sexta-feira, 1 de maio de 2009

O COMERCIANTE DE PALAVRAS

"(...) O fato é que ele amava as palavras mais do que as frases, as palavras apenas, isoladas, ricas da sua única força. Ele estimava que a disposição das frases, sempre artificial e muito freqüentemente arbitrária, privava as palavras da sua beleza selvagem, individual, e as afogava no melaço da sintaxe.
Uma palavra, uma única, lhe bastava para colocar o mundo em movimento, para lhe desvendar um novo segredo, para lhe acrescentar uma nova centelha. Ele vivia para as palavras e com as palavras, estreitando em si mesmo, dia e noite, todas as memórias do mundo.(...) As palavras raras e belas, rebuscadas, preciosas, provocantes, barrocas, sedutoras, secretas, as palavras exóticas carregadas de perfumes longínquos e de cores vivas desapareceram, abocanhadas pela goela escancarada da insignificância".

Jean-Claude Carrière, Contos filosóficos do mundo inteiro.

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