quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LATUF FOI EMBORA

Latuf nos deixou. Andará por Pasárgada, Vênus, as mais belas estrelas. Poetas não morrem, se transformam. Latuf pulsa e brilha, energia cósmica. Esteja onde estiver estará também dentro de nós, os que o amamos com paixão. Latuf agora iluminará nossas esquinas, nossas horas belas e nossas horas difíceis. Não perdemos nosso maior amigo. Ele agora, mais do que nunca, nos habita.

Roseana Murray


sábado, 31 de julho de 2010

CRIANÇA RIMA COM ESPERANÇA

Crianças da Faixa de Gaza cobrem de milhares de pipas os céus da Palestina. Buscam um recorde? Para mim, alegorizam a paz que todos querem, tanto as crianças palestinas quanto as crianças judias.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

GABRIELA SIMÓN, AMIGA BARTHESIANA

Querido Profesor Latuf, ya de regreso a mi casa, me siguen rondando las imágenes de mis días tan intensos y felices en Río.
Gracias por haberme recibido con sus brazos abiertos..."todo ha sido óptimo y sin falla" como a usted le gusta falar...
Mientras escribo este mail escucho el cd que usted me ha regalado de Chico, es hermoso...gracias.
Ya le escribiré sobre su libro que he empezado a leer y que me parece hermoso.
Quisiera saber cómo está usted de salud? Espero que bien..
Sergio le envía un abrazo agradecido...
Mi querido Prof. Latuf, maestro, poeta, amigo, no me alcanzan las palabras para agradecerle y decirle que usted y su mundo me han fascinado.
un abrazo entrañable
Gabriela

quinta-feira, 29 de julho de 2010

AFORISMO DE HERNÁN ULM

O esquecimento é uma das formas sagradas da saúde.

TELEVISÃO ATERRADORA

Em repouso forçado, forço-me a ver televisão, justamente eu que sempre detestei televisão e considero esse meio popularíssimo de informação o mais terrível rolo compressor ideológico. Opto, então, pelos noticiários, que são um verdadeiro terrorismo informativo, a tal ponto que você fica com medo de sair às ruas e, até, de viver. Noite passada, sonhei que estava sendo seqüestrado por três árabes. Até o pesadelo é xenófabo e nem se dá conta de meu orgulho de ser de origem árabe.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

HAY TORADAS? SOY CONTRA!

Informam-me que, na Catalunha, ficam probidas as touradas. Pena que a lei só comece a vigorar em 2012. Nas Canárias já não se pode mais tourear. O incrível do que envolve a lei catalã é que é vista como mais um movimento de separatismo com relação à Espanha, gerando mais ódio entre as províncias. Escutei um madrilenho gritar: " Se não querem as touradas, que eles (os catalãs) se vão da Espanha". É como se o sanguinolento e crudelíssimo costume cultural das touradas fosse o traço identificador da espanholidade.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

PERSONAGEM SOLAR

O médico recomendou-me tomar sol pela manhã. Instalei, então, uma cadeira no quintal, onde, em meio às roupas, dependuradas no varal, sou um personagem solar.

HERNÁN ULM, ELO

Amadíssimo
a gabriela e o sergio ficaram encantados com você (eu não estou surpreso por isso). Particularmente ela, ficou muito entusiasmada com o nível das comunicações e as suas intervenções. Você é uma maravilha de anfitrión. Fico muito agradecido com você pela cordialidade com meus amigos. Você é um verdadeiro embaixador da amizade. Para além do conhecimento de barthes, você faz da vida uma obra de arte. Isso não tem palavras para expressar.
Beijão

GABRIELA SIMÓN, UNIVERSIDAD NACIONAL DE SAN JUAN

Mi querido Profesor Latuf: es para mí un honor que me haya invitado a una reunión de gente inteligente y agradable, todo coordinado, y orientado con su inteligencia, su sensibilidad, su profundo amor para la vida y la amistad...
De todo lo vivido estoy profundamente agradecida y conmovida.
Su amor compartido por Chico Buarque y Pessoa me hacen creer , como escribe Borges, que personas como usted son "las que salvan el mundo"
Me alegra que le haya gustado lo que le traje, recibalo con todo mi amor.
Le agradezco lo que me dice del libro
Y que seamos de septiembre y de lejanos libaneses coronan esta emoción que usted me regala
un abrazo entrañable
Gabriela

domingo, 18 de julho de 2010

MULHER FORTE

Convidado para almoçar na casa da Roseana Murray e do Juan Arias, vim a conhecer Gisela, a taxista da Roseana. É uma mulher impressionante, não só por sua estatura física como por sua atitude, que eu chamaria heróica. Mora em Inoã e dirige no Rio, o que é uma luta cotidiana. Adotou um filho (depois, teve dois seus) e veio a descobrir que ele é autista. Ela fala com paixão desse garoto, que é um gênio na informática e vem ganhando prêmios do Governo. Diante da bravura da Gisela, a do táxi amarelo, qualquer problema pessoal me parece insignificante.

HINO NACIONAL

Quando assistia, "en passant", aos jogos da copa do mundo, na África do Sul, eu obervava a atitude dos jogadores durante a execução do hino nacional de seu país. Os jogadores de muitas equipes, como os da Argentina, ficavam abraçados; já jogadores de outras equipes, como no caso da brasileira, colocavam a mão no peito. Chamou-me a atenção o fato de, na seleção da Espanha, nenhum jogador ter cantado o hino, isso porque eles são catalães e não se consideram espanhóis.
Sem dúvida são marciais e beligerantes todos os hinos nacionais; soube, até, pelo Juan Arias, que, no hino holandês, se fala mal da Espanha, grande rival na era das conquistas. No entanto, quem, como eu, viveu no exterior (passei 10 anos, estudando na Itália, na Bélgica e na França) não pode deixar de sentir um frisson quando escuta o hino nacional. Poema épico parnasiano, o hino nacional brasileiro emblema o País que, imaginado à distância, provoca uma onda de saudades.

terça-feira, 13 de julho de 2010

AD AUGUSTA PER ANGUSTA

Antes-de-ontem, tive a experiência da angústia e senti que ela é física. Por bastante tempo (pareceu-me uma eternidade), doeu-me o peito e era como se mãos estranhas segurassem o meu coração. Na noite fresca, faltou-me ar e dei-me conta de que a denotação supera toda conotação, sendo a vida muito mais real do que a toda a literatura. Nem rezar meus mantras eu conseguia. Eu não cabia dentro de mim e nem um grito saía do meu peito sufocado. Inda bem que as Cartas (do Tarô de Marselha, do Tarô Cigano, do Baralho Indígena) e as Runas tinham previsto, na véspera, que este meu momento kármico acaba de acabar. Pelas portas estreitas da angústia, hei-de atingir coisas augustas.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ROSEANA MURRAY, TORCEDORA

Pela primeira vez, em minha vida, assisti, pela tv, a uma partida de futebol. Foi ontem, na casa de Roseana Murray e Juan Arias, que me convidaram para almoçar e ver a partida final da copa da África do Sul, em que disputavam a taça a Espanha e a Holanda. Eu olhava tudo aquilo como um burro olha para o presépio e só não entendia a extrema violência dos holandeses. Ao invés de observar o nervosíssimo e mui longo jogo, preferi prestar atenção às reações, naquela sala linda, dos telespectadores, dos quais dois são espanhóis: Juan e seu irmão Pepe. Roseana era um torcedora mais que fervorosa: gritava, xingava, comentava, descrevia, narrava, pulava; os irmãos espanhóis vibrava muito, mas, nem de longe, se comparavam à euforia da poeta. Finalmente, a Espanha venceu e, então, o telefone de Roseana e Juan não parou de tocar, felicitando pelo êxito da "Fúria".

sábado, 10 de julho de 2010

AVALIAÇÃO DA REVISTA ESPANHOLA AMALTEA SOBRE TEXTO MEU

Informe: "O mito de Tirésias revisitado: ética & estética na ótica do cinema", Latuf Isaias Mucci.
Ensaio excelentemente estruturado, numa linguagem acessível do grande público, além de abordar um tratamento pós-moderno da versão conhecida do mito, tem o mérito de estabelecer os aspectos de actualização, quer ao nível da diegese, quer ao nível da caracterização das personagens implicadas, e tudo isso sedimentado no riquíssimo diálogo estabelecido no filme entre o mito de Tirésias e outros mitos, quer de origem clássica greco-latinos, quer provenientes da tradição popular. Por outro lado, a pertinência deste ensaio ainda se justifica pela abordagem plenamente cheia de actualidade proporcionada pelos estudos inter-artes que utiliza (entre o discurso literário, o cinematográfico e o musical, inserida numa envolvência mais abrangente dos estudos culturais, em que o mito matricialmente se insere), bem como ainda pela importância de que se reveste nos nossos dias o estudo de temas incluídos na área dos “gender studies”, aqui evidenciado na vertente do ‘homoerotismo’ e da bissexualidade da figura central.

1. Amaltea es una revista de mitocrítica. Ofrece, a través de la red y de modo gratuito, un número anual y de temático sobre la recepción de los mitos antiguos, medievales y modernos en la literatura occidental contemporánea.

2. Las lenguas utilizadas son: inglés, español, francés, alemán, italiano y portugués.

3. La revista no tiene orientación crítica propia.

4. Amaltea sólo publica artículos originales. La excelencia del proceso editorial seguido en la selección de los originales garantiza la calidad de los artículos publicados.


5. La revista es editada por la Universidad Complutense de Madrid.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A SÍNCOPE DO LINGUAJAR MINEIRO

Corgo, bringela, tramela, Beozonte. Decodificando: córrego, berinjela, taramela, Belo Horizonte.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

VIVA CAZUZA, POETA PÓS-MODERNO!

Faz hoje 20 anos que Cazuza "encantou-se", como diria Guimarães Rosa a respeito de morrer. Foi ele um poeta da linhagem de Walt Whitman e de Pasolini, com quem, aliás, se parece muito quando enverga aquela bandana vermelha. Foi ele um menino revoltado. Foi ele um burguês, crítico atroz da burguesia, "que fede". Foi ele uma presença linda no palco, com uma figura leve, alada, quase diáfana, mesmo berrando palavras contundentes. "O poeta não morreu", porque são eternas suas canções, todas antológicas e feitas de sangue, suor e esperma. Cazuza morreu de "overdose": exagero de amar, exagero de criar, exagero de ser.

