La jaula se ha vuelto pájaro
y se ha volado y mi corazón está loco porque aúlla a la muerte
y sonríe detrás del viento a mis delirios
Qué haré con el miedo
Qué haré con el miedo
Ya no baila la luz en mi sonrisa
ni las estaciones queman palomas en mis ideas
Mis manos se han desnudado
y se han ido donde la muerte enseña a vivir a los muertos
Señor
El aire me castiga el ser
Detrás del aire hay mounstros
que beben de mi sangre
Es el desastre
Es la hora del vacío no vacío
Es el instante de poner cerrojo a los labios
oír a los condenados gritar
contemplar a cada uno de mis nombres ahorcados en la nada.
Señor Tengo veinte años
También mis ojos tienen veinte años
y sin embargo no dicen nada Señor
He consumado mi vida en un instante
La última inocencia estalló
Ahora es nunca o jamás o simplemente fue
¿Còmo no me suicido frente a un espejo
y desaparezco para reaparecer en el mar d
onde un gran barco me esperaría con las luces encendidas?
¿Cómo no me extraigo las venas
y hago con ellas una escala para huir al otro lado de la noche?
El principio ha dado a luz el final
Todo continuará igual
Las sonrisas gastadas
El interés interesado
Las preguntas de piedra en piedra
Las gesticulaciones que remedan amor
Todo continuará igual
Pero mis brazos insisten en abrazar al mundo
porque aún no les enseñaron que ya es demasiado tarde
Señor Arroja los féretros de mi sangre
Recuerdo mi niñez cuando yo era una anciana
Las flores morían en mis manos
porque la danza salvaje de la alegría les destruía el corazón
Recuerdo las negras mañanas de sol
cuando era niña es decir ayer es decir hace siglos Señor
La jaula se ha vuelto pájaro
y ha devorado mis esperanzas Señor
La jaula se ha vuelto pájaro
Qué haré con el miedo

EXILIO
a Raúl Gustavo Aguirre
Esta manía de saberme ángel,
sin edad, sin muerte en qué vivirme,
sin piedad por mi nombre ni por mis huesos que lloran vagando.
¿Y quién no tiene un amor?
¿Y quién no goza entre amapolas?
¿Y quién no posee un fuego, una muerte, un miedo, algo horrible,
aunque fuere con plumas aunque fuere con sonrisas?
Siniestro delirio amar una sombra.
La sombra no muere.
Y mi amor sólo abraza a lo que fluye como lava del infierno:
una logia callada,
fantasmas en dulce erección,
sacerdotes de espuma, y sobre todo ángeles,
ángeles bellos como cuchillos que se elevan en la noche
y devastan la esperanza.

PEREGRINAJE
a Elizabeth Azcona Cranwell
Llamé,
llamé como la náufraga dichosa
a las olas verdugas que conocen el verdadero nombre de la muerte.
He llamado al viento, le confié mi ser.
Pero un pájaro muerto vuela hacia la desesperanza
en medio de la música
cuando brujas y flores cortan la mano de la bruma.
Un pájaro muerto llamado azul.
No es la soledad con alas,
es el silencio de la prisionera,
es la mudez de pájaros y viento,
es el mundo enojado con mi risa
o los guardianes del infierno
rompiendo mis cartas.
He llamado, he llamado.
He llamado hacia nunca.

CENIZAS
La noche se astilló de estrellas
mirándome alucinada el aire arroja odio embellecido su rostro con música.
Pronto nos iremos
Arcano sueño antepasado de mi sonrisa el mundo está demacrado
y hay candado pero no llaves y hay pavor pero no lágrimas.
¿Qué haré conmigo?
Porque a Ti te debo lo que soy
Pero no tengo mañana
Porque a Ti te... La noche sufre.

ANILLOS DE CENIZA
a Cristina Campo
Son mis voces cantando para que no canten ellos,
los amordazados grismente en el alba,
los vestidos de pájaro desolado en la lluvia.
Hay, en la espera, un rumor a lila rompiéndose.
Y hay, cuando viene el día, una partición de sol en pequeños soles negros.
Y cuando es de noche, siempre,
una tribu de palabras mutiladas busca asilo en mi garganta
para que no canten ellos, l
os funestos, los dueños del silencio.

MADRUGADA
Desnudo soñando una noche solar.
He yacido días animales.
El viento y la lluvia me borraron como a un fuego,
como a un poema escrito en un muro.

CUARTO SOLO
Si te atreves a sorprender la verdad de esta vieja pared;
y sus fisuras, desgarraduras, formando rostros, esfinges, manos,
clepsidras, seguramente vendrá una presencia para tu sed,
probablemente partirá esta ausencia que te bebe.

FORMAS
no sé si pájaro o jaula mano asesina o joven muerta jadeando en la gran garganta oscura o silenciosa pero tal vez oral como una fuente tal vez juglar o princesa en la torre más alta.

SOMBRAS DE LOS DÍAS A VENIR
a Ivonne A. Bordelois
Mañana me vestirán con cenizas al alba,
me llenarán la boca de flores,
Aprenderé a dormir en la memoria de un muro,
en la respiració de un animal que sueña.

POEMAS DE JUAN GELMAN, POETA ARGENTINO

LÍMITES

Quién dijo alguna vez: hasta aquí la sed,
hasta aquí el agua?

Quién dijo alguna vez: hasta aquí el aire,
hasta aquí el fuego?

Quién dijo alguna vez: hasta aquí el amor,
hasta aqui el odio?

Quién dijo alguna vez: hasta aqui el hombre,
hasta aquí no?

Sólo la esperanza tiene las rodillas nítidas.
Sangran.

EPITAFIO

Un pájaro vivía en mí.
Una flor viajaba en mi sangre.
Mi corazón era un violín.
Quise o no quise. Pero a veces
me quisieron. También a mi
me alegraban: la primavera,
las manos juntas, lo feliz.
Digo que el hombre debe serlo!
Aquí yace un pájaro.
Una flor.
Un violín.

JUAN ARIAS, CORRESPONDE, NO BRASIL, DO JORNAL ESPANHOL "EL PAIS", DIXIT

Bíblicamente, Latuf querido, el más anciano es el más sabio, el árbol más cargado de frutos, la estrella aun viva en el firmamento que vigila la danza sagrada de las más jóvenes. Sin los ancianos, los jóvenes perderían su identidad. Somos el espejo de la memoria, el ancla para que puedan remansar los barcos y sus redes.Un abrazo saquaremense, Juan

LILIANA CARMINHO, ARTISTA PLÁSTICA DE FARO, PORTUGAL

Latuf, Este discurso do seu aluno, comoveu-me muito... comoveu, porque ele traduziu exatamente a maneira como se oferece e permanece no coração de quem consigo se cruza. Quero tambem assinar por baixo.Saudades e saudações de alem-mar Liliana