terça-feira, 6 de julho de 2010

MAIS DE 72 NOMES PARA LATUF

Latufé, Latufiel, Latufervoroso, Latufanático, Latufan, Latufesta, Latufeérico, Latouféerie, Latufamélico, Latufaminto, Latufama, Latufake, Latufalho, Latufenomenal, Latufrenesi, Latufandango, Latufantástico, Latufresco, Latufamília, Latufantasma, Latufirme, Latufabulando, Latufilho, LatUFF, Latufanfarra, Latufirifinfin, Latufair, Latufuck, Latufoda, Latufofo, Latoufauve, LatuFAFIMA, Latuflorestamazônica, Latouflamboyant, Latufilme, Latufotografia, Latufalso, Latuforte, Latufechadura, Latufiufiu, Latufresta, Latufiandeiro, Latufinanceiro, Latufessor, Latuface, Latufruta, Latuflores, Latufim, Latufolhagem, Latoufemme, Latufrustrado, Latufaber, Latufazenda, Latufera, Latufronde, Latufrente, Latufarfalla, Latoufrère, Latufrater, Latufendi, Latufenício, Latufonfon, Latufun, Latuforró, Latuforall, Latufiníssimo, Latufraco, Latufine, Latufour, Latufurniture, Latuforza, Latufavorito, Latufiorucci, Latufiorella, Latufiligrana, Latufernandino, Latufogo, Latufulgurante, Latufogoso, Latuflumen, Latufluminense, Latufutebol, Latufálico, Latufreund, Latufriend, Latufriorento, Latoufoulard, Latoufou, Latoufêtard, Latufräulein, Latoufainéant, Latufurioso, Latufuribundo, Latufatal, Latufetal, Latufascínio, Latoufindesiècle, Latufirenze, Latufiumicino, Latuflama, Latufarra, Latuflair, Latufarsa, Latupharmakon, Latufilósofo, Latufurbo, Latufeelings, Latufaro, Latufarol, Latufelizardo, Latufanfarrão, Latufada, Latufugidio, Latufujão, Latufavo, Latufarinha, Latufarofa, Latufeijão, Latufofoca, Latufather, Latoufrance, Latoufrancophone, Latoufrancophile, Latufao, Latufifa, Latoufoliesbergères, Latoufrisson, Latufrufru, Latuforma, Latufrugal, Latruque, Lassurf, Lafoco, Laturco, Latufirme, Latufigura, Latufax, Latufashion, Latufigurino, Latufrevo, Latufolião, Latufaraó, Latufiligrana, Latufalanstério, Latufalso, Latufidedigno, Latufetiche, Latufinisterrae, Latufunkjamais, Latufundamental, Latufornication, Latufucral, Latufurtacor, Latufértil, Latuforasteiro, Latufuniculifuniculà, Latrufa, Latufacetas, Latufalácia, Latuférreo, Latufluir, Latuflexão, Latuflecha, Latufamaior, Latufricote, Latuforlan, Latufaísca, Latufiat, Latufieri, Latufactotum, Latufelino, Latuferino, Latufrankfurt, Latufosco, Latufórum, Latufausto, Latufácil, Latufútil, Latufurdunço.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

LETÍCIA VELLOSO

Latuf, a morte do José Saramago abriu uma ferida no meu peito. Adoro os livros dele. Com relação ao texto abaixo, li este livro, "As Pequenas Memórias". Chorei quase da 1ª à ultima folha, lembrei do meu amado avô. Em alguns trechos as lágrimas impediamn que a leitura fosse adiante:
"Muito mais tarde, já tinham passado há muito os meus quarenta anos, comprei num antiquário de Lisboa um relógio semelhante que ainda hoje conservo, como algo que tivesse ido pedir emprestado à infância."
"... na minha frente, entornando leite sobre a noite e a paisagem, havia uma lua redonda e enorme..."
" Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vem um imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu." Lindo demais!!!

Latuf, parecia que estava vendo o meu amado, sábio e analfabeto avô Homero. Que saudade...
Beijos,
Letícia.

sábado, 3 de julho de 2010

VIAGENS ASTRAIS

Recém-chegados de um tour pela Côte d'Azur, Toscana e por Paris, Hélio & Fernando convidaram-me para jantar no seu maravilhoso sítio, aqui, no bairro da Barreira. Imaginava eu que seria a ocasião propícia para que eles me relatassem a tão sonhada viagem. Nosso reencontro foi muito além de minhas expectativas, na medida em que, logo ao chegar à entrada soberba do sítio, acenderam todos os faróis do carro para que eu pudesse ver a placa "Quinta da Harmonia", em azulejos azuis e doirados, que trouxeram da Itália. Está, assim, batizado o sítio com o título do poema que escrevi,lá se vão dois anos, em homenagem àquele paradisíaco lugar. Inuagurada a placa, com direito a fotografias e a um champagne, que nos esperava nos salões da mansão, adentramos aquela triunfal alameda, que vai criando, no visitante, um clima de calorosa intimidade; Hélio, por exemplo, conhece de cor todas as árvores e flores daquele exuberante bosque, muitas delas por ele plantadas. Não bastasse a felicíssima surpresa da placa, tornada, ela mesma, um poema, tive, ainda, a felicidade de conhecer Jostemídio Silva de Abreu, que, no salão, repleto de obras-de-arte e de peças cusquenhas, falava de coisas espirituais e místicas. Eu estava boquiaberto diante da tamanha sabedoria do Jô, como é chamado pelos amigos e já por mim. Guru, vidente, tarólogo, astrólogo, Jô ultrapassa classificações e é, para mim, um ser humanamente extraordinário, mesmo conservando uma simplicidade franciscana. Hélio e Fernando não falaram de sua esplêndida viagem à Europa, até porque, naquela noite de céu estreladíssimo, valor mais alto se alevantava.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

MEMORIES IN RIO

Ontem, comprei, nas Lojas Americanas, do Baymarket, em Niterói-RJ, uma preciosidade: o "dvd" Queen live, ao vivo no Rock in Rio 1985, a que, emocionadíssimo, acabo de assistir. Com efeito, eu, com meu filho Otávio, era um dos milhares e milhares de espectadores daquele megaevento. Havia, de Icaraí, em Niterói, um ônibus que ia direto ao Rio Centro, local das apresentações, um ônibus recheado de jovens e onde estava liberado o uso da maconha. Muitas vezes, fiquei dependurado nos ombros do meu filho, assim poderia ver melhor o que se desenrolava no palco. Jamais esquecerei a "ouverture", feita por Ney Matogrosso, todo de branco vestido, cantando "Rosa de Hiroshima", belíssimo poema de Vinícius de Moraes; após sua apresentação, soltou um bando de pombas brancas, simbolizando a paz. Outro momento apical, no primeríssimo dia, foi quando James Taylor, também envergando túnica branca, entoou o hino "We got a friend", fazendo com que toda a multidão, silenciosa, se sentasse no lamaçal geral. Sempre gostei imensamente do Queen, sobretudo em suas canções sinfônicas, acompanhadas ao piano por Freddie Mercury, que encarna toda a sensualidade africana (de pais persas,ele nasceu em Zanzibar); é um Rick Martin mais másculo. É imbatível a peça "Bohemian rapsody", bem como é impactante a canção "Love of my all", que o Rio Centro cantou em coro. No "show", Freddie Mercury falou algo em português, como, "Olá, Brasil!", "Olá, Rio!", "estão felizes?", expressões certamente aprendidas com algum namorado brasileiro. Ninguém me tira da cabeça que o rebolado de Freddie foi ensaiado na boate Sótão, reduto "gay" carioca dos anos 80. Ele, estrela máxima, ainda se apresentou enrolado na bandeira brasileira, "auriverde pendão da minha terra", como cantou, divinamente, em "Navio Negreiro", o baianíssimo Castro Alves. No "dvd" consta, ainda, a canção "We are the champions of the world", que vem a calhar com este momento eufórico da copa de futebol, na África do Sulo.

Discurso de José Saramago na Academia Sueca ao receber o Prêmio Nobel de Literatura

"O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.

Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram
analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao
ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às
pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo
das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do
enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.

Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de
pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei
lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de
ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a
transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das
searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.

Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos
depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz
noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e
depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu
noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo,
surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago,
como ainda lhe chamávamos na aldeia.

Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.

Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso
dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a
ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".

Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.

Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com
porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de
ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô
Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte
o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por
uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a
ver."

P.S. "Mutatis mutandis", eu sempre disse que minha Tia Laiafoi a pessoa mais sábia que conheci e que, tampouco, sabia ler nem escrever. porque jamais, no Líbano ou no Brasil, andara por escolas, mas que criara, com extrema sapiência, suas filhas e me adorava ver dançar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

LÍBANO-FENÍCIA.

Desembarcava eu em Orly, aeroporto de Paris, quando uma senhora, muito elegante, à minha frente, foi perguntada na alfândega: "D'où venez-vous, Madame?", ao que ela respondeu em alto e bom som: "De Beyrouth". Jamais esquecerei a ênfase da resposta de alguém que vinha de um país, bombardeado por Israel e pela Síria, e que sabia que o Líbano, ou Fenícia, renasce sempre, gloriosamente, de suas cinzas.

INQUIETAÇÃO

Hamilton de Mattos Monteiro, mentor de minha entrada na UFF e meu real pai acadêmico, disse-me, certo dia, que estaria feliz quando lhe cessasse a libido. Faz algum tempo, ele faleceu, ainda jovem. Hoje, me pergunto se felicidade tem a ver com a extinção do fogo sexual.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

FRASES SOLTAS, OUVIDAS AO LÉU

"Marilyn Monroe não parava o trânsito; parava uma guerra".
No começo de sua carreira, Freddie Mercury afirmou: "Não serei famoso, serei uma lenda".
"Brazil is sexy".
"As palavras são umas desgraçadas", José Saramago, no Fórum Mundial de Porto Alegre-RS.
"Inspiration is for amators", film Music and lyrics.
"Elizete Cardoso tem voz de mãe e é mãe das cantoras brasileiras", Chico Buarque.
"A vida não permite ensaio".
"¿Quién dijo que todo está perdido?
Yo vengo a ofrecer mi corazón", Mercedes Sosa.
"Quem lê Proust, prostitui-se".
"Nada nos impide decir que el lector ideal de Enrique V de Heinrich Mann es el Rey mismo, que el lector ideal de los Salmos de David es Jehová o aun que el de la Divina Comedia debe tener la experiencia personal del Infierno". Didier Coste.
"La mujer en la cocina y con la pata rota", decreta el machismo español.

INSTINTIVA FELICIDADE

Ao Guto, meu cão, nem preciso perguntar se é feliz, porque, se sente frio ( e ele é muito friorento), põe-se ao sol; quando está com calor, enrola-se na terra; se tem vontade de sair à rua para namorar Cicciolina, vai até ao portão e corre; pouco tempo depois, ele volta, anunciando-se ao portão. Guto tem o olhar mais doce dos mortais e seu emaranhado de pêlos doirados, com a crista parafinada, luz espetacularmente, demonstrando uma felicidade que não se explica. Lembro-me de um poema de Fernando Pessoa, que diz não constar que Jesus tenha tido biblioteca. Guto passeia por minha-casa-biblioteca e nem se dá ao desfrute de perguntar a que servem tantos livros. Ele tem a sabedoria do instinto e usufrui uma felicidade animal.

ELOÁ HAYAL , NOVA NOIVA

Cher Prof,


Senti falta de não ter sua aula hoje e acho que vou sentir essa falta sempre, seu carisma simpatia e bom humor fazem bem.
Aproveito pra explicar tardiamente minha ausência no nosso ultimo encontro, na terça feira passada pela noite foi a viagem de retorno de Nicolas à França, nos casamos e ele precisou retornar para dar entrada na papelada do visto e fiquei a terça toda em função da burocracia francesa, entre consulado e escritórios de tradução juramentada.
Jamais, em tempo algum, perderia o rico encontro de saber contigo por uma razão corriqueira, nos vemos no nosso lindo simpósio.


Gros gros bisous


Eloà

CRISTIANO RONALDO

Como todo brasileiro, empolgo-me com a seleção nacional, sobretudo nesta Copa, realizada na belíssima África do Sul. Mas pouco entendo de futebol, tampouco tenho paciência para ver os jogos, msmo se considero o futebol um balé em torno de uma bola, visando ao gol. Sei dos resultados do Brasil por causa dos foguetes que explodem neste céu azul-anil. Ontem, por execeção, quis ver cenas do jogo Portugal versus Espanha e foquei minha atenção em Cristiano Ronaldo, tão exposto, tão divulgado, tão garoto-propaganda. Meus olhos eram um câmera sobre o astro luso. Em minha modesta avalição, ele não jogou absolutamente nada. Em compensação, fez, o tempo todo, caras e bocas, como foco das câmeras do mundo inteiro; com aquela boca semi-aberta e a língua, muitas vezes, no canto da boca, como quem acabasse de ter passado baton ou esperasse no beijo, ele posava. Portugal perdeu a partida e me ficou a imagem de um Cristiano Ronaldo estátua grega, num jogo que exigia movimentação e ousadia.

ROGÉRIO ZOLA SANTIAGO

Tentei responder no Blog, mas não consdegui enviar. Aqui vai:
Latuf: pensar que isto de maichael Jackson vai se repetir ano após ano, uma amolação - é demais. Você teve coragem de dar esta opinião. Revendo os clips e tapes, são mesmo repetitivos, e ele nem foi um bom exemplo para a juventude . A cena dele mostrando criança na janela (o corpo desse menino bateu no parapeito)... Não deve haver tanta insistência, na época fiquei pensativo, mas agora já cansou. Abraço, parabéns. Rogério Zola Santiago - BH

segunda-feira, 28 de junho de 2010

LUIZ GONZAGA DE CARVALHO, AMIGO DE INFÂNCIA

Saquaremal Latuf,
saudades crônicas.
Você me fez voltar àquele tempo. In illo tempore... Jequeri, Mariana, adolescência, seminário ("saibam que seminário é sementeira de ministros do Senhor..."), o Latuf de mãos postas, o mais puro dos seminaristas, juntamente com um certo Luizinho. Já não sei de onde você é, de Jequeri, de Mariana, de Saquarema, é do mundo, cosmopolita. Também em Roma perdeu a fé. Onde só não se perde a arte. Nada se cria, nada se aniquila, tudo se transforma. Lá vem o poeta carregando sua bagagem que arrebanha tudo que marcou passo a passo sua vida.
Belas paisagens, belas memórias. Seu texto é tudo. Aquilo que você é.
Ósculos.
Luizinho.

domingo, 27 de junho de 2010

BERTA ANTUNES, JOALHEIRA E ARTÍSTA PLÁSTICA

Latuf, adorei o seu texto sobre as nossas frutas tropicias, postado
recentemente em seu blog. Nele o leitor aguça todos os seus sentidos.
Um elegante e saudável "mercado cultural". Todos os elementos
descritos são reais aos olhos e boca de quem o lê. Amei! Beijinhos,
Berthe

sábado, 26 de junho de 2010

MICHAEL JACKSON, NEVER

Como tenho andado muito cansado, resolvi deitar-em e ver tv, cuja programação me faz detestá-la ainda mais. "Zapeando", caí no MTV, que passava uma comemoração ao primeiro aniversário da morte de Michael Jackson, auto-denominado "king of pop". Dá-lhe Mike! Nem com a insistência massacrante de "shows" do artista estadunidense consigo gostar dele um tiquinho sequer. É muita massificação! Irrita-me profundamente sua voz de eunuco e seus gestos autômatos não me convencem em nada. Vejo-o como um robô, um zumbi, um fantasma de felicidade. Que descanse em paz e me deixe descansar-me.

MINHA FRUTA FAVORITA

No Brasil, país das frutas, eu não saberia dizer qual a minha fruta favorita, são tantas, são todas belas, são saborosíssimas. A melancia lembra-me minha infância mineira e minha primeira visita ao Líbano, onde se come muita melancia; o caqui recorda minha infância, pois, em Mariana-MG, o caqui é exuberante; a jabuticaba é Minas Gerais, onde se alugam jabuticabeiras,em que você trepa para chupar, até à exaustão, a fruta; a tangerina ( que o mineiro chama de mexerica) me inebria e de que sou capaz de comer, de uma vez, uma dúzia; a eterna e variadíssima banana: uma amiga africana comeu, aqui, uma dúzia, ao mesmo tempo, e não passou mal; o açaí, que tem o sabor místico da Amazônia; a manga, que lambuza, de cor e sabor, quem a come; a goiaba, cujos odores e sabores remetem à minha infância feliz; o kiwui, que vim a conhecer tardiamente e que me deslumbra pelo contraste de verde e marron (aquiem Saquarema, há um garoto, cujo apelido é kiwui, porque é moreníssimo com olhos verdes, verdes) ; a laranja, que é um arco-íris de néctares; a nectarina, gostosa até no nome; a cereja, cuja beleza põe mesa, sim, senhor; e a lima da Pérsia, com a mesma origem que a rosa do deserto, certa raça de gatos e Freddie Mercury, que nasceu em Zanzibar?; a acerola, que frutifica, o ano todo, no meu quintal; a carambola, com sua forma lindamente geométrica; o coco, rico em água, carne e palmas;o gostosíssimo abacate; o limão, essencial para a saúde; o cacau, riqueza morena de um país; a maçã, que veio do paraíso; a pera, tão suculenta e macia; o figo, que me faz pensar no Líbano, maior produtor, no mundo, desta fruta bíblica; a romã, cuja versão em espanhol - Granada - nomeia a cidade, em que nasceu García Lorca, e que floresceu saudosamente no quinta da casa de minha mãe, em Belo Horizonte-MG; cupuaçu, outro ícone do Norte; o pêssego, que floresce, com as rosas, em Barbacena-MG; o que dizer do hiperbólico abacaxi, paradigma do kitsch nacional? ; a fruta do conde, que é também do povo; o morango, que lembra festa e aniversário; a graviola, com seu lindo nome musical;o mamão, que é toda uma fonte de saúde; o melão, irmão-gêmeo da melancia; o caju, que riqueza, meu Deus!; o maracujá, chamado, em outras línguas, "fruta da paixão"; a uva, que me figura Baco; o jambo, tão lindo; a jaca, dinossauro das frutas. É um elenco infinito a cesta de frutas, nativas no Brasil e nele aclimatadas.Em cada estação, amo as frutas e a elas sou imensamente grato por me darem pequenas alegrias e uma infinda felicidade só em poder contemplá-las e sabê-las disponíveis.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

MINHA PRIMEIRA VEZ

Logo eu, que odeio provas, jamais aplico provas e passei toda a minha vida estudiosa, no Brasil en na Europa, submetendo-me a exames, que me faziam, até, a vomitar bílis. Como professor universitário federal, uso outros meios de avaliação da aprendizagem: jamais provas, escritas ou orais. A avaliação faz-se hebdomadariamente e ao fim do semestre, quando os alunos apresentam monografias e a representam, constituindo um momento de inenarrável felicidade. Mas não escapei da prova do DETRAN. Pela primeira vez, em minha longeva vida, fui submetido a uma prova de múltipla escolha. Peguei o manual e preparei todos os simulados, alcançando, a cada ensaio e erro, um resultado excelente. Ontem, porém, quando me apresentei ao DETRAN, em Araruama, fiquei decepcionado, porque acreditava que haveria sorteio de um dos testes simulados; qual o quê! Enfrentei, no computador, perguntas que nem podia imaginar. Não perdendo a calma, fui assinalando como certa a opção que julgava mais coerente. Lembrei-de um amigo que me disse estaram as respostas nas próprias perguntas. Respondi, em 15 minutos, às 60 perguntas; para obter êxito, teria que acertar 21. Fiquei muito apreensivo. Jamais fui reprovado, pelo contrário, sempre fui o aluno nota 10! Em minha primeira prova de múltipla escolha, passei rente, tendo dado 22 respostas acertadas. Que alívio! Imaginava eu se não tivesse conseguido êxito: uma vergonha, uma decepção, mais uma amolação. Enfim, safei-me em minha primeira prova de múltipla escolha. E continuo detestando provas.

VERSO E REVERSO

Soube que Luis, neto da Roseana Murray, que nasceu em Granada, na Espanha, ganhou um cavaquinho e um piano. Imediatamente, ressoou em mim o sublime verso de Mário de Andrade: "Sou um tupi, tangendo um alaúde". Se o cavaquinho é um instrumento tipicamente brasileiro e o piano é europeu, Luis emblema, na Espanha, a alquimia musical da raça brasileira.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

FRAGMENTO DE "LINGUAGEM E PENSAMENTO", DE LÚCIA SANTAELLA

"No caso do discurso escrito, a sincronização entre o narrar e o acontecimento beira o impossível. Mesmo quando o discurso se faz de maneira estenográfca ou assume uma forma telegráfica truncada, o ato de escrever, os suportes e meios que ele exige, assim como a atenção para si que ele inelutavelmente atrai, torna a coincidência perfeita entre narração e narrado inatingível.
Nos gêneros narrativos, aquele que chegaria mais próximo de uma sincronização seria o diário. A vida transcorre durante o dia para ser escrita à noite. Para poder se realizar, a escritura fica à espera do vivido"

p. 334, subdivisão Grau Zero Narrativo

ÚLTIMAS PALAVRAS ESCRITAS DE SARAMAGO

Nesta sexta-feira (18), dia de sua morte, o blog traz "Pensar, pensar", uma pequena reflexão do autor sobre a sociedade atual.

- "Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

UMA SIMPLES DECLARAÇÃO DE AMOR

Em sua casa, todos chamavam por Gabriel, que tinha "fugido" para a minha casa. Ele entrou e me disse textualmente: "Eu gosto de você!". Dito isso, voltou, célere, para a sua casa.

sábado, 19 de junho de 2010

TRUPE DA ALEGRIA, GRUPO CIRCENSE NASCIDO EM MINHA SALA DE AULA

http://www.trupesa.blogspot.com/

sexta-feira, 18 de junho de 2010

CELINA MELLO, AMABILÍSSIMA INCENTIVADORA

chéri, estou chegando de sua bela Minas, gelada e sem voz, rsrs

em breve divulgação, parabéns ao incansável barthesiano!

bjs

Celina

VIVA JOSÉ SARAMAGO

Estava eu em Niterói, quando ouvi, pelo rádio do ônibus, uma notícia: "O escritor José Saramago (...)", que mentalmente completei: virá ao Brasil lançar seu mais recente livro. Mas a notícia dava conta da morte do escritor português. Pensei: que bom para ele que, laureado com o Nobel de Literatura, agora tem os louros da eternidade.

LEONARDO DAVINO DIXIT

Hoje, palestrei, na UFF, na Feira Literária pelo Mês da Diversidade, tematizando a literatura homoerótica de Mário de Andrade. Colega meu da mesa que coordenei, Leonardo Davino, doutorando em Letras, na UFF, que falou sobre o filme "Otto"; or up with the dead people", chamou-me "o sublime Latuf". Fiquei arrepiado com o elogio, até porque "sublime" é o epíteto mais encontradiço na obra de Mário de Andrade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

SONHO POSSÍVEL

Hoje, ouvi, na UFF, uma aluna me dizer, eufórica, que assistiu a aulas de filosofia, dadas por sua avó. Imediatamente, me imaginei ensinando filosofia à Vitorinha, quando moça.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PROVÉRBIO MINEIRO

"Gravidez e mexerica, ninguém esconde".

terça-feira, 15 de junho de 2010

AOS SANTOS DE JUNHO, DRUMMOND

Meu Santo Antônio de Lisboa,
repara em quanto coração aflito,
a padecer milhões por coisa à toa.
Porque não baixas, please, do infinito?

O mundo é o mesmo após aquela tarde
em que, à falta de gente, por encanto,
falastes aos peixes, e eles, sem alarde,
meditavam em roda de teu manto.

Não sabemos, Antônio, o que queremos,
nem sabemos querer, porém confiamos
de teu amor nos cândidos extremos
e nessa fiúza todos continuamos.

Se não sorris a nosso petitório,
acudindo ao que houver de mais urgente,
se, em vez do café, levas o tório,
como pode o pessoal ficar contente?

Alferes, capitão de soldo largo,
tua civilidade nos proteja.
Não nos deixes papar arroz amargo,
e os brotos (de grinalda?) leva a igreja.

Olha as coisas perdidas, Antoninho:
vergonha, isqueiro, tempo... Se encontrares
um coração jogado no caminho,
traze-o de volta ao dono, pelos ares.

E tu, senhor São João, que vens chegando
ao estrondo de bombas (de hidrogênio?),
Salve! mas, por favor, dize: até quando
o jeito é ensurdecedor: por um milênio?

Sei que não és culpado, meu querido.
Amas o fogo, a sorte, a clara de ovo,
a flor de samambaia e seu sentido
mágico, à meia-noite, para o povo.