EU, DECANO DOS POETAS DE SAQUAREMA

Ontem, celebrou-se, no Teatro Municipal de Saquarema, o centenário de nascimento de José Bandeira, poeta saquaremense, pescador, funcionário público, seresteiro, musicista e, sobretudo, compositor do belo Hino de nossa cidade, brilhantemente executado, na abertura do evento, pela banda musical do Colégio Oscar de Macedo Soares, sob a regência do Vinícius, neto do homenageado. Com a iniciativa digna de encômios do jovem vereador Rafael Pinheiro, o apoio da Secretária de Cultura e Educação - a Profa. Ana Paula - , do vereador Cabral - presidente da Câmara Municipal - e do Procurador Geral do Município, o poeta Antônio Francisco Alves Neto ( Chico) -, do ex-prefeito Jurandyr - poeta da retórica -, a família Bandeira, tendo à frente a matriarca Maria José, reuniu, sob a batuta da jornalista e editora Dulce Tupy, uma seleta platéia, que aplaudiu fervorosamente os lindos vídeos, feitos pelo neto Augusto, o Segundinho. Emocionou-me muitíssimo ver, naquele glorioso palco, Nelson dos Santos, o Nelsinho pintor, que mais do que com suas parcas e exatas palavras, falou com seus olhos, pintados com o azul do mar de Saquarema, e com aquele sorriso, misto de ternura e sabedoria de filho de pescador. Convocado para dizer algo, fui até ao palco e disse, mais ou menos, o seguinte: que, quando minha querida Dulce veio até minha casa trazer o convite para a efeméride, dela ouvi uma frase, pronunciada pela Zezé, segundo a qual eu sou "o mais velho poeta de Saquarema". Adorei o epíteto que, de imediato, me fez sentir-me um Matusalém e um Noé, saído da arca com todos os bichos da Terra. Comecei, então, a relacionar os poetas de Saquarema, cidade-receptáculo de artistas de várias palhetas e linguagens. À frente da lista, está Alberto de Oliveira - Príncipe dos Poetas Parnasianos Nacionais -, seguido por Walmir Ayala -, saudosíssimo e com quem convivi intensamente -, José Maria Delgado Tubino - um extraordinário personagem, diplomata e cuja casa, em Itaúna, foi construída sobre troncos de árvore -, Roseana Murray - para mim, crítico literário e professor-universitário, a melhor poeta atualmente no Brasil -, Juan Arias - jornalista internacional -, Camilo Mota, jornalista do excelente "Poiésis" -, João Costa - trovador inveterado, que teve, alguns anos, o único sebo da Região dos Lagos, por mim freqüentado com euforia -, Marinho - jornalista e poeta de sensualidade marítima -, Ana Maiolino - enfermeira que não consegue nos curar das saudades -, e, como chave de ouro de minha improvisada lista -, Chico, o mais jovem poeta de Saquarema. Face ao elenco poético saquaremense, vi-me, então, como o mais antigo da Sociedade dos Poetas Vivos de Saquarema, onde a imagem (Bandeira) de José Bandeira nos inspira e nos incentiva a criar poemas em seu próprio habitat e no lugar mesmo das Musas.

Em Mauá-RJ, Restaurante Babel, lugar de todos os sabores

Oficina de gastronomia e arte

Apresenta:

Cozinhando para amigos
Dia 02 de junho às 19:00 hs
Workshop de culinária com o casal de chefs Dani Keiko e André Murray, do estrelado restaurante Babel, em Visconde de Mauá.

O curso ensina cardápios completos, buscando a praticidade de poder preparar tudo com antecedência e também envolver os convidados em algumas preparações.
A harmonização de vinhos com os pratos também será um alvo importante do Workshop e conseqüentemente, um ponto alto na sua cozinha para amigos.




Oficina de gastronomia e arte

Av Feliciano Sodré 409
fone - (24) 3354-5936/99770152
email: andre@babelrestaurante.com
Cozinhando para amigos



Menu

Focaccia(Chardonnay)
Pão rústico italiano com sal grosso e alecrim
Azeite aromatizado de pimentão
Azeite espanhol extra-virgem aromatizado com pimentão vermelho assado
Cevicce(espumante brut)
Peixe de carne branca temperado a moda peruana, com limão, cebola roxa,coentro, pimenta e azeite
Roastbeef ao mostarda com risotto de malbec(malbec)
Filé mignon assado em crosta ervas de Provence, acompanhado por molho de mostarda e mel e risotto de vinho tinto
Tarte tatin(Late Harvest)
Famosa torta de maças francesa servida com chantilly fresco aromatizado com canela


As aulas terão duração aproximada de 3 horas, e está incluído degustação dos pratos preparados e uma taça de vinho harmonizada com o prato principal, além da apostila com as receitas.
Serão apenas 12 alunos em cada turma e a aula é workshop, ou seja, com as mãos na massa.
Os alunos devem usar camiseta branca e sapato sem salto, fechado.
O valor de cada aula é de R$ 130,00 por aluno, e o pagamento é efetuado no ato da reserva.










Oficina de gastronomia e arte

Av Feliciano Sodré 409
fone - (24) 3354-5936/99770152
email: andre@babelrestaurante.com

Querido Latuflâneur, me escribe Jorge Lovisolo

Glosando a Cortázar, bien podría decir que por ahí anda suelto un autonauta de la cosmopista. Flâneurea el boulevard de los afectos, antes de exteriorizar sus sentimientos los aromatiza en un cofre de sándalo, se esconde tras el tul de agua de una cascada para espiar el mundo, pega las estampillas en el margen superior izquierdo del sobre, va a visitar a un amigo y a mitad de camino advierte que se había quedado en su casa, conserva helados en el microondas y calienta café en freezer, profesa el culto de la conversación en ese tiempo cremoso rehacio al reloj, dice que los caballos ladran y los perros relinchan, compra muchos diarios del mismo día para cuando ya no haya, se envuelve el cuello con una bufanda arafatiana para que haga frío, considera que el respetuoso silencio es la única literatura digna de tener en cuenta, le place cumplir muchos años en un solo día, piensa que quien viene al mundo para no perturbar nada no merecen respeto ni consideración, le parecen irreverentes las improvisaciones no maduradas, cultiva la política del individuo máximo y del Estado mínimo, tiene la convicción de que lo único que sabemos de Edipo es que no tuvo el complejo, le encantan los trombones desafinados de la banda municipal, cava en el futuro para asegurarle un largo porvenir, ama las más pacíficas de las conjunciones adversativas y desdeña las afirmaciones concluyentes, le presta suma atención al punto muerto que precede al nuevo movimiento del péndulo, le place modelar muñequitos de mazapán para postre de los monitos enjaulados en el zoo, se jacta de tener un sosías que no se le parece, pero eso sí, por sabre todas las cosas, celebra la vida.Si no me equivoco, ese flâneur sos vos.Un abrazo. Jorge

quarta-feira, 27 de maio de 2009

SINAL FECHADO, DE PAULINHO DA VIOLA

Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe ...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona ?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?Quanto tempo... pois é...
(pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...Eu espero você
Vai abrir...Por favor, não esqueça,
Adeus...

DIÁLOGO AMOROSO

" A MINHA VIDA É PLENA PORQUE SEI QUE SOU AMADO".

A MINHA É PLENA PORQUE AMO.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pai, Neta e Avô!

Otavinho, meu filho, sempre me chamou pelo meu prenome, Latuf, emitindo a mais suave das músicas que meus ouvidos jamais ouviram. Ontem, disse ele em sua casa: "Vou buscar Latuf", ao que lhe fez observar sua filhota Vitória Latifa, de quatro aninhos: "Pai, chama de pai a seu pai!"

NATALIA RUIZ DE LOS LLANOS CUMPLE AÑOS, MI ADORADA ALETHEIA

Latufestejando: No sabés lo que estuvo mi fiestita de cumpleaños: IMPRESIONANTE!!!!!!!! Hemos bailado sin parar durante 5 horas. Toda la música de los 70, 80 y 90. Te cuento que pedí, expresamente, que pusieran música brasilera... Ay!!!!! me sentía toda una carioca que gritaba por micrófono: Saravá!!!! Paso a comentarte: la comida fue una gustatio romana que preparé yo solita: quesos saborizados, puré de garbanzo, lentejas, porotos, berenjenas, aceitunas y todas esas comiditas que disfrutaban los romanos, allá, por el siglo I d.c. Parecía la cena de Trimalción. El salón estaba adornado con unas guirnaldas de papeles de todos colores que mi sirí amarelo me ayudó a hacer. La gente llegaba con alcohol, mucho alcohol, es decir, terminamos poseídos por el divino Baco. Me he divertido tanto, la pasé tan bien. Por supuesto no faltaron comentarios de personas que criticaron pequeños desbandes (un pingurso que se dormía, otro que se caía en la pista de baile), pero bueno, tal vez no entendieron que era él, Dioniso, que nos brindaba un segundo, y sólo uno, de libertad absoluta.En el momento de soplar las velas, Vinicius llegó hasta mí. Te comento que el año pasado soplé por última vez las velas con mi amiga del alma que murió al mes siguiente. Yo cumplo los años el 24 de mayo y ella el 25. Durante 35 años yo soplé las velas a las 23, 59 para que ella lo haga a las 00: 01. Este año me dejó sola. Entonces encargué dos tortas, a una le puse una vela naranja (era la mía), la otra tenía una vela verde (era la suya). Reactivé nuestro ritual, era la forma de que volviera a mí en ese eterno presente propio del tiempo mítico. Y aquí llegó Vinicius, porque después de apagar mi vela, tomé el micrófono y dije: dice Vinicius: "Es mejor ser alegre que ser triste... para hacer un samba con belleza es preciso un bocado de tristeza". Ése fue mi bocado de tristeza: terrible, durísimo, pero fue la condición necesaria para que llegue la alegría: SARAVÁ ¿no? A partir de aquí todo fue o mais maravilhoso do mundo... Aletheia fue una verdadera aletheia... Hoy cuando desperté me encuentro con tu mail... y descubro que te quiero porque me has conmovido... y mirá, sólo hicieron falta dos frases "concluyentes":"Aletheia, me hiciste llorar. Esto es mi vida"."Con seu nascimento, o mundo terá ficado ainda mais maravilhoso" A la primera respondo: vos me hiciste llorar... de emoción. Tu dictum opacó las evaluaciones académicas más sobresalientes. Nada tiene más valor para mí que tus palabras.A la segunda respondo: Vos has nacido para que éste, mi mundo, sea aún más maravilloso. La danza del fuego y Babra fueron mis dos grandes regalos. GRACIAS LATUFESTEJANDO, LATUFUEGO, LATUFITO.... Aletheia

domingo, 24 de maio de 2009

MARIO VARGAS LLOSA, NO VERBETE SOBRE EUCLIDES DA CUNHA, DO DICIONÁRIO AMOROSO DA AMÉRICA LATINA

"Isto é talvez o mais fascinante da criação literária (a criação artística em geral): saber que, por meio desse processo do qual sai um romance, uma obra teatral ou um poema, alguma coisa passa a fazer parte do mundo, algo que nós - que o escrevemos - fomos capazes de produzir, mas no qual obviamente entraram outras mãos invisíveis que colaboraram e imprimiram uma certa orientação, e em algum momento desviaram o curso previsto, e no qual algumas vezes o resultado final foi uma supresa absoluta para o próprio autor".

P. 125

CARLOS CEIA SOBRE A POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN, NO LIVRO Iniciação aos mistérios da poesia de Sophia

O mar de Sophia é fundado na liberdade de navegação, mas o Domínio marítimo onde a navegação poética é possível começa por se confinar à Granja, ao norte de Portugal, ao Atlântico e, depois de Livro Sexto, ao Algarve, ao Mediterrâneo e ao mar Egeu. Os limites parecem bem traçados, embora neles possamos reconhecer o espaço suficiente para permitir o devaneio do Poeta. Sophia podia, aliás, aproveitar o nome de um dos seus livros, Navegações, para intitular toda a sua obra poética. (CEIA, 1996, p. 61-62)

... É ainda Carlos Ceia quem diz que essa trajetória de navegação sophiana
tenta negar qualquer aproximação a uma filosofia do absoluto, o que pressuporia recusar ao herói o regresso triunfante à pátria e fazer dele um perpétuo explorador de oceanos, debaixo de céus infindáveis. Mas Sophia parecer ter sempre necessidade de regressar...
(CEIA, 1996, p. 63)

Jorge Lo Vi Solo, siempre!

Si seguís insistiendo con eso de" poeta", terminaré creyéndomelo. Acorralado por los conceptos, carezco de talento para volar.Tenía que decírtelo: las verdades calladas son venenosas.Aquí, el poeta de la vida lírica sos vos. Tengo pruebas. Aunque tratar de probarlo es contraproducente.Con todo mi afecto. Jorge

MARGARETH, MARGARIDA, FLOR MINEIRA, TRANSPLANTADA PARA A ALEMANHA

Oi Latufessor, Latuf-de-muitos-ofícios, Latuf que como camaleão se adapta a cada situação!

Já havia visitado este blog maravilhoso, até o presente momento havia omitido a minha opinião, como se diz em alemão "Es ist die höchste Zeit" (em outras palavras, não dá mais prá segurar: Explode coração!
TENHO QUE ELOGIAR E OFERECER OS LOUROS A QUEM DE DIREITO É, é o melhor que li até hoje!!!
Um abraço, desta humilde professorinha, Margareth.

Laurindo Almeida (1917-1995), segundo Jorge Lovisolo, filósofo argentino contemporâneo

Escuchar a Laurindo Almeida es como pasarle el cepillo a contrapelo a toda la historia de la música. Las disonancias de sus acordes son caricias insinuadas. Brasil está enredado en sus cuerdas. Y Rio de Janeiro se entrega, manso, a un samba de una sola nota. Detrás, el líquido xilofón hace el amor con las olas disciplinadas de la Bahía de Guanabara. Es el primer día del mundo. El resto no importa.

sábado, 23 de maio de 2009

ARTE POÉTICA, de VICENTE HUIDOBRO (1893-1948)

Por que cantáis la rosa, oh poetas?
Hacedla florecer en el poema!
Sólo para vosotros
viven las cosas bajo el sol.

El poeta es un pequeño Dios.

JUAN GELMAN, APUD JORGE LOVISOLO

"No sé por qué te amo.
Sé que por eso te amo.[...]
Nadie vuelve de vos
A lo que fué".

CRÔNICA DO MINEIRO OLINTO JO NETO

De 20 de maio a 21 de junho - o Sol transita por Gêmeos: signo de AR, mutável. Pólens da primavera, ponte entre as estações.
A natureza geminiana e o devaneio poético
O céu de Gêmeos no hemisfério norte sempre anuncia o verão.
Estive na Itália, em junho de 2007, e de passagem por Orte, como sempre faço nos lugares que visito, não poderia deixar de saudar o Sol ao amanhecer.
A vista bucólica enevoada do alto do vale trazia a sensação de um tempo subjetivo de memórias ancestrais, que aos poucos coloriam a paisagem dos campos de aparência ainda medieval com a tênue luz de uma aquarela natural. O silêncio foi sendo quebrado por pingos de silvos dos pardais, que se espalhavam pelas poucas árvores à volta: bico de pena. Um pio aqui, outro ali, como as gotas de orvalho que se dissolvem na alegria do dia nascendo. E logo, como se despertassem uns nos outros uma espécie de orgia estridente e contagiante, dos trinados foram criando algazarras, balançando as copas das árvores, e voando em bando de uma árvore para outra, num diálogo que anunciava a iminente chegada do Sol.
Que através dos pássaros revoando, as árvores conversavam entre si, numa espécie de linguagem misteriosa, mais do que secreta, mística, sagrada, não tenho a menor dúvida. O que eu queria mesmo saber era o que estavam falando...
Tal é a natureza geminina:
Seu glifo é o número dois em romano, que representa a sua função multiplicadora. Tudo que passa por Gêmeos se dissemina. "Se tenho uma informação, e você tem outra. Quando trocamos, cada um fica com duas".
Às vezes, de forma bem didática, podemos fazer uma analogia entre esse signo e as borboletas, que pousam de flor em flor polinizando o jardim. As borboletas nasceram para ser livres e não se fixar por muito tempo em lugar algum. Para expressarem-se na leveza das múltiplas cores e formas como se as flores, através delas, se amasssem entre si, se desprendedo do caule e deixando suas raízes para se espalharem pelo campo.
De tão efêmera a sua existência, que um poeta extraiu, daí, a sua inspiração para conectar a borboleta à idéia da felicidade:
"A felicidade é como uma borboleta linda.
Corre-se atrás, ela corre.
Corre-se mais rápido ainda.
Apanha-se, ela morre."(Ratisbone)
Gêmeos pode também ser associado aos beija-flores ou colibris. Tem a elegância de um vôo leve e ligeiro e nunca se prende a nada. Você já viu um colibri comendo migalhas pelo chão? Nem muito menos sobrevivem em gaiolas. São simbolo de liberdade.
Feitos de ar, são o elemento de troca. Por vezes voláteis, outras vezes volúveis, pois o mesmo ar que um respira, respira o outro também. Através do ar somos UM, estamos em contato, em comunicação, em constante troca, ligados em nossa unicidade. E assim se encontram em todos os lugares, e em lugar algum ao mesmo tempo. De tão despreendidos chegam a ser displicentes, às vezes até consigo mesmos, pois sempre há um assunto novo, um novo interesse, alguma curiosidade. Assim como uma pequena abelha é capaz de encontrar uma única flor na campina, num raio de alguns quilômetros, para extrair-lhe o néctar, segue Gêmeos em busca da particularidade da beleza de cada um, e realça o que cada um tem de mais belo.
Mas, do modo como chegam, também se vão, assim como as flores jovens dão lugar à maturidade, Gêmeos cumpre a sua missão, nos vagalumes, pirilampos, que em relance trazem as estrelas do céu para terra, só para lembrar da nossa natureza estelar. Somos pó de estrelas... nascemos TODOS para brilhar, juntos! Solidarizar, dar a luz do próprio Sol. Centelhas de consciência, flashes de rara lucidez.
Gêmeos é representado na iconografia medieval por um menino e uma menina, o que justifica em algumas tradições ter a regência esotérica de Vênus. Hermes e Afrodite se misturam na natureza desse signo e se fundem nas múltiplas destrezas, da escrita, da pintura, da oratória, da inteligência criativa, da abertura para serem eternos aprendizes do ofício de ser humano.