E o manjerico verde, casamento
com rapaz; ou senão, murcho, com velho.
Responde, João: em julho vem aumento?
(Bem sei que o assunto foge ao Evangelho.)

Mas dançaremos todos por lembrar-te,
e pulando, sem pânico, a fogueira,
pobres clientes do câncer e do enfarte,
ao clarão de outra chama verdadeira

que arde em nós, não se extingue e nos consola,
ó João Batista, degolado e suave,
bendiremos a graça de teu nome,
e na funda bacia a alma se lave.

Não importa, se ardemos: esta brasa,
como o petróleo, é nossa. Mas, bondoso
e friorento São João: ao cego, em Gaza,
dá-lhe em sonho um balcão, para seu gozo.

E tu, ó Pedro astuto e rude, rocha
no caminho do incréu, baixa e descansa,
contando-nos teus contos de carocha,
os mesmos em Caeté como na França.

Tens as chaves do céu ou do Tesouro?
Aqui a turma _ é pena _ se interessa
bem mais pela segunda _ tanto ouro
nas almas se perdendo... A vida é essa.

E o mais que se dissipa em schiaparellis,
balenciagas, espécies superfinas
(que não sei como pôr os erres e eles),
em peles balzaquianas e meninas.

Pedro-piloto-barca: a teu prestígio,
da vida este canhestro e mau aluno,
evitando de longe o curso estígio,
ganha a sabedoria de Unamuno.

No alto não me recebe, mas à porta,
os coros inefáveis surpreendendo,
cultivarei as minhas flores de horta:
a saudade do céu é um dividendo.

Antônio, Pedro, João: aos três oferto
esta saudade em nós, sem testemunho:
pois se o homem rasteja em rumo incerto,
balões sobem ao céu, no mês de junho.

SEMINÁRIOS INTERNACIONAIS VI: ROLAND BARTHES, DO ESTRUTURALISMO AO PÓS-ESTRUTURALISMO

www.rafrom.com.br

segunda-feira, 14 de junho de 2010

MANECO CRUZ NASCIMENTO ELABORA BELA RESENHA SOBRE PEQUENO POEMA INFINITO, DE JOSÉ MAURO BRANT

Prezado Senhor,
Professor Doutor Latuf Iaias Mucci

Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Após assistir ao espetáculo que passou pelo Piauí, recentemente, tomei também contato com o roteiro de "Pequeno Poema Infinito - Palavras de Federico Garcia Lorca". Entre outros textos de parte da fortuna crítica do espetáculo, li seu artigo "A Consciência Poética de Garcia Lorca".
O texto que escrevi ao ser enlevado pela delicada peça, pareceu perder força diante de tantos textos ricos que trataram de "Pequeno Poema Infinito". Gostei, sobremaneira de seus comentários sobre o Poeta, sua obra e sobre o espetáculo. Senti necessidade de fazer um contato com você. Muito Prazer em ler seu texto. De quebra, envio-lhe comentário que fiz sobre o espetáculo ao ser arroubado por ele.

09/06/2010
Falas de Lorca

Ao Lorca com Amor
por maneco nascimento

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“(...) a sua mãe vestida de cor viva para uma festa, (...)”
Federico Garcia Lorca In: Pequeno Poema Infinito – Palavras de Federico Garcia Lorca. Roteiro de José Mauro Brant e Antonio Gilberto. Trad. Roseana Murray. imprensaoficial. São Paulo, 2009.

As múltiplas facetas da personalidade e da influência do instintivo e original, mas moderno na acepção da prática da produção textual refinada, de renovação da poesia e prosa espanhola, tem em Garcia um grande sopro à anima literária, desvinculada das tradições que se embotavam no contexto artístico em emergência.

Para Arturo Berenguer Carísomo, em “As Faces de Garcia Lorca”. Ícone Editora, São Paulo, 1987, pag. 26, “(...) Todo o interregno entre a paz de 1918 e novo estalido de 1939 parece-me apenas uma febre, cujas horas transcorreram na inquietação fugaz do delírio que deixou alguns êxitos; outros, como tais, não passaram de quimeras do desvario. (...)”

Segundo o crítico de arte argentino, em 1918 os homens voltam das trincheiras, no histórico de vencedores e vencidos há uma convicção de algo novo que deve acontecer no mundo e que, especialmente, aquela arte maciça e em quantidade, deve desmoronar, implodir-se. Pela Europa o trânsito é de uma onda de destemperança, de atrevimento insultante, original a qualquer custo.

O poeta granadino começa a promover nesse período não só uma inquietante obra literária, mas uma ode a sua Espanha que também interage às novidades dos “ismos”, Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, Super-realismo, Futurismo, etc., de convergência européia.

O Theatro 4 de Setembro pautou nos dias 08 e 09 de junho de 2010, às 21 horas, o preciosismo concentrado de “Pequeno Poema Infinito”, espetáculo Dirigido por Antonio Gilberto, com Roteiro Dramatúrgico Literário de José Mauro Brant - que também verte-se do Discurso e Personagem de Lorca - e Antonio Gilberto.

As falas da personagem que se iniciam para o ano de 1918, quando começam seus estudos acadêmicos, vão aos poucos desvelando ”uma simples lição sobre o espírito oculto da dolorida Espanha”. Das memórias afetivas em que como uma criança cheia de assombro mostra sua mãe vestida de cor para uma festa, apresenta sua cidade natal, Granada.

Pela sua Granada destacam-se as estações de Inverno, Primavera, Verão e Outono, todas descritas pelo viés da alma hispânica. A Poesia e o poético, as Canções populares ganham força de inflexão até desembocar no Teatro, que define como sendo sempre sua vocação. Ao tratar desse assunto, a força crítica e venal de bom observador possibilita, em quase metalinguismo, alfinetar o teatro morto e defender a vivacidade das novas linguagens.

Para Arturo Carísomo, que trocou com o Poeta só algumas palavras numa quente noite de dezembro, em frente ao Teatro Avenida, em Buenos Aires, Garcia era extrovertido e jovial, cordialíssimo e violento e parecia que, ao devorar a vida, era como se tivesse a certeza trágica da sua efemeridade. De fala agitada, porém franco e bem falante ao jeito dele, teria uma sede de prazer e uma alegria torrencial que eram senão as drogas heróicas em que adormecia um sentimento cósmico da Morte.

É esse sentimento do mundo presente no discurso de Lorca que José Mauro Brant tão também atribui ao público assistente da peça “Pequeno Poema Infinito”, quando trata ainda da Morte, sujeito recorrente de sua obra, especialmente a dramatúrgica. A delicadeza da construção da personagem lorquiana de Zé Brant, seguramente brechtniana, reverbera esse poeta quente e transgressor das velhas dinastias em queda livre.

O desenho dramatúrgico da Direção de Antonio Gilberto; a Cenografia e Figurino de Ronald Teixeira; a Direção Musical de Sacha Amback e a preciosa Iluminação, de sépia contextualização histórica do inquieto período do mundo ocidental, tratada por Paulo Cesar Medeiros, corroboram ao elegante e eficiente resultado cênico.

Há em Zé Brant a alegria, o bom humor e a energia contagiante da obra e vida de Federico Garcia Lorca. “Pequeno Poema Infinito”, de Brant e Antonio Gilberto não é só para ser recomendado, é para recomendação de que seja absorvido sem pressa e sorvido feito vinho da safra de 1918 a 1936.

A peça encenada se representa muito bem e os revisitadores de Garcia o amam com distanciamento crítico, sem perderem-se da paixão violenta, arraigada de teatro vivo do autor granadino.


Edição: Maneco Nascimento | Fonte: maneco

MANECO CRUZ NASCIMENTO ELABORA BELA RESENHA SOBRE PEQUENO POEMA INFINITO, DE JOSÉ MAURO BRANT

Prezado Senhor,
Professor Doutor Latuf Iaias Mucci

Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Após assistir ao espetáculo que passou pelo Piauí, recentemente, tomei também contato com o roteiro de "Pequeno Poema Infinito - Palavras de Federico Garcia Lorca". Entre outros textos de parte da fortuna crítica do espetáculo, li seu artigo "A Consciência Poética de Garcia Lorca".
O texto que escrevi ao ser enlevado pela delicada peça, pareceu perder força diante de tantos textos ricos que trataram de "Pequeno Poema Infinito". Gostei, sobremaneira de seus comentários sobre o Poeta, sua obra e sobre o espetáculo. Senti necessidade de fazer um contato com você. Muito Prazer em ler seu texto. De quebra, envio-lhe comentário que fiz sobre o espetáculo ao ser arroubado por ele.

09/06/2010
Falas de Lorca

Ao Lorca com Amor
por maneco nascimento

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“(...) a sua mãe vestida de cor viva para uma festa, (...)”
Federico Garcia Lorca In: Pequeno Poema Infinito – Palavras de Federico Garcia Lorca. Roteiro de José Mauro Brant e Antonio Gilberto. Trad. Roseana Murray. imprensaoficial. São Paulo, 2009.

As múltiplas facetas da personalidade e da influência do instintivo e original, mas moderno na acepção da prática da produção textual refinada, de renovação da poesia e prosa espanhola, tem em Garcia um grande sopro à anima literária, desvinculada das tradições que se embotavam no contexto artístico em emergência.

Para Arturo Berenguer Carísomo, em “As Faces de Garcia Lorca”. Ícone Editora, São Paulo, 1987, pag. 26, “(...) Todo o interregno entre a paz de 1918 e novo estalido de 1939 parece-me apenas uma febre, cujas horas transcorreram na inquietação fugaz do delírio que deixou alguns êxitos; outros, como tais, não passaram de quimeras do desvario. (...)”

Segundo o crítico de arte argentino, em 1918 os homens voltam das trincheiras, no histórico de vencedores e vencidos há uma convicção de algo novo que deve acontecer no mundo e que, especialmente, aquela arte maciça e em quantidade, deve desmoronar, implodir-se. Pela Europa o trânsito é de uma onda de destemperança, de atrevimento insultante, original a qualquer custo.

O poeta granadino começa a promover nesse período não só uma inquietante obra literária, mas uma ode a sua Espanha que também interage às novidades dos “ismos”, Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, Super-realismo, Futurismo, etc., de convergência européia.

O Theatro 4 de Setembro pautou nos dias 08 e 09 de junho de 2010, às 21 horas, o preciosismo concentrado de “Pequeno Poema Infinito”, espetáculo Dirigido por Antonio Gilberto, com Roteiro Dramatúrgico Literário de José Mauro Brant - que também verte-se do Discurso e Personagem de Lorca - e Antonio Gilberto.

As falas da personagem que se iniciam para o ano de 1918, quando começam seus estudos acadêmicos, vão aos poucos desvelando ”uma simples lição sobre o espírito oculto da dolorida Espanha”. Das memórias afetivas em que como uma criança cheia de assombro mostra sua mãe vestida de cor para uma festa, apresenta sua cidade natal, Granada.

Pela sua Granada destacam-se as estações de Inverno, Primavera, Verão e Outono, todas descritas pelo viés da alma hispânica. A Poesia e o poético, as Canções populares ganham força de inflexão até desembocar no Teatro, que define como sendo sempre sua vocação. Ao tratar desse assunto, a força crítica e venal de bom observador possibilita, em quase metalinguismo, alfinetar o teatro morto e defender a vivacidade das novas linguagens.

Para Arturo Carísomo, que trocou com o Poeta só algumas palavras numa quente noite de dezembro, em frente ao Teatro Avenida, em Buenos Aires, Garcia era extrovertido e jovial, cordialíssimo e violento e parecia que, ao devorar a vida, era como se tivesse a certeza trágica da sua efemeridade. De fala agitada, porém franco e bem falante ao jeito dele, teria uma sede de prazer e uma alegria torrencial que eram senão as drogas heróicas em que adormecia um sentimento cósmico da Morte.