RICHARDSON VALLE, EM DIÁLOGO COM MANUEL BANDEIRA

MEU PRIMEIRO POEMA,
EU QUERO DAS ENTRANHAS,
DO AMOR NÃO CORRESPONDIDO,
MAS,QUE POR ESTRANHAS RAZÕES,
SE FORTIFICA NA LEMBRANÇA DOS
MOMENTOS VIVIDOS,
INTENSOS, REAIS, LOUCOS,
POR ISTO MESMO,
ETERNOS.
FLORES, PERFUMES, SABORES,
MÚSICAS, FILMES, SARAUS, E
POESIAS.

O ÚLTIMO POEMA, DE MANUEL BANDEIRA (1886-1968)

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Libertinagem & Estrela da Manhã, 1.ed. especial - Rio de JaneiroNova Fronteira, 2005
--

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ZAZEN-GI

PENSA NO IMPENSÁVEL. COMO PENSAR NO IMPENSÁVEL? PERMANECER SEM PENSAMENTOS, EIS O SEGREDO DA MEDITAÇÃO.

POEMA, DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1919-2004)

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

SUSAN SONTAG (1933-2004), em "Sob o signo de Saturno"

"PENSAR E ESCREVER SÃO FUNDAMENTALMENTE QUESTÕES DE RESISTÊNCIA".

INDÍCIOS

Ontem, na aula de Teoria da Literatura, pedi aos alunos um trabalho sobre alegoria, que tematizasse o tempo. Um dos grupos montou uma cena, que remetia a um ritual umbandístico, onde se reverenciava o deus Tempo. Introduziram-me no meio do círculo, que eles desenharam, dialogando com a cena espiritual projetada. Ofereceram-me um esplêndido girassol. E eu me lembrei de que, há mais de duas décadas, houve uma festa de aniversário para mim na TELERJ, onde eu trabalhava, em que cada pessoa, exibindo um crachá, era uma flor. Eu fui identificado com o girassol.

Oração ao Tempo
Caetano Veloso

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

INTERTEXTO TOTAL

"SÓ DEIXO O MEU CARIRI NO ÚLTIMO PAU-DE-ARARA".

NEM NA ÚLTIMA ONDA DEIXO MINHA SAQUAREMA.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Construção (1971), de Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, DE VINÍCIUS DE MORAES(1913-1980)

Era Ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer o tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa-
Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia-
Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação-
"Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
E o operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! -disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem pelo chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Do livro "Nossa Senhora de Paris"

Encontro de bibliotecas

No aeroporto Santos Dumont, no Rio, neste mês de maio, um jovem desconhecido disse-me ser uma biblioteca ambulante, tantos livros ele carrega.
Pensei cá com meus botões: já eu, sou um labirinto de bibliotecas

LIVROS DE POEMAS ATAM-ME A MIM MESMO

Um primeiríssimo livro de poemas - Palavras & Silêncios -, de 1984, abriu-me as portas da Academia.
Um outro livro de poemas - Águas de Saquarema -, de 2009, prepara minha saída da Academia.

EZRA POUND (1885-1972)

" E NÃO HÁ ESTRADA LARGA RUMO ÀS MUSAS"

quarta-feira, 20 de maio de 2009

JORGE LOVISOLO-DIONISO, AFORISMÁTICO

Caetano es la banda sonora de la bahía de Guanabara y de Saquarema. Esa mi petite madelaine. Astucia filantrópica para no desfallecer de saudade. Para "falar em saudade/donde anda você?" Zona carioca: músicos callejeros de sambas de una sola nota, poetas que renuncian al ostentoso rol de hombres de letras y prefieren escribir letras para los hombres, dibujantes que profesan el culto del arte efímero sobre la dócil arena: la obra se expone al capricho lunático de las mareas. Después del viaje, para mí, Brasil es una multitud de virtuosos > anónimos. Hay que protegerlos del llamado "progreso": la revolución genuina no aspira al cambio, más bien intenta conservar valores amenazados. Por esta barbarie creciente que algunos irresponsables llaman "cultura".Brasil me saca del concepto.

CANTO X, JORGE DE LIMA (1893-1953)

NÃO A VAGA PALAVRA, CORRUTELA
VÃ, CORROMPIDA FOLHA DEGRADADA,
DE RAIZ DEFORMADA, ABAIXO DELA,
E DE VERMES, ALÉM, SOBRE A RAMADA;

MAS, A QUE É A PRÓPRIA FLOR ARREBATADA
PELA FÚRIA DOS VENTOS; MAS AQUELA
CUJO PÓLEN PROCURA A CHAMA IRIADA
- FLOR DE FOGO A QUEIMAR-SE COMO VELA:

MAS AQUELA DOS SOPROS AFLIGIDA,
MAS ARDENTE, MAS LAVA, MAS INFERNO,
MAS CÉU, MAS SEMPRE EXTREMOS. ESTA, SIM,

ESTA É QUE É A FLOR DAS FLORES MAIS ARDIDA,
ESTA VEIO DO INÍCIO PARA O ETERNO,
PARA A ÁRVORE DA VIDA QUE HÁ EM MIM.

PARA JORGE LOVISOLO, ÍCONE

"Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do coração e da verdade da imaginação - o que a imaginação capta como beleza deve ser verdade - tenho ou não existido antes".

John Keats, carta a Benjamin Bailey, 22 de novembro de 1817.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CONCLUSÃO INCONCLUSA DEPOIS DE TER CONHECIDO MANAUS, A MÁGICA CAPITAL DO AMAZONAS

Quanto mais ando por estes Brasis, mais amo este meu País!

A RODA DE LEITURA ROSEANA MURRAY

A RODA DE LEITURA IMAGINÁRIA


Desde que a escritora Roseana Murray reinaugurou, em sua casa à beira-mar de Saquarema, dia 26 de abril de 2008, sua Roda de Leitura, tenho sido participante contumaz, assumindo, inclusive, por conta e risco próprios, o papel de cronista do evento, o que me valeu o honroso título de escriba. À 10ª. Roda de Leitura, ocorrida em 13 de maio deste ano, não pude, porém, comparecer, dado que faria palestra, justamente naquela semana, em congresso internacional, realizado na Universidade Estadual de Manaus/UEA.
Como nas edições anteriores, Roseana informou-me sobre o conto que apresentaria, convocando os participantes a uma leitura: “O fantasma de Canterville”, do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Bom aluno que sempre fui, fui correndo buscar, em minha labiríntica biblioteca, o conto que não conhecia do escritor que leio desde 1987, quando comecei a conhecer e a amar intensamente em meu mestrado em Teoria Literária na UFRJ. Adorei o conto, sobretudo pelo embate entre o positivismo, o pragmatismo, o cientificismo e a magia, criada pelo texto literário; no entanto, considerei muito longo o conto a ser explorado em uma breve manhã literária. Em conversas posteriores, nossa escritora anunciou-me que mudara de conto, mas não de autor: leria o conto “O príncipe feliz”. Fiz questão de imprimir o original inglês desse magnífico conto, que li no lugar mais adequado: a Praia da Vila. Comecei, então, a elucubrar sobre as leituras que professores e alunos saquaremenses operariam do texto wildeano. Poucos contos têm tanto a ver com a vida e a felicidade de se viver em Saquarema e seriam todos os presentes tocados, com certeza, profundamente.
Na mágica Manaus, eu imaginava aquela Roda de Leitura, de que não participava literalmente. Sabia que o ritmo seria o mesmo: a anfitriã, com indumentária de maga, em pé ao centro da roda de jovens e adultos, inauguraria o evento com leitura de jornal sobre a importância essencial da leitura. Depois, leria, com voz pausada e dramática, o conto eleito, ouvindo, em seguida, os comentários dos presentes. Alguns declamariam poemas, de sua autoria ou de outrem. Ao final, seriam oferecidos uns quitutes e uns cafés, chocolates e sucos, gostosamente feitos por Wanda, a secretária impecável.Tudo perfeito, como prescreve o ritual mensal das Rodas de Leitura Roseana Murray.
Eu estava em Manaus e sonhava com essa tertúlia saquaremense. Às 8h20, peguei meu celular e disquei para o celular da Roseana, que estava desligado; liguei, então, para o seu telefone convencional, em que fui atendido por Juan, informando-me que sua esposa estava em plena Roda. Desculpei-me por haver-me equivocado quanto ao fuso horário, dado que no Amazonas há uma hora de diferença com relação ao Sudeste (eta Brasil lindamente imenso!). Contudo, Juan, elegantíssimo como sempre, passou o telefone à sua Roseana, a quem eu disse estar meu coração presente naquele círculo de poesia. Ela me ouviu afetuosamente e me fez ouvir um prazeroso barulho de palmas, que eclodiram de Saquarema a Manaus. Tantos calorosos aplausos testemunhavam a beleza de um evento, que congrega pessoas de excelente vontade em torno da Poesia, para a qual não há distâncias nem de espaço nem de tempo.
Chorei de novo as lágrimas de felicidade que vertera na Praia da Vila, quando lia, sozinho face às nossas ondas, o conto “O príncipe feliz”.

domingo, 17 de maio de 2009

Mario Benedetti (1920-2009)

El mar

Qual è l'incarnato dell`onda?
Valerio Magrelli

¿Qué es en definitiva el mar?
¿por qué seduce?
¿por qué tienta?
suele invadirnos como un dogma
y nos obliga a ser orilla
nadar es una forma de abrazarlo
de pedirle otra vez revelaciones
pero los golpes de agua no son magia
hay olas tenebrosas que anegan la osadía
y neblinas que todo lo confunde
nel mar es una alianza o un sarcófago
del infinito trae mensajes ilegibles
y estampas ignoradas del abismo
trasmite a veces una turbadora
tensa y elemental melancolía
el mar no se avergüenza de sus náufragos
carece totalmente de conciencia
y sin embargo atrae tienta llama
lame los territorios del suicida
y cuenta historias de final oscuro
¿qué es en definitiva el mar?
¿Por qué fascina?
¿por qué tienta?
es menos que un azar / una zozobra /un argumento contra dios / seduce
por ser tan extranjero y tan nosotros
tan hecho a la medida
de nuestra sinrazón y nuestro olvido
es probable que nunca haya respuesta
pero igual seguiremos preguntando
¿qué es por ventura el mar?
¿por qué fascina el mar?
¿qué significa
ese enigma que queda
más acá y más allá del horizonte?

FLAMENCO FLAMEJANTE

http://www.youtube.com/watch?v=kPhCIKFkfg4

DAVID MOURÃO-FERREIRA, AINDA

Praia do Paraíso

Era a primeira vez que nus os nossos corpos
Apesar da penumbra à vontade se olhavam
Surpresos de saber que tinham tantos olhos
Que podiam ser luz de tantos candelabros
Era a primeira vez cerrados os estores
Só o rumor do mar permanecera em casa
E sabias a sal, e cheiravas a limos
Que tivesses ouvido o canto das cigarras
Havia mais que céu no céu do teu sorriso
Madrugada de tudo em tudo que sonhavas
Em teus braços tocar era tocar os ramos
Que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo
É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
Para se ver que aos vinte é que se teve tudo.

David Mourão-Ferreira (1927-1996), in "Infinito Pessoal" (1959-1962)

"PARAÍSO"

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

POEMA EM PROSA DE PIEDADE CARVALHO, MINHA ANFITRIÃ NA UFF

Maruá, depois que li seu email pelo Dia das Mães, de partir o meu coração de ser humano, coisa rara e só vista em Che, Van Gogh e outros mais, peguei meu caminhãozinho de Menino e naveguei como no final da viagem. Acelerando meu carrinho rasguei a tela de meu monitor e voei no Blog do Prof. Latuf, sim. Na primeira encruzilhada, encontrei no despacho a belíssima poesia de Manoel de Barros. Resolvi teagradecer contando uma estorinha numa só frasezinha: a arte é a ciência da liberdade e todos os artistas trabalham para ver as pessoas livres. Quem diz isso é Josefh Beuys. E o poeta Latuf é assim, como uma máquina fotográfica. Ele fotografa a alma da fala humana nos menores pedaços de nossos olhares. SURFISTA-SAQUAREMISTA-DAS-PALAVRAS!! Um dia ele me disse que a arte acontece entre a ponta do pincel e a tela. E isso ficou desenhado no ar que eu vejo e se transforma na gratidão que sinto por esse mágico professor. Lembro que nessa hora senti a presença de Hélio Oiticica. Sempre digo com meu pensamento ao Mestre Latuf que ele é aquele que sabe tencionar o pensamento de aluno. Da VIAGEM DO meu MENINO eu trouxe um presentinho para o poeta Latuf: um caminhãozinho-babel-biblioteca. Um dia perguntaram a Nasrudin.- Mestre, ao amanhecer o dia, cada um vai para o seu lado: uns poraqui, outros por ali, por que será?- Se todos fossem para a mesma direção - responde Nasrudin - o mundose desequilibraria e cairiaAbs de Maruão para Maruá

JORGE LOVISOLO, FILÓSOFO ARGENTINO CONTEMPORANEO, HABLA DE BRASIL Y DE SAQUAREMA

Cómo agradecer tu hospitalidad, colmada de delicadezas y una circulación de afecto de rotación rápida que corría a raudales? Sos el amigo que siempre lleva en sus manos un pedazo de sol. Tu presencia irradia ternura: lo pude ver en los envíos y reenvíos con nosotros y entre tus amigos.Qué honroso para mí hecerme leer un bello poema tuyo en voz alta !!!Entrar a tu casa fue como entrar en vos: es tu prolongación, pasillos de libros, colección de miniaturas, recuerdos barrocos que cuelgan del techo. La palabra belleza es igual a tu morada.Tengo la impresión de que cada palabra que proferís es una esponja para limpiar la vida: hundís tus manos en la noche para que la mañana no tenga ojeras.En vos comienza la celebración del mundo. La alegría y el júbilo.Presentía que este viaje sería importante. Ahora, lo sé.Un fuerte abrazo.Jorge

EUGÊNIO DE ANDRADE, AINDA

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhoseram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus

EUGÊNIO DE ANDRADE (1923-2005)

URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar a alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

domingo, 10 de maio de 2009

ROSEANA MURRAY, DOADORA DE POESIA

Fui ao teu blog, único entre milhões de blogs. Verdadeiro baú de poesia e maravilhas.

MANOEL DE BARROS, MEU DEUS!

O Fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia estava morta
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O Silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Pilhei uma paisagem velha a desabar sobre uma paisagem.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia
De braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais
Justa para cobrir a sua noiva.

O Aferidor

Tenho um Aferidor de Encantamentos.
A uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu nota dez.
Ao nomezinho de Deus no bico de um sabiá
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte.
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
Sentado nas pedras de suas próprias ruínas
O meu Aferidor deu desencanto.
O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.

DO QUASE CENTENÁRIO POETA MANOEL DE BARROS

"A frase para ele (Pe. Antônio Vieira) era mais importante que a verdade, mais importante que a sua própria fé. O que importava era a estética, o alcance plástico. Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança. Descobri que servia era pra aquilo: Ter orgasmo com as palavras”.

O OLHAR, MANOEL DE BARROS

Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol de águas de árvores de aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.

Texto de Piedade Carvalho, Musa de muitos...