É esse sentimento do mundo presente no discurso de Lorca que José Mauro Brant tão também atribui ao público assistente da peça “Pequeno Poema Infinito”, quando trata ainda da Morte, sujeito recorrente de sua obra, especialmente a dramatúrgica. A delicadeza da construção da personagem lorquiana de Zé Brant, seguramente brechtniana, reverbera esse poeta quente e transgressor das velhas dinastias em queda livre.

O desenho dramatúrgico da Direção de Antonio Gilberto; a Cenografia e Figurino de Ronald Teixeira; a Direção Musical de Sacha Amback e a preciosa Iluminação, de sépia contextualização histórica do inquieto período do mundo ocidental, tratada por Paulo Cesar Medeiros, corroboram ao elegante e eficiente resultado cênico.

Há em Zé Brant a alegria, o bom humor e a energia contagiante da obra e vida de Federico Garcia Lorca. “Pequeno Poema Infinito”, de Brant e Antonio Gilberto não é só para ser recomendado, é para recomendação de que seja absorvido sem pressa e sorvido feito vinho da safra de 1918 a 1936.

A peça encenada se representa muito bem e os revisitadores de Garcia o amam com distanciamento crítico, sem perderem-se da paixão violenta, arraigada de teatro vivo do autor granadino.


Edição: Maneco Nascimento | Fonte: maneco

VITÓRIA, GLÓRIA SÁBIA

"Pai, você perdoa mamãe, mamãe perdoa você. E vocês dois se abraçam".

IDÉIA GENIAL DE CIDA DONATO

ProfAmado,

hoje tiramos o dia para registrar a família (sob forma de caricatura) na garagem. Alguns poucos amigos foram sugeridos, dentre eles, você. Vou enviar a fotografia. Faremos uma festa junina no dia 25 de junho para comemorar o meu aniversário e a formatura do Diogo, ambos dia 24. Neste dia os referidos no painel assinarão os seus retratos. Se puder estar conosco, será uma felicidade.

Beijos,
Cidoca.

PS Soube, por telefone, que minha caricatura é um cacto, porque Wagner, filho da Cidoca, lembrou-se de que sempre digo que, na minha próxima reencarnação, quero ser um cacto, plantado na Praia da Vila, em Saquarema. Estarei, então, eternamente contemplando o mar, sem incomodar a ninguém e oferecendo água, flores e beleza.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ARTISTA MAIS QUE FIGURATIVO

Gael gosta muito de desenhar. Inda há pouco, pegou duma folha e desenhou um "bicho", que mostrou à mãe, dizendo-lhe: "Grita, mamãe!"
Quando soube da historinha, quis logo ver a obra-de-arte, que me mostrou, sorridente, o Gabriel, artista hiper-realista; então, eu gritei: "Que susto!"

GAROTO ESPERTO, TRÊS ANOS DE PRAIA

Gabriel gosta muito de jogar ao computador. Estava ele hoje jogando, todo concentrado, quando João Otavinho, seu irmão mais velho, que estava ao micro ao lado, lhe disse: "Emo!" Então, ele, do alto de seus três aninhos, contestou: "Não sou emo!" Será que ele sabe o que é "emo"? Eu não sei.

CENA DE TERNURA

Vitorinha colocou em seu colo a Gabriel, o irmão-caçula; enquanto ela o ninava, exclamava: "Como ele é fofo! Como ele é fofo! Como ele é fofo!"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

GIZ, MARCOS BAGNO

Não sou eu que escrevo. Escravo,
lavro este chão que não semeio.
Servo do verso, não o tenho
_faço ele vir como me veio.

Não sou a luz. Espelho, espalho
a de outro sol que em mim se escoa.
Nem tenho a língua, só a voz,
vale por onde a língua ecoa.

Não sou eu que escrevo. Transcrevo
_tem algo maior que me guia.
Tímido giz, frágil me arrisco
nos quadros negros da Poesia.



--

domingo, 6 de junho de 2010

DISCÍPULOS

Verifico, curioso, que tenho "12 seguidores", o que me faz pensar no colégio apostólico. Emociona-me saber que tenho leitores, fato que também me justifica.

ABZ, DO ZIRALDO

"Sem o livro, não há salvação".
Segundo o ABZIRALDO:
M é um v" com muletas.
W são dois "v's" se beijando.
K é alguém marchando.
O Y está, feliz, de braços abertos, porque voltou ao nosso alfabeto.

sábado, 5 de junho de 2010

GIRASSÓIS

Ontem, caminhando nas bandas de trás do meu idílico bairro, veio-me uma vontade súbita de urinar. Olhei em volta e vislumbrei um belíssimo campo de girassóis, onde me embrenhei. Passando, hoje, pelo local do xixi mais luxuoso do mundo, vi que os girassóis regados me sorriam.
Lembro-me, agora, de que, em um longínquo aniversário meu, os colegas da TELERJ, empresa onde trabalhei por 10 anos e aprendi muitíssimo, promoveram uma festa para mim: cada um tinha o crachá com o nome de uma flor. O meu crachá era um girassol.

CRISTOVAM BUARQUE & ROSEANA MURRAY

Mandei tua crônica para o senador Cristovam. Leia sua resposta. Ele quer vir a Saquarema para a Roda de leitura.

www.roseanamurray.com
www.blogdaroseana.blogspot.com


Roseana
Gostei muito da crônica do Dr.Latuf.Você deveria um dia ler esta crônica para os alunos que não estavam nessa "roda".
Levantei e fui ler o livro do Calvino que li décadas atrás.E fiquei com vontade de mudar de profissão:ser leitor em dedicação exclusiva.
Está aceito o convite.Vamos ver quando haverá outra "roda" e quando poderei ir.
Abraço
Cristovam


Em 5 de junho de 2010 08:57, Roseana Murray escreveu:

Cristovam: Prefiro que você venha num Café da Manhã Literário já que poderá ver como é o trabalho com as escolas, participam entre 30 e 40 pessoas e misturamos professores e alunos. Estou copiando a crônica do meu escriba particular, o Doutor Latuf , professor da UFF para que você tenha uma idéia do que acontece. As Rodas de leitura em Saquarema são matéria obrigatória na grade das escolas municipais e não servem como pretexto para provas, etc, são apenas para fazer pensar.

PELA PAZ NO ORIENTE MÉDIO

Por favor, assinem e divulguem!


Incrível -- nós alcançamos a nossa meta de 200.000 assinaturas em menos de 24 horas! A primeira entrega da petição já foi feita e a pressão está funcionando -- vamos chegar a meio milhão! Aqui está o alerta, encaminhe para todo mundo:

Caros amigos, O mundo está abalado com o ataque de Israel a uma flotilha que tentava chegar a Gaza com ajuda. Chegou a hora da investigação e responsabilidade começar e de acabar com o bloqueio Gaza. Assine a petição mundial, depois repasse essa mensagem:

O ataque mortal de Israel à frota de barcos humanitários que iam em direção a Gaza chocou o mundo.

Israel, como qualquer outro Estado, tem o direito de se defender, mas isso foi um uso abusivo de força letal para defender o bloqueio vergonhoso de Israel a Gaza, onde dois terços das famílias não sabem onde encontrarão sua próxima refeição.

As Nações Unidas, a União Européia e quase todos os outros governos e organizações multilaterais têm pedido a Israel para acabar com o bloqueio, e agora a ONU convocou uma investigação sobre o ataque à frota. Mas sem pressão maciça dos seus cidadãos, os líderes mundiais vão limitar sua resposta a meras palavras – como eles já fizeram tantas vezes.

Vamos gerar um clamor global tão alto, que não possa ser ignorado. Assine a petição para exigir uma investigação independente sobre o ataque, a responsabilização dos culpados e o fim imediato do bloqueio à Gaza – clique para assinar a petição, e depois repasse essa mensagem a todos os que você conhece:

http://www.avaaz.org/po/gaza_flotilla_8/?vl

Esta petição alcançou 200.000 nomes em menos de 24 horas e já teve a sua primeira entrega para a ONU e líderes globais. Para ganhar ainda mais atenção, queremos alcançar 500.000 e entregá-la publicamente outra vez. Somente assim mostraremos aos nossos governantes que discursos e notas para a imprensa não são o suficiente -- cidadãos estão prestando atenção e demandando ações concretas, o momento é agora.

Enquanto a União Européia decide se irá expandir suas relações comerciais com Israel, e o Obama e o Congresso Americano definem o orçamento para ajuda militar a Israel para o ano que vem, e vizinhos como a Turquia e o Egito decidem seus próximos passos diplomáticos – vamos fazer com que a voz do mundo não seja ignorada: é tempo de verdade e de responsabilizar os culpados pelos ataques aos navios, e é tempo de Israel respeitar o direito internacional e acabar com o bloqueio a Gaza. Assine agora e passe essa mensagem adiante:

http://www.avaaz.org/po/gaza_flotilla_8/?vl

A maior parte das pessoas em qualquer lugar ainda compartilha o mesmo sonho: que haja dois Estados livres e viáveis, Israel e Palestina, que possam viver em paz lado a lado. Mas o bloqueio e a violência usada para defendê-lo, envenenam este sonho. Como um colunista israelense escreveu para os seus compatriotas no jornal Ha’aretz hoje, “Nós não estamos mais defendendo Israel. Nós estamos agora defendendo o bloqueio (a Gaza). O bloqueio por si só está se tornando o Vietnam de Israel.”

Milhares de ativistas pela paz em Israel protestaram hoje contra o ataque e o bloqueio, em passeatas desde Haifa até Tel Aviv e Jerusalém – se unindo a protestos ao redor do mundo. Independente de que lado atacou primeiro ou deu o primeiro tiro (o exército Israelense insiste em dizer que não foram eles que iniciaram a violência), os líderes de Israel mandaram helicópteros armados de tropas pesadas para atacar uma frota de navios em águas internacionais, que levava remédios e ajuda humanitária para Gaza, gerando mortes desnecessárias como conseqüência.

Não podemos trazê-los de volta. Mas talvez, juntos, nós possamos fazer deste momento trágico, um ponto de virada – se nós nos unirmos em um chamado de justiça inabalável e um sonho de paz inviolável.

Com esperança,

Ricken, Alice, Raluca, Rewan, Paul, Iain, Graziela e toda a equipe Avaaz

Saiba mais:

Entenda como funciona o bloqueio à Faixa de Gaza:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/100531_entendabloqueiogaza_ji.shtml

Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio de Gaza e mata ativistas:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/05/31/israel-ataca-barcos-que-tentavam-furar-bloqueio-faixa-de-gaza-mata-ativistas-916736797.asp

Israel admite erros em abordagem militar em ataque a frota humanitária:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,israel-admite-erros-em-abordagem-militar-em-ataque-a-frota-humanitaria,559979,0.htm

Comunidade internacional condena ataque de Israel à frota humanitária:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/743257-comunidade-internacional-condena-ataque-de-israel-a-frota-humanitaria.shtml

Conselho de Segurança da ONU condena ataque de Israel a frota humanitária:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/06/01/conselho-de-seguranca-da-onu-condena-ataque-de-israel-frota-humanitaria-916750622.asp





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A Avaaz é uma rede de campanhas globais de 4,9 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 13 países de 4 continentes, operando em 14 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

RICARDO PORTELLA, MEU ORIENTANDO DE DOUTORADO

"O orientando é o duplo do orientador".
Lembrei-me do bezerro de ouro e da relação de dominação...
Você não domina, você conquista.
Beijo,
Ricardo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

AMOS OZ

TRIBUNA: AMOS OZ
La flotilla de Gaza y los límites de la fuerza
AMOS OZ 03/06/2010



Durante 2.000 años los judíos conocieron el poder de la fuerza exclusivamente en forma de azotes sobre sus espaldas. Desde hace varios decenios, también nosotros somos capaces de emplear la fuerza. Pero ese poder, una y otra vez, nos ha emborrachado. Una y otra vez, pensamos que podemos resolver cualquier problema con el que nos encontramos mediante la fuerza. Si tienes un gran martillo, dice el proverbio, todo te parece un clavo.