Desejo aqui dizer a todas as mães e todas as filhas, bem como a todos os homens que têm ou um dia tiveram mães, que ser mãe não é sofrer n'um paraízo. Mesmo porque o paraíso é somente aquele cujo nome é ventre de mãe. Só aí, dentro desse, conhecemos o paraíso e sem sofrimento. Ser mãe não é sofrer; ser mãe é viver a glória de ser só. Mãe é solidão; mãe é carência de amor de pai, de amor daquele que poderia ter sido o pai de seus filhos e não o foi por absoluta desventura ou negligência. Ser mãe é ser todas as coisas e não ser nada; ser mãe é amar um homem vendo nele todos os filhos do mundo. Ser mãe é amar todas as mães e compreendê-las, em sua infinitude e finitude. Ser mãe é ser capaz de escrever muitos versos porque cada filho é uma poesia e cada neto uma música. Um abraço agradecido em todas as mães e todos os filhos e todos os netos porque sem filhos e s em netos nunca existiriam mães.Piedade Carvalho

Para sempre, Carlos Drummond de Andrade

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apagaquando sopra o vento
e chuva desaba,veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

PS Prestei prova para o Mestrado em Teoria Literária, na UFRJ, dia 17 de agosto de 1987, precisamente quando Drummond ia para o céu ter com sua mãe. Pude, então, na prova escrita, que versava nem mais me lembro sobre o quê, parafrasear nosso Poeta maior e escrever: Fosse eu Rei do Mundo/ baixava uma lei:/ Poeta não morre nunca".

sábado, 9 de maio de 2009

Augusto Boal - A Alma do Teatro, o Teatro na Alma

“Atores somos todos nós, e cidadãonão é aquele que vive em sociedade:é aquele que a transforma”.Augusto Boal (In Memoriam)Escolhido pela ONU-Organizaçã o das Nações Unidas como O EmbaixadorMundial do Teatro; indicado ao Prêmio Nobel da Paz pelo projeto deTeatro como Inclusão Humana, torturado nos bastidores da Canalha de 64(ditadura militar incompetente, corrupta, violenta e senil), tendo quese exilar, viveu na Argentina, em Portugal e Paris, sempre trabalhando ainclusão cidadã na arte cênica, partindo do pressuposto de que todos oshumanos são atores; todos devem sair da opressão da máquina social asvezes pouco ética e muitas vezes mesmo insana, visando buscarem assim alibertação que há na arte de representar propriamente dita. Um mito domelhor do teatro popular brasileiro, Augusto Boal nascido carioca,acabou, promovendo o Brasil, tornando-se por isso também um cidadão domundo de quilate, baluarte dos oprimidos de todas as terras eurbanidades, ele mesmo bandeira dos excluídos sociais, postulando pelainclusão via arte cênica. Quer mais?“Inventar outro mundo é possível”, disse Augusto Boal em Lisboa,completando: -“A invenção de outro mundo é possível, construído pelasmãos de todos em cena, no palco e na vida". Este era o desafio dodramaturgo brasileiro Augusto Boal na mensagem internacional queassinala o Dia Mundial do Teatro, completando, ainda: "Temos a obrigaçãode inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mascabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e navida" – Esse é o mote deixado pelo ensaísta e diretor de teatrobrasileiro, fundador do Teatro do Oprimido e que especialistasconsideram uma das grandes figuras do teatro moderno contemporâneo.Olhando o mundo "Além das aparências, vemos opressores e oprimidos emtodas as sociedades, etnias, classes e castas; vemos o mundo injusto ecruel" disse ele, e concluiu: porque, afinal, de uma forma ou de outra,"Somos todos atores”.Augusto Boal morreu na madrugada de sábado de 02 de maio de 2009, no Riode Janeiro. Ele sofria de leucemia e estava internado na CTI do HospitalSamaritano. Augusto Boal também era ensaísta e teórico do teatro,ganhando destaque nos anos 1960 e 1970 quando esteve à frente do Teatrode Arena de São Paulo, quando fundou o Teatro do Oprimido, pelo qual foiinternacionalmente reconhecido por aliar arte dramática à ação social.Augusto Boal chegou a se formar em Química pela Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ) em 1950, mas viajou em seguida para os EstadosUnidos, onde estudou artes cênicas na Universidade de Columbia. De voltaao Brasil, sua primeira peça como diretor do Arena foi “Ratos e Homens”,de John Steinbeck, que lhe rendeu o prêmio de revelação da APCA(Associação Paulista dos Críticos de Arte). Dirigiu ainda, entre outraspeças, “Eles Não Usam Black-Tie” de Gianfrancesco Guarnieri, e“Chapetuba Futebol Clube” de Oduvaldo Vianna Filho. Foi o diretor doespetáculo “Opinião”, com Zé Ketti, João do Vale, Maria Bethânia edepois Nara Leão, que passou para a história como um ato de resistênciaao golpe militar de 1964.O Teatro do Oprimido provou ser importante ferramenta para aconscientizaçã o de todos que o praticam. Essa era a ambição de AugustoBoal: que todos os seres humanos, sejam quais forem suas profissões,gêneros, etnias ou condições sociais, instrumentalizando conscientementeo teatro e todas as artes que trazem em si, para que se pudessemalcançar os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos:“Que a Liberdade, a Justiça e a Paz tenham por base o reconhecimento dadignidade intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos osmembros da família humana(...)”. Augusto Pinto Boal nasceu em 16 de março de 1931, na Penha, bairro dazona Norte do Rio. Suas técnicas e práticas foram espalhadas pelo mundointeiro, principalmente nas três últimas décadas do século XX. Foramusadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento deemancipação política, mas, e principalmente também nas áreas deeducação, saúde mental e no próprio sistema prisional, tal a qualidadesócio-inclusiva das mesmas. Suas teorias sobre o teatro são estudadasaté hoje nas principais escolas de teatro do mundo. O jornal inglês TheGuardian, por exemplo, escreveu que "Boal reinventou o teatro político eé uma figura internacional tão importante quanto Brecht ouStanislavski" .“O Ser Humano é Teatro”, dizia Augusto Boal. Teatro, Dança, Música,Circo, Balé, Literatura, Voz Populi, humanagente, pois. O Teatro devanguarda de Augusto Boal incomodava, tocava no cerne de questõesético-humanistas (humanitárias) , sendo ele um porta-voz da liberdade decriação, da liberdade que é inerente ao ser humano em pleno exercício decidadania exercitada ao extremo. Sim, Augusto Boal era a alma do teatro.E o teatro era a alma dele. No palco da vida deixou seu brilho, e como oshow tem sempre que continuar, ela ainda será cantado em verso e prosapor esse mundão da nova desordem econômica sub-humana, bem ao jeito deuma espécie assim de Brecht moreno-tropical.Bravo Boal!

Silas Correa Leite, Itararé, SPJornalista Comunitário, Ficcionista Premiado, Conselheiro em DireitosHumanos (SP)E-mail: poesilas@terra. com.brAutor de “O Homem Que Virou Cerveja”, Livro de Crônicas Hilárias de UmPoeta Boêmio, Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador, Bahia, noprelo, Giz EditorialBlogue: www.portas-lapsos. zip.net <http://www.portas- lapsos.zip. net/> (Um dos dez melhores blogs do UOL em 2008)

I’m old fashioned, by Kern, Jerome, Mercer, Johnny.

I am not such a clever one about the latest fads
I admit I was never one adored by local lads
Not that I ever tried to be a saint
I’m the type that they classify as quaint
I’m old fashioned, I love the moonlight
I love the old fashioned things
The sound of rain upon a window pane
The starry song that April sings
This years fancies are passing fancies
But sighing sighs, holding hands
These my heart understands
I’m old fashioned but I don’t mind it
That’s how I want to be
As long as you agree
To stay old fashioned with me
I’m old fashioned but I don’t mind it
That’s how I want to be
As long as you agree
To stay old fashioned with me.

Geruza Queiroz Coutinho, de Salta, Argentina

Você sabe que nesta etapa há muitas redefinições na nossa vida, inclusive com relação à sociabilidade, mas você está como um pilar, forte, dentes e músculos, no nosso coração, neste pilar não se mexe. Você é - para mim e para os meus filhos -insubstituível, indiscutível peça da nossa engrenagem familiar. Amanhã, saiba, estamos juntos na distância, nos nossos exercícios de lembrar.Você vai curtir muito estar com a família da Roseana.