Israel vive obsesionado con su poderío militar. Si no consigue algo por la fuerza, emplea una fuerza aún mayor

Un pacto sería mejor que el arbitrismo del proyecto de Sanidad

En el periodo anterior a la fundación del Estado, una gran parte de la población judía en Palestina no entendía los límites de la fuerza y pensaba que podía emplearse para conseguir cualquier objetivo. Por fortuna, durante los primeros años de Israel, líderes como David Ben-Gurion y Levi Esh-kol supieron muy bien que la fuerza tiene sus límites y tuvieron cuidado de no sobrepasarlos. Sin embargo, desde la Guerra de los Seis Días en 1967, Israel vive obsesionado con la fuerza militar. El lema es: lo que no puede hacerse por la fuerza puede hacerse utilizando una fuerza aún mayor.
El sitio al que tiene sometido Israel a la franja de Gaza es una de las repugnantes consecuencias de esta opinión. Se apoya en la idea equivocada de que es posible derrotar a Hamás con las armas o, más en general, de que se puede aplastar el problema palestino, en vez de resolverlo.
Pero Hamás no es solo una organización terrorista. Es una idea desesperada y fanática que surgió de la desolación y la frustración de muchos palestinos. Y nunca se ha derrotado ninguna idea por la fuerza; ni sitiándola ni bombardeándola, ni aplastándola con carros de combate, ni con una incursión de comandos. Para derrotar una idea hay que ofrecer otra mejor, más atractiva y aceptable.
La única forma que tiene Israel de acabar con Hamás es llegar rápidamente a un acuerdo con los palestinos sobre el establecimiento de un Estado independiente en Cisjordania y la franja de Gaza según las fronteras de 1967, con capital en Jerusalén Este. Israel debe firmar un tratado de paz con Mahmud Abbas y su Gobierno para reducir el conflicto palestino-israelí a un conflicto entre Israel y la franja de Gaza.
Este último conflicto, al final, solo podrá resolverse negociando con Hamás o, cosa más razonable, mediante la integración del movimiento Al Fatah de Abbas con Hamás. Incluso aunque Israel capture otros 100 barcos mientras se dirigen a Gaza, aunque envíe tropas de ocupación a la franja en otras cien ocasiones, por más veces que despliegue su ejército, su policía y sus servicios secretos, así no puede arreglar el problema. El problema es que ni nosotros estamos solos en esta tierra ni los palestinos están solos en esta tierra. Ni nosotros estamos solos en Jerusalén ni los palestinos están solos en Jerusalén. Mientras los israelíes y los palestinos no reconozcamos las consecuencias lógicas de este sencillo dato, viviremos todos en un estado de sitio permanente; Gaza bajo el asedio israelí e Israel bajo el asedio árabe e internacional.
No ignoro la importancia de la fuerza. El poder militar es vital para Israel. Sin él no podríamos sobrevivir ni un solo día. ¡Ay del país que no tenga en cuenta la eficacia de la fuerza! Pero no podemos permitirnos el lujo de olvidarnos, ni siquiera un instante, de que la fuerza es eficaz solo como medida preventiva, para evitar la destrucción y conquista de Israel, para proteger nuestras vidas y nuestra libertad. Cualquier intento de emplear la fuerza no como un medio preventivo, en defensa propia, sino como forma de aplastar los problemas y las ideas, genera más desastres, como el que acabamos de causarnos nosotros mismos en aguas internacionales, en alta mar, frente a las costas de Gaza.

Amos Oz es escritor israelí, premio Príncipe de Asturias de las Letras 2007. Su último libro publicado en España es Escenas de la vida rural (Ediciones Siruela). © Amos Oz, 2010. Traducción de María Luisa Rodríguez Tapia.

RELEITURA

Em seu "blog", Roseana Murray relatou uma estória, contada por seu marido, Juan Arias. Como fui testemunha ocular da história, narro-a à minha maneira. Num mesmo ônibus, estavam Juan e uma senhora de 98 anos, que queria tomar um copo d'água, vendido por um ambulante. Narrando a estória, Juan transformou-se na velhinha, que, curva, curva, abria sua bolsa, buscando uma moeda ou uma nota de um real. A cena comovia, não só pela atuação do jornalista Juan, quanto por sua generosidade em oferecer à anciã 1 real. O gesto fê-la sorrir e a narrativa nos fez sorrir também.

REMINISCÊNCIAS INFANTIS A PARTIR DE EFÊMEROS TAPETES

Nasci numa cidade mínima de Minas Gerais - Jequeri -, tão pequena que quase se esmaece em minha vetusta memória. Mas não posso esquecer aquela cidadezinha qualquer, porque lá está enterrado o meu pai, vindo do Líbano, e também lá perdi meu amigo de infância - Nicolau Alves de Laia, o Nico -, morto aos 40 e poucos anos. Não esqueço a paisagem jequeriense, feita de montanhas, cachoeiras e o belo Rio Casca. Mas, quando me perguntam de onde sou em Minas, respondo, para evitar ter que situar geograficamente meu real torrão natal, que é Mariana, uma lindíssima cidade barroca, onde passei parte da infância e toda a minha adolescência, recebendo uma educação erudita. Geralmente, digo a todos que sou de Saquarema-RJ, cidade-musa, onde atraquei, há 30 anos, o barco de minha existência e onde criei um filho e crio três adoráveis netinhos.
Hoje, é "Corpus Christi", festa da liturgia católica, que celebra a eucaristia. Fui ver, na Vila, os tapetes que enfeitam todo o centro de nossa cidade. Lembrei-me de Jequeri, onde eram lindas as festas religiosas, que quebravam a monotonia da rotina interiorana. Lá, "Corpus Christi" era a mais luxuosa das festas, porque havia um altar em cada esquina, perante o qual parava a procissão para se rezar. Aqui, em, Saquarema, cidade praiana, o sal do mar vira tapete, o sal é colorido e forma imagens e frases, de caráter religioso. Há uma euforia, porque crianças, jovens, adultos empenham-se na fatura do tapete, que se quer o mais belo, mesmo se não há um concurso de tapetes. Nelsinho, o pintor de Saquarema, preparava-se, com sua equipe, para montar dois tapetes, justamente em frente à casa de Walmir Ayala, o poeta de Saquarema. Será, em todo caso, uma obra de arte precária, que vai durar até às 16hs, quando a procissão passar obre os quase 300 tapetes. Vendo a elaboração dos tapetes, que serão anônimos, mas por mãos fervorosas e alegres, notei que há uma marcação, como coreografia, e uma enumeração. Percebi, também, que esses efêmeros tapete de sal continuam o tapete de pedra, que desce da Igreja de Nossa Senhora de Nazareth, ícone de nossa cidade. Na Internet, aprendi que "o costume de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais. No Sul do Brasil, chegou com os imigrantes açorianos. Nas cidades que preservam a tradição, é comum ornamentar as ruas por onde passará a procissão com um tapete desenhado com serragem tingida, palha, borra de café, areia e grãos. Toda população participa do trabalho e o resultado é um grande mosaico, com símbolos cristãos, locais e nacionais, compondo uma obra de arte altamente efêmera, pois ela vai durar apenas até a passagem dos devotos". Em Petrópolis, cidade serrana do Estado do Rio, por exemplo, os tapetes são feitos de borra de café e de serralho.
Na festa de "Corpus Christi", as ondas saquaremenses são tapetes de sal e os surfistas se confundem com os artistas e os artesãos que desenham, no chão da Vila, sua fé.

JASMINS

Faz frio em Saquarema, que exibe, sempre, seu céu azul e seu mar turquesa. O frio, quase repentino, despiu, completamente, o jasmineiro-do-cabo que, postado frente ao portão de casa, dá, com seu cherio avassalador, as boas-vindas a quem chega: não há uma folha sequer e os galhos são braços abertos desnudos. Mas, lá no alto, bem no alto do jasmineiro, explodiu, em branco total, um buquê de jasmins, que anuncia a vida se renovando.

FAIXA DE GAZA, MARIA CLARA MAIA

Latuf: este o grande travo na garganta de todos nós. Maior que qualquer fofoquinha eleitoral, final de Copa do mundo - parecendo mesmo o fim do mundo se atacar navios com tanta ajuda, com tanta gente pacífica tentando dar alguns passos, melhorar o irrespirável ambiente de dezenas de milhares de fiapos humanos. Fiz um poema sobre isso que mando (pouco posso além de rezar e fazer poemas). Trabalha um intertexto fundamental entre Moisés/Gandhi. Um beijo fraterno, Clara. Em você também, Roseana.


Faixa de Gaza

Moisés:
“Olho por olho,
dente por dente”.

Gandhi:
“Olho por olho
e todos acabariam cegos.”

Surdez
mudez,
cegueira...

pelo olfato talvez,
em meio à camada
espessa de lacrimogêneos,
alguém reconheça

o gosto de um beijo
roubado à infância
no Jardim das oliveiras.

3/junho/2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

PROFA. MARIA CLARA MAIA

Vital, Latuf, o fluxo de juventude e entusiasmo em que você mergulha e é levado pelos seus alunos da UFF. Aprecio isto há anos - uma atitude a que me irmano com os meus de Saquarema e o Renato com os dele na UFRJ e tantos,tantos que vem chegando a esta linda profissão que abraçamos. "Que viva, viva los estudiantes!"

Agora, estamos todos sitiados em Gaza

2/6/2010, Pepe Escobar, Asia Times Online – traduzido por Caia Fittipaldi



Imaginem se fossem comandos mascarados iranianos, atacando uma frota multinacional de seis barcos carregados com materiais de ajuda humanitária, em águas internacionais. EUA, União Europeia e Israel, fariam desabar uma avalanche apocalíptica de “choque e horror” sobre o Irã.



Em vez disso, foram israelenses mascarados; e perpetraram um golpe de diplomacia-de-assalto e assassinato na calada da noite – de ‘autodefesa’ –, em águas internacionais, a cerca de 130 km do litoral de Gaza.



E se fossem piratas da Somália? Não, não. São piratas israelenses, combatendo nebulosos “terroristas” muçulmanos. E pouco importa que a opinião pública no mundo árabe, os turcos, a Europa e todos os países em desenvolvimento estejam furiosos. E daí, que estejam furiosos? Israel sempre se safa, mesmo quando comete – como os turcos estão dizendo – “assassinatos” (e também quando pratica atos de “terrorismo de Estado”, nas palavras do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan da Turquia).



Cenas filmadas no convés do barco turco “Mavi Marmara” – que estão rodando o mundo, mas são quase invisíveis nas redes norte-americanas – não permitem qualquer dúvida sobre o que aconteceu. Comandos vestidos de negro, em trajes à prova de bala, armados até os dentes, israelenses, claro, abordaram o comboio de barcos em infláveis de alta velocidade, detonaram granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo e atiraram a esmo, munição real, contra tudo o que viam –, e um helicóptero militar sobrevoava os barcos. A certa altura, ouve-se o comandante turco do Marmara dizer, em inglês: “Ninguém tente qualquer resistência. Estão armados com munição [real].”



Ah, a “resistência”... A agência Debka, de fato, agência-máquina de distribuir falsas notícias, comandada pelo centro de inteligência digital do governo de Israel, descreveu os ativistas que viajavam como “armados com bombas, granadas de efeito moral, vidro quebrado, estilingues, barras de ferro, machadinhas e facas.” E para os comandos israelenses? Sobrou o quê? Pistolinhas de paintball?



E aí está – Monty Python mais um vez, tragicamente remixed para o século 21. As mais bem treinadas “forças especiais” do planeta, assaltam um barco no meio do mar, no meio da noite; e só queriam “conversar”. Mas foram atacados por um bando de terroristas armados com machadinhas e facas, num barco turco, abarrotado de remédios, sacos de cimento, material escolar, comida, purificadores de água, brinquedos – para 1,5 milhões de gazenses que estão morrendo morte lenta sob bloqueio de Israel já há três anos... porque elegeram democraticamente um governo do Hamás.



A agência Debka lamenta, só, que o exército de Israel [ing. Israel Defense Forces (IDF)] – “famoso pela capacidade no campo da eletrônica militar de inovação” – não tenha conseguido impedir a distribuição de sinais eletrônicos, de forma que continuaram a jorrar, dos barcos, texto e imagens enviadas de dentro. Melhor seria, comenta a Debka, que o mundo nada visse. A Debka também lamentou que o ataque tenha ocorrido em águas internacionais: “a zona de bloqueio começa a 20 milhas náuticas de Gaza. Acontecesse ali, seria mais fácil justificar a abordagem.” Obviamente, sabem que Israel não tem qualquer direito, pela lei internacional, nem dentro das tais 20 milhas náuticas, que são território de Gaza, sob ocupação ilegal de Israel.



“Estamos sofrendo muito...”



Ninguém suplanta Israel, em matéria de duplifalar a língua orwelliana do “guerra-é-paz”. Não só os comandos terroristas israelenses foram apresentados como vítimas.



Todo o mundo está sendo alvo, hoje, de um black-out de notícias, orquestrado por Israel. Ninguém sabe com certeza quantos civis morreram (nove, 19 ou 20? A maioria turcos? Talvez dois argelinos? Algum norte-americano ou europeu?) Ninguém sabe se tinham ou não tinham “armas”. Ninguém sabe em que momento os comandos israelenses perderam a cabeça, enlouqueceram e puseram-se a atirar contra tudo e todos (há testemunhas que falam de pessoas assassinadas nas próprias camas, dormindo).



Todos os passageiros, várias centenas, que viajavam nos barcos – muçulmanos, cristãos, diplomatas, funcionários de organizações não-governamentais, jornalistas – foram, de fato, sequestrados pelos comandos israelenses. Ninguém sabe exatamente onde estão.

No rádio, só estática. Hoje, só alguns milhares de “porta-vozes” de Israel controlam toda a informação, em todo o mundo.

Nas palavras de Avital Liebovitch, porta-voz do exército de Israel, chamando a atenção para a felicidade que foi os comandos estarem lá “com aquelas armas” para se defenderem! (Em Israel, hoje, estão sendo saudados como “bravos heróis”).



E por aí vai, a novilíngua de Israel. “Terroristas” do Hamás vestidos como pessoas comuns, ocuparam aqueles barcos e acorreram às praças no mundo, só para aparecerem na televisão como “manifestantes” em “manifestações” internacionais. Nos barcos, usaram outros manifestantes como escudos humanos. E abriram fogo contra os comandos mascarados israelenses.



Assessor do ministro dos Negócios Exteriores Daniel Ayalon, por exemplo, disse que o comboio é “uma armada movida a ódio e violência, a serviço da al-Qaeda”. Como se o Hamás e a al-Qaeda tivessem mudado de ramo e, agora, ganhassem a vida no contrabando de cimento, suco de laranja e brinquedos chineses.



Absolutamente não importa, em nenhuma das versões israelenses, que a Organização Mundial da Saúde, em relatório recente, tenha insistido em que Gaza, hoje – por causa do bloqueio israelense e ilegal que a frotilha tentava romper – está a caminho da pobreza absoluta, desemprego absoluto, absoluta falta de remédios e equipamentos médicos e está, literalmente, sendo assassinada, morta por fome; não menos de 10% dos gazenses, a maioria crianças, estão fisicamente condenadas a não crescer normalmente, por efeito da desnutrição.



Os comandos mascarados israelenses que assaltaram os barcos estavam, ali, defendendo o bloqueio ilegal de Gaza. Trata-se disso.



Judeus progressistas, vivam onde viverem, são os primeiros a admitir que a Israel de hoje vive sob governo de extrema-direita, paranoicos, convencidos de que são vítimas de uma guerra global de propaganda. Por isso a eterna sempre mesma mensagem dirigida ao mundo – convenientemente envelopada em dólares dos contribuintes norte-americanos. Calem a boca! Shut up. As vítimas somos nós! Nós sempre somos as vítimas. E quem não concorda é antissemita.



O bobo na Colina



Para felicidade de Israel, sempre há a terra pátria original da liberdade, terra de bravos. Só grandes fatias da população dos EUA, hoje, estão clamando por sanções contra o Irã e a RPDC, ao mesmo tempo em que fecham os olhos para o genocídio em que Israel trabalha, metodicamente, dia após dia, no Gulag israelense.



E só há um local, em todo o planeta, onde ainda há quem creia na narrativa vitimária de Israel (“somos as vítimas! Os judeus sempre são as vítimas!”) – vítimas, os israelenses, de uma frota de ativistas desarmados. Esse único local do mundo onde essa mentira ‘cola’ é o Congresso dos EUA. O Departamento de Estado dos EUA, em nota oficial, praticamente já processou, julgou e condenou os militantes pacifistas.



Quanto ao presidente Barack Obama dos EUA, até aqui se manteve tão mudo e invisível (imobilizado? Embaraçado? Assustado?) quanto nas primeiras semanas do vazamento do petróleo da BP no Golfo do México. A Casa Branca, de produção própria, só conseguiu “lamentar muito as mortes”. E nada disse contra Israel.



O israelense-em-chefe dentro da Casa Branca, Rahm Emanuel, em visita a Israel semana passada, convidara o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a visitar Obama, para fazer as pazes com Obama. O convescote estava previsto para essa 4ª-feira. Ontem, 2ª-feira, Netanyahu cancelou a viagem.



Diz-se em Washington que Obama, agora, esquecerá a questão das novas construções exclusivas para judeus na Cisjordânia e as abomináveis condições em que vivem os palestinos no Gulag de Gaza, tudo esquecido para sempre, em troca de um dinheiro extra, crucialmente necessário para que os Democratas vençam as eleições legislativas de novembro próximo. Obama esquece, e os doadores judeus metem a mão no bolso. Depois do massacre da madrugada da 2ª-feira, não há dúvidas de que o dinheiro aparecerá: basta que Obama não ultrapasse o limite da lamentação de mortes, e pronto.



Mais uma vez, Obama – pobre Obama, infeliz Obama! – é emasculado, tratado como satrapa de República de Bananas; e Netanyahu canta-de-galo, patético travesti da música Macho-macho-man, do [grupo] The Village People.



Dado que os barcos da frota humanitária viajavam sob bandeiras turca, grega e irlandesa, os comandos israelenses, de fato, atacaram um microcosmo-amostra da verdadeira “comunidade internacional” de carne e osso e sangue. – Netanyahu está sossegado, certo de que, mais uma vez, Israel se safará.



Presidente, presidente... Como é fazer o papel de bobo da Colina em Washington?



E quanto a nós, o resto do mundo, como é, fazermos também nós o papel de bobos da Colina – exceto países que, como Brasil, Rússia, Índia e China, mais Turquia, França e Espanha, podem manifestar-se livre e claramente, com horror, sobre o assalto israelense?



Há algo que podemos fazer – possibilidade que já se discute em algumas poucas latitudes: boicotar produtos israelenses, ou impor sanções a Israel. Ferir a economia deles. Isolá-los diplomaticamente. Se, para a maioria dos israelenses, todo o mundo é seu inimigo – governos, organizações, ONGs, agências de socorro humanitário, opinião pública – porque não os fazer experimentar o próprio remédio?



Original in:

THE ROVING EYE

We are all Gazans now



Pepe Escobar is the author of Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War (Nimble Books, 2007) and Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge. His new book, just out, is Obama does Globalistan (Nimble Books, 2009).

He may be reached at pepeasia@yahoo.com .

ROSEANA MURRAY, EM SEU BLOGLORIOSO

PROFESSOR LATUF
Quis o destino que em Saquarema eu encontrasse a pessoa mais interessante do mundo: Professor Latuf Isaías Mucci, doutor numa lista interminável de matérias, a começar pela indumentária. Latuf nunca se repete, suas roupas são incríveis. Ele me contou que se veste para suas concorridíssimas aulas na UFF como se para um espetáculo. Aliás, seus alunos dizem que suas aulas são um verdadeiro espetáculo e são eles os atores principais. Latuf é um grande incentivador das minhas Rodas de Leitura aqui em casa e é meu escriba. Cada crônica sobre o nosso Café da Manhã Literário é mais saborosa do que a outra e se não fosse por ele, eu não teria nenhum registro, pois realmente eu não guardo nada. Latuf me surpreendeu com a última crônica, para mim, a mais bela de todas.

AONDE VAI A CORDA, VAI A CAÇAMBA

Fui palestrar no Simpósio Internacional "Literatura, crítica, cultura IV: interdisciplinaridade", em Juiz de Fora-MG, promovido pela UFJF, e levei comigo a Hernán Ulm, orientando meu de doutorado. Lá, elogiaram o fato de eu ter a companhia de um orientando; fizeram um símile: você é o único a trazer um orientando; é como um técnico de futebol que assiste a seu jogador jogar.

SEGREDOS ENTRE AVÔ E NETINHA

Vitória veio me abraçar. Então, disse-me: "Vovô, vocé está cheiroso!" Mal saBia ela que minha colônia é "Victoria secret".

terça-feira, 1 de junho de 2010

MARIA CLARA MAIA FAZ RETRATO VERBAL DA JUVENTUDE DA UFF

Sexta passada foi o emociante aniversário de 21 anos da Mariana, namorada, ex-namorada, namorada reatada de meu filho, de modo que estivemos com - além do povo das repúblicas dos dois- com os demais colegas. Que lindos! alegres, incorporando a coroada toda com a sua alegria à dança e brincadeiras - "Vem, vem, vem" gritavam todos de repente à sua frente, e, é claro você ia e se acabava. Que sadio tudo. Sua liberdade, licensiosidade uns com os outros na medida, sua verve para apelidos, cantos,danças, neo-diversas identidades, sua vontade de acertar com os mundo do trabalho, a que alguns estão se integrando - um brilho no olho.... Alguma bebida - caipiríssima, carioquíssima,sim, mas sem baixaria de vômito ou briga. Nenhum drogado deprimido, largado - pelo menos até às três e meia quando fomos embora e eles ficaram num quiosque da praia esperando circularem ônibus para irem-se embora.

O UAI DOS MINEIROS

O leitor e amigo Saulo Santiago, de Brasília, DF, traz
interessante contribuição à coluna:

O berço da expressão popular dos mineiros UAI. Segundo o
odontólogo Dr. Silvio Carneiro e a professora Dorália Galesso, foi o
presidente Juscelino Kubitschek que os incentivou a pesquisar a
origem. Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de
Diamantina e antigos arquivos do Estado de Minas Gerais, Dorália
encontrou explicação confiável.

Os Inconfidentes Mineiros, patriotas mais considerados
subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas,
para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e
sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as
três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos. Lá de
dentro, perguntavam: quem é?, e os de fora respondiam: UAI - as
iniciais de União, Amor e Independência. Só mediante o uso dessa
senha a porta seria aberta aos visitantes.

Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume
entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática
palavrinha e, a partir de então, a incorporação ao vocabulário
quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem. Uai, sô...



Material extraído do jornal CORREIO BRASILIENSE

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e Dalai Lama.