Call Me Irresponsible, by Cahn, Sammy; Van Heusen, Jimmy;

Call me irresponsible
Call me unreliable
Throw in undependable, too
Do my foolish alibis bore you?
Well, I'm not too clever, II just adore you
So, call me unpredictable
Tell me I'm impractical
Rainbows, I'm inclined to pursue
Call me irresponsible
Yes, I'm unreliable
But it's undeniably true
That I'm irresponsibly mad for you
Do my foolish alibis bore you?
Girl, I'm not too clever, II just adore you
Call me unpredictable
Tell me that I'm so impractical
Rainbows, I'm inclined to pursue
Go ahead call me irresponsible
Yes, I'm unreliable
But it's undeniably true
I'm irresponsibly mad for you
You know it's true
Oh, baby it's true

RARÍSSIMO CASO EM QUE A TRADUÇÃO SUPERA O ORIGINAL

"The Impossible Dream"
from MAN OF LA MANCHA (1972)
music by Mitch Leigh and lyrics by Joe Darion
"The Impossible Dream" (a .MP3 file courtesy MGM).

To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go
To right the unrightable wrong
To love pure and chaste from afar
To try when your arms are too weary
To reach the unreachable star
This is my quest
To follow that star
No matter how hopeless
No matter how far
To fight for the right
Without question or pause
To be willing to march into Hell
For a heavenly cause
And I know if I'll only be true
To this glorious quest
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest
And the world will be better for this
That one man, scorned and covered with scars
Still strove with his last ounce of courage
To reach the unreachable star

Sonho Impossível
Chico Buarque
Composição: Joe Darion, Mitch Leigh (versão em português de Chico Buarque)

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

As Time Goes By, Herman/Hupfeld

You must remember this
A kiss is still a kiss
A sign is just a sign
The fundamental things aplly
As time goes by
And when two lovers woo
They still say I love you
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by
Moonlight and love songs never out of date
Hearts full of passion, jealousy and hate
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny
It is still the same old story
The fight for love and glory
A case of do or die
The world will always welcome lovers
As time goes by

sexta-feira, 8 de maio de 2009

ÁRABES & JUDEUS: SOMOS IRMÃOS ÍNTIMOS

http://www.youtube.com/watch?v=5d_i2F2LlF8

EIS UM HINO, UM "WE ARE THE WORLD" URGENTÍSSIMO, UMA ESPERANÇA MUSICAL

Latufenício

SONHOS DE BÊNÇÃO

De há muito que não sonho com minha Mãe. Sonhar com Mamãe é, para mim, suma felicidade. Acabo de despertar de minha sesta e, felicíssimo, me dou conta de haver sonhado, às vésperas do "Dia das Mães", com minha Mãe, fisicamente ausente há 12 anos. Ela estava nesta sala, sentada e sorria vendo-me tomar lição de Ricardo Portella, meu tão querido orientando de doutorado. Meus sonhos com Mamãe são a ratificação de que estou agindo bem: ela me aparece para abençoar-me e a todos os que têm a ver comigo.

ASí ESCREBIÓ JUAN ARIAS, SUPER-AVUELO, CÓMO YO!

Los niños , Latuf querido, son, sin duda alguna, la verdadera Babel, la del pluralismo, la de la santa confusión, la del caos primigénio. Poseen la lengua del Paraiso perdido donde las palabras se confunden con los objetos y los deseos.Son como los ángeles de todas las mitologías.Vittória y Papira son el mejor ejemplo de la plasticidad de la inocencia sin mancha.Vamos a disfrutar pronto viéndolas a las dos corretear por sus mundos de maravillosas fantasías.Juan, amigo

ASSIM FALOU MACHADO DE ASSIS

" Sim, considerei a vida, remontei os anos, vim por eles abaixo, remirei o espetáculo do mundo, o visto e o contado, cotejei tantas coisas diversas, evoquei tantas imagens complicadas, combinei a memória com a história, e disse comigo: - Certamente, este mundo é um baile de casacas alugadas".

BABÉLICAS MENINAS

VITÓRIA SHERAZADE LATIFA, MINHA NETINHA DE QUATRO ANOS, ENCONTROU-SE, FINALMENTE, COM KIRA, DE TRÊS ANOS, NETINHA DE JUAN ARIAS E ROSEANA MURRAY. TODOS OS ANOS, A MENININHA ESPANHOLA VEM PASSAR FÉRIAS AQUI EM SAQUAREMA, NA MANSÃO DE SEUS AVÓS MATERNOS. ANO PASSADO, VITORINHA CONVIDOU-A À SUA CASA, NO PORTO DA ROÇA. AS DUAS ENTENDERAM-SE MARAVILHOSAMENTE E PASSARAM UM DIA INTEIRO DE LINDA AMIZADE. O PRIMEIRO GESTO DA ANFITRIÃ FOI APRESENTAR, ENTRE SEUS BRINQUEDOS, A BONECA CHOCOLATE, QUE A CONVIDADA AMOU, CERTAMENTE POR PENSAR QUE FOSSE FILHA DO SAMUEL, MULATO SAÍDO DAS TELAS DE PORTINARI, QUE ELA AMA MUITO E TRABALHA COM SEUS AVÓS SAQUAREMENSES. DE TÃO ENTRETIDA COM A AMIGA BRASILEIRA, KIRA NEM LIGOU PARA SUA MÃE MAYA, QUE PÔDE FICAR TÃO TRANQÜILA QUANTO OS ARES DAQUI. EM QUE LÍNGUA CONVERSAVAM AS AMIGUINHAS? KIRA FALA, AO MESMO TEMPO, CATALÃO, ESPANHOL E INGLÊS, AO PASSO QUE VITORINHA SÓ FALA O PROSAICO PORTUGUÊS. TERÃO AS DUAS PALRADO EM UM IDIOMA COMUM, MARÍTIMO E AMOROSO. VITORINHA ATÉ MUDOU O NOME DE SUA AMIGUINHA: PAPIRA, CHAMAVA-A ELA, NOME QUE ADOREI, PORQUE NETA DE ESCRITORES FAMOSOS E FORMOSOS TEM QUE TER NOME DE PAPEL ANTIGO, ASSIM COMO O CACHORRO QUE HABITA NA CASA DE UM ESCRITOR ATENDE PELO NOME DE GUTEMBERG (GUTO LATUF, PARA OS MAIS ÍNTIMOS). VITORINHA GOSTOU TANTO, TANTO MESMO, DA SUA PAPIRA QUE QUIS LEVÁ-LA, JÁ BEM TARDE À NOITE, DE VOLTA À CASA DOS AVÓS; QUANDO RETORNOU, ELA DORMIA, CERTAMENTE SONHANDO COM UMA AMIGUINHA, COM QUE REPRESENTAVA A CENA DE BABEL. NA MANHÃ SEGUINTE, VITORINHA PERGUNTOU POR PAPIRA, RIMA PERFEITA PARA KIRA.
QUASE UM ANO DEPOIS E ÀS VÉSPERAS DA VINDA DE KIRA A SAQUAREMA, FUI BUSCAR VITORINHA EM SEU COLÉGIO CORUJINHA; ESTAVA EM MEU CARRO UMA AMIGA ARGENTINA, NATÁLIA, QUE SE ENCANTOU COM MINHA NETINHA, COM QUEM CONVERSAVA EM ESPANHOL. VITORINHA LHE FALAVA DE SUAS AMGUINHAS E DISSE TEXTUALMENTE: PAPIRA É MINHA AMIGA. ENTENDI QUE O ESPANHOL FALADO PELA NATÁLIA TROUXE À MEMÓRIA SAUDOSA DE VITÓRIA A IMAGEM DE SUA AMIGUINHA, PRESTES A VIR BRINCAR AQUI. BABEL É UMA BÊNÇÃO, COISA QUE SÓ AS CRIANÇAS SABEM EM SUA LÍNGUA PLURAL.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O COMERCIANTE DE PALAVRAS

"(...) O fato é que ele amava as palavras mais do que as frases, as palavras apenas, isoladas, ricas da sua única força. Ele estimava que a disposição das frases, sempre artificial e muito freqüentemente arbitrária, privava as palavras da sua beleza selvagem, individual, e as afogava no melaço da sintaxe.
Uma palavra, uma única, lhe bastava para colocar o mundo em movimento, para lhe desvendar um novo segredo, para lhe acrescentar uma nova centelha. Ele vivia para as palavras e com as palavras, estreitando em si mesmo, dia e noite, todas as memórias do mundo.(...) As palavras raras e belas, rebuscadas, preciosas, provocantes, barrocas, sedutoras, secretas, as palavras exóticas carregadas de perfumes longínquos e de cores vivas desapareceram, abocanhadas pela goela escancarada da insignificância".

Jean-Claude Carrière, Contos filosóficos do mundo inteiro.

Jura Secreta, de Sueli Costa e Abel Silva

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada que eu quero me suprime
De que por não saber
'Inda não quis
Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Sol que me cega
O que me faz infeliz
É o brilho do olhar
Que não sofri.

DE JUAN ARIAS, CORRESPONDENTE NO BRASIL DE EL PAIS

Emocionante tu crónica sobre el Seminario, Latuf querido. De alguna forma todos somos sobrevivientes en un mundo de violencia explícita o disimulada. Tu mejor frase es que no quieres juzgar. Es la sublimidad del amor. Es el antídoto que el profeta judío dió para poder eliminar la violencia del mundo, la externa y la interna, la de los otros y la nuestra que es espejo de la del prójimo. Sólo cuando los hombres entiendan que el Sol nace cada dia para todos, sin distinción (basta ponerse bajo sus rayos) podremos sentir el perfume de una vida sin alarmes y sin campos de concentramiento. Que el niño que llevas dentro suavice tus heridas del pasado, más duras por haber sido injustamente infligidas.Abrazos solares, Juan

DE MEU IRMÃO-GÊNIO

Latuf, meu tão prezado amigo e colega.
Emocionei-me com seu texto. Escrito não sei para quem, para quê, para onde, por quê.
Apenas sei que você conseguiu me emocionar, tão perto você me colocou dos meus verdes anos, tão perto você me colocou da tortura, tão perto você me colocou da Grande Farsa, tão perto você me colocou de você. Você foi cruel e verdadeiro. Irônico e pesado.
Se anos, não sei quantos, nos restam da vida, acho que você deveria se dedicar à literatura e venho pensando nisso e com vontade de escrever-lhe neste sentido. Apareceu a oportunidade. Não vejo textos melhores que os seus nas idas e vindas das leituras que faço atualmente.Talvez encontre em Kafka, talvez em Dostoievski, não sei, algo me intriga nas coisas que você escreve e como escreve.
Se você não podia ser como os gênios que o ladeavam na Gregoriana, certamente nenhum deles é tão capaz de retratar o que eles e você e nós vivemos e vivenciamos.
Desço ao chão, meu velho, e o abraço. Parabéns.
Luizinho.

CONFESSO QUE SOBREVIVI

Antes de ontem, à hora do Ângelus, quando um esplêndido crepúsculo outonal matizava o azul-turquesa do mar da Saquarema, eu, diante de uma judia e de um ex-padre, fiz minha confissão, talvez final: sou sobrevivente de um campo de concentração, que, nos anos 50 e 60, atendia pelo nome de "seminário", metáfora para significar "sementeira", lugar onde se cultivam mentes sãs. Durante 10 anos de minha vida, que incluíram a infância, a adolescência e o desabrochar da juventude, quis ser padre, ser um padre santo, ser santo, envergando uma sotaina preta, que, hoje, relembro como mortalha; então, entendo por que gosto, depois de minha libertação, ou, como se dizia, com desdém, à época, de ser "defroqué", de envergar todas as cores do arco-íris: no dia de minha intempestiva confissão, por exemplo, eu portava uma calça amarela, com imagens rupestres, comprada em Cabo Verde, contrastando com um casaco vermelho e um "arafat" roxo; nada, portanto, mais paradoxal com referência ao rigor do hábito que carreguei em Mariana-MG. Criança, adolescente, vivi terríveis momentos de angústia, como um Hamlet mineiro: Pequei? Não pequei? Se pequei, seria pecado mortal ou venial? Tinha pesadelos à hora da comunhão, na missa de todas as manhãs. Naqueles seminários - o menor e o maior -, eu era uma flor de estufa (rima para o meu prenome), eu era incensado, admirado e, conseqüentemente, olhado de banda por colegas, tanto é que fui estudar em Roma, na mais antiga e importante universidade católica do mundo, a Pontificia Università Gregoriana, dirigida pelos arrogantes padres jesuítas, que nos diziam: "quando vocês forem bispos..."; com efeito, lá estudam os mais brilhantes seminaristas, "la crême de la crême", os futuros bispos, arcebispos e cardeais... Minha ida para Roma foi minha salvação, não no sentido religioso, mas no sentido laico, na medida em que, como disse Voltaire, "Roma veduta, fede perduta", ou, em bom vernáculo: ver Roma é perder a fé. De fato, no trajeto entre o Colegio Pio Brasiliano, onde nós nos hospedávamos, na Via Aurelia, e a Universidade Gregoriana, na Piazza della Pilota, eu começava a ver o mundo. Em Mariana, eu vivera numa bolha ("bubble", como o grave título de excelente filme israelense), protegido da visão cruel da verdadeira vida. Em Roma, rompeu-se, de vez, a bolha, descobri o mundo miserável, como Sidarta, que, saindo do palácio, teve contato com a desgraça das ruas e se tornou Buda; na capital do catolicismo, ceguei-me para ver, como Saulo em Damasco; freqüentando o Vaticano, caí do cavalo, como Nietzsche em Turin. Lá, sentia a maior solidão da minha vida: entre gênios pedantes, eu era um zé ninguém. Lá, era cada um por si e Deus contra todos. Lá, minha intransponível solidão jogou-me na multidão. Eu não tinha amigos, mas rivais em brilho intelectual. Então, comecei, pela primeira vez em minha vida, a duvidar: duvidava de mim, duvidava dos dogmas católicos, duvidava da fé. Fui ter com o diretor espiritual, um inesquecível suiço, Pe. Müller, que me disse: "Você pode ficar no seminário ou deixá-lo". Preferi tomar um trem para Paris, indo gozar de bolsa de estudo de língua e fonética francesas no Institut Catholique de Paris. Quando decidi largar Roma e a batina, não tive coragem de escrever à minha mãe, que sonhava ter um filho padre; pedi, então, a um amigo que fosse o meu amanuense, enquanto eu escrevia outra carta à minha irmã Martha, que prepararia o coração da mamãe para receber a bomba. Por um jogo do destino, a carta escrita por Bernardino chegou antes a Belo Horizonte. O arcebispo de Mariana, com que fui ter, quando regressei ao Brasil, recebeu-me friamente e com a impáfia que o caracterizava, sabedor de que eu era o primeiro seminarista marianense que abandonava, acintosamente, o luxo da Roma; já mamãe fez uma festa, como se acolhesse um filho pródigo. Hoje, já na terceira idade, não tenho traumas dos tempos em que, obedecendo a uma draconiana disciplina, eu queria ser santo; analiso meu passado de seminarista, de que tenho uma lucidez solar. Fui iconoclasta de mim mesmo. Aprendi muito naquela década: línguas, disciplina, silêncio e, sobretudo, a valorizar o afeto, que os padres, tanto lazaristas quanto jesuítas, sufocavam: a família, por exemplo, não deve existir, pois a família do padre é a Igreja, hegemônica. Minha alienação de seminarista ficou fincada nas montanhas barrocas de Mariana e no brilho hipócrita de Roma. Sou maravilhoso? Não sei. Gosto de mim, porque vou aprendendo com os erros dos outros e com os meus próprios. Introjetei a lição de Sartre: não importa o que fizeram com você, mas o que você faz com o que fizeram com você. Aprendi a não censurar, o que busco, não com sucesso total. Recentemente, meu maravilhoso amigo Juan Arias escreveu um artigo para o jornal espanhol "El Pais", de que é correspondente no Brasil, intitulado "Por que quis ser papa", onde analisa a atuação extremamente conservadora e danosa do papa atual; eu também me pergunto: por que eu quis ser santo? Em minha vida de professor, continuo atuando como se fora um sacerdote do magistério. Sim, sou sobrevivente de um campo de concentração e, filho de libanês maronita, compreendo, com simpatia e amor, os judeus. Depois de minha intempestiva confissão crepuscular, tomei um cálice de vinho do Porto, que me lembra o vinha de missa, e fui dormir; na manhã seguinte, estava eu um pouco zonzo, talvez por causa da catarse do dia anterior, na casa de Roseana Murray e Juan Arias, meus queridíssimos amigos da terceira idade e do berçário. Agora, ouço um canto gregoriano e sinto certa saudade da criança que fui e que pulsa em alguma parte de mim.