Leonardo Boff conta:
"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, perguntei- lhe em meu inglês capenga:
"Santidade, qual é a melhor religião?"
Esperava que ele dissesse:
"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa,deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:
"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
"O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
"Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista,
taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível,
mais desapegado,
mais amoroso,
mais humanitário,
mais responsável...
A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.
Do livro: Espiritualidade - Um Caminho de Transformação de Leonardo Boff

HERNÁN ULM, MEU ORIENTANDO

os orientandos são o duplo do orientador

LUIZ GONZAGA DE CARVALHO, DIMIDIUM ANIMAE MEAE

Saudosa alma, como vais tu?
Recebi o incrível magnificat. É por isso que ainda bendigo meus nove
anos de Mariana, por isso que aguento todo o peso do meu passado de
2.000 anos - consigo apreciar coisas como este hino que você me
mandou. A mulher canta demais, e a música, e ainda a letra, tudo é
soberbo.E as pinturas, que digo eu?
Agora, quanto a me ter visto no Mercado Central, isto não é nada
extraordinário, você me vê todo dia e em todo lugar.
De ontem, de hoje e de sempre, Luizinho.

SIGNIFICANTE EQUIVOCADO

Querendo qualificar positivamente a maravilhosa aula que acabávamos de ter, Lucas Garcia, excelente aluno meu do primeiro período, assim falou: "Foi hipoteótica!" Adorei o neologismo, criado em cima do significante "apoteótico".

HERNÁN ULM, MEU DOUTORANDO

por causa do livro de barthes a câmara clara, fiquei entusiasta com o haiku. anteontem de noite, pesquisando pela internet encontrei toda uma pasta de haikus de Matsuo Basho. Foi uma experiência inacreditável ler aqueles poemas. E eu devo isso a você.


você é um haiku de felicidade!!!

domingo, 30 de maio de 2010

MAGISTÉRIO COMPARTILHADO

Numa roda acadêmica, discutia-se como cada professor profere sua aula. Um disse que conta estórias; outro opta pela aula "didática"; outro, ainda, faz preleções. Quando chegou minha vez de declarar meu método de ensino, convoquei um doutorando meu para falar por mim. Ele disse que eu faço os alunos darem as aulas.

RODA AMOROSA DE LEITURA ROSEANA MURRAY

A 15ª. Roda de Leitura Roseana Murray, realizada dia 19 de maio do ano em curso, ocorreu dentro dos protocolos, que regeram as edições anteriores, mantendo, portanto, uma tradição de cultura em nossa Saquarema, tão bela e tão carente de ações culturais duradouras.

Cheguei bem antes do horário de abertura, 9hs., porque estava com muitas saudades de nossas Rodas (a anterior acontecera dia 25 de novembro de 2009) e daquela casa amarela, postada frente ao Atlântico, e também porque gosto de ver chegando as pessoas, que se mostram atentas, cheias de expectativas e como quem vai ganhar presente.

Estava lindo o dia outonal, com o mar imensamente turquesa e um clima agradabilíssimo, soprando que estava uma leve brisa. Aos poucos, a varanda marítima encheu-se de crianças e professores, vindo de dez escolas municipais; a cartografia desta Roda de Leitura abrangia todo o município, com suas escolas espalhadas pelos quatro cantos e recantos: Clotildes de Oliveira Rodrigues (na Vila), Padre Manuel (Bacaxá), Castelo Branco (Boqueirão), Gustavo Campos da Silveira (Gravatá), Luciana Santana Coutinho (Porto da Roça), Ismênia Ramos Barroso (Jaconé), Menaldo Carlos (Caixa d’Água), Elcina de Oliveria Coutinho (Água Branca), Edílson Vignoli (Rio d’Areia), Orgé Ferreira dos Santos (Itaúna).

Na casa de Roseana e Juan tudo nos convida à poesia, assim a anfitriã inaugurou aquela edição com a leitura de seu poema “Gaiola”, extraído do livro Falando de pássaros e gatos (Editora Paulus):

de agora em diante

de trás pra frente

e para sempre

nenhuma gaiola amarre

as asas de um pássaro

os passos de um felino

os sonhos de um homem



O silêncio que se seguiu à escuta do poema parecia dizer: Amém!



A atividade seguinte consistiu na leitura do conto “O caso do papagaio Zé Augusto”, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, em seu livro Contos e crônicas para ler na escola. Foi alegre a recepção do texto hilário, que fez, por exemplo, Evelyn Kligerman, convidada sempre especial de todas as Rodas de Leitura, lembrar-se do que presenciou em praça na Cidade do México, onde o machismo dos mexicanos era medido pela carga de voltagem de choque que cada homem, que se apresentava para o espetáculo, conseguia suportar: o papagaio Zé Augusto adorava tomar choques elétricos, assim como os hombres do México exibem sua força viril por agüentarem fortes choques.

Dando continuidade, houve a leitura, em jogral, do conto “O jardim dos gatos obstinados”, do livro Marcovaldo (1963), de Italo Calvino (1923-1985). Antes, porém, do texto, Juan Arias , que conheceu e entrevistou a Italo Calvino, falou um pouco sobre o escritor italiano, que detestava entrevistas e vivia recluso em Milão, observando, com terrível ironia, as cidades, visíveis e invisíveis. Juan referiu, ainda, a curiosidade do leitor com relação ao autor: quem está por trás do texto? Como o leitor imagina Roseana Murray, que abre as portas de sua casa para seus leitores? O jornalista de El Pais, mais importante periódico da Espanha, informou, ainda, que, na Antigüidade, uma folha de papiro custava 100 bois; tal ato deve nos fazer pensar na nossa felicidade de podermos ler e escrever sem termos que fazer troca de bovinos.

Com o subtítulo de “as estações na cidade”, Marcovaldo remete às quatro estações, em que se passam as fábulas, tendo, sempre, como protagonista a Marcovaldo, um sujeito ingênuo, criativo, sensível, bufão, melancólico, felliniano, diria eu, um Carlitos chapliniano. Na elaboração de suas estórias, Calvino trama a linguagem numa rede tão fina que quase esgarça a própria linguagem.

Foi tão emocionante a leitura do conto que um dos comentários, entre vários – “parece um desenho animado”, “o narrador nos mostra, com signos verbais, as 1001 realidades de toda cidade”, “vemos a cidade pelos olhos dos gatos” - feito por uma menina, identificava Marcovaldo com os gatos, recriando, portanto, a narrativa no sentido de o narrador metamorfoseasse no felino, num dos felinos milaneses. Por obra e arte de uma leitorinha, a figura de retórica “antropomorfismo” virava-se do avesso. De minha parte, vi o tempo todo os gatos de Roma, cidade onde morei e estudei e em que os gatos, ocupando celebérrimas ruínas, fazem parte da mitologia da cidade.

Com o gostoso lanche - pães doces, café, chocolate, bolo -, que foi servido aos convivas, fui observando as reações dos alunos e dos professores e o que mais me marcou foi a alegria de todos, bem como a festa que faziam em torno de Roseana Murray, tornada, naquela manhã luminosa, uma real celebridade, porque fotografada o tempo todo e solicitada para autógrafos. Até parecia – pensava eu – que a platéia adivinhara, inconscientemente, que nossa doce anfitriã vivia pesado luto por sua mãe, enterrada no “dia das mães”, e necessitava de afetos.

As várias edições das Rodas de Leitura têm-se revelado, não somente como uma tomada de consciência, por parte da comunidade saquaremense, quanto à importância da leitura, na formação do cidadão, quanto lugar propício ao desenvolvimento dos afetos; aliás, a arte tem esse condão de unir amorosamente. E a poesia de Roseana Murray, que abre seu coração e sua casa aos leitores, tem sido catalisadora de imensos afetos.

SARMO 23 DOS MINERO

O sinhô é meu pastô e nada há de me fartá
Ele me faiz caminhá pelos verde capinzá
Ele tamém me leva pros corgos de água carma

Inda que eu tenha qui andá
nos buraco assombrado
lá pelas encruzinhada do capeta
não careço tê medo di nada
a-modo-de-quê Ele é mais forte que o “coisa-ruim”

Ele sempre nos aprepara uma boa bóia
na frente di tudo quanto é maracutaia

E é assim que um dia
quando a gente tivé mais-pra-lá-do-qui-pra-cá
nóis vai morá no rancho do sinhô
pra inté nunca mais se acabá...

LUÍS GUSTAVO GUADALUPE SILVEIRA

Acabo de receber, pelo correio, o livro "Um por minuto", do jovem escritor mineiro Luís Gustavo Guadalupe Silveira, que abro por acaso e leio, à página 27: "Um conto surreal. Era uma vez, uma história sem pé nem cabeça, mas tão sem pé nem cabeça que na verdade não era uma história: era uma minhoca". Genial!
Recentemente, a Academia Brasileira de Letras lançou um concurso de contos no "twitter", que deveria conter 140 caracteres. Para mim, o mínimo conto do Luís Gustavo teria merecido a láurea. Vou continar a ler esse escritor tão relampejante.

FERNANDO FIORESE, PROFESSOR ACOLHEDOR

Querido Latuf,
Chegando em casa, logo após as nossas despedidas, apresso-me em visitar o seu blogozoso e ler o post sobre sua primeira visita à Juiz de Fora, à UFJF. E alegra-me saber que estivemos à altura na nossa acolhida e que você aqui esteve uma segunda vez em menos de uma semana e que voltará muitas vezes mais para o nosso regozijo. Obrigado pelas palavras-carícias e por emprestar-nos a sua nobre inteligência, a sua refinada sensibilidade, o seu alto senso de humor.
Abraços,
Fernando Fiorese

quinta-feira, 27 de maio de 2010

SENHAS, ADRIANA CALCANHOTO

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
Eu compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem…

CARIOCAS, ADRIANA CALCANHOTO

http://www.youtube.com/watch?v=XEnxcG_tm6k&feature=related

CAIO DI PALMA, MEU DOUTORANDO

Caros companheiros gragoatardenses,

Embora as palavras nunca possam dizer nada para além de si mesmas, e qualquer tentativa de transpor em linguagem as manifestações do corpo não passem de pueris instrumentalizações dos sujeitos em signos, compartilho convosco os calores de meu último escrito alimentado por nosso último encontro. Devo dizer que nossas divagações intelectuais, ou poderia dizer, disseminações sensoriais, tem provocado profundas cicatrizes no meu corpo-texto de cada dia. Na última aula, nossas reflexões finais sobre vida, morte, existência, arte e dionisismo convocaram-me impiedosamente para um flerte obsceno com as chamas, fui incendiado pelas labaredas estranhas da arte em potência, da revolução e do desregramento dos sentidos corpóreos e textuais.
Agradeço profundamente a todos vocês pelo andamento sublime que tem sido este corpo-a-corpo entre nossos pensamentos, anseios, paixões e corpos!

Amor, Luz e Revolução no coração de todos os homens,
Caio

IMANIFESTO HORIZONTAL AOS COVARDES

OU O ESTUDO DE DOIS CORPOS



Primeiro, um lugar que faça girar a cena

Um corpo escrito sobre outro corpo,

A divulgar as esculturas preservadas nos sujeitos

Os dois e o silêncio, o tempo como professor



Atinjo o óbvio obtuso das duas bocas

Assusto-me, evidências da minha morte!

Quem poderá, com um gesto,

Riscar a odisséia de vossas vidas?



Um corpo torna-se presença

Sob escombros fátuos do pensamento,

Cruzo ilhas férreas em cólicas de Gaia

No dia-a-dia Réia, digo rios (tempos)

Uno-me a ele através de seus gestos previsíveis,

Seus receios medíocres, suas plataformas castradas



Salivar seus indícios escusos,

No caos ácido da cidade entorpecida,

Faz-me sufocar o desejo e a selvagem figura.

Tento, mas não atinjo, seu vazio instaurador

- Do silêncio ou da morte do sentir?

Quem diz? Que importa quem fala?

Já disse alguém.



Nesse corpo, apenas sinto o neutro,

A opinião velada no insulto.

Eis o ser que se ausenta e teme-se,

Interrompe a imersão no acaso sexual



O neutro é a recusa do jogo e do amante,

É tornar-se ausência quando deveria tornar-se dado,

É fechar o texto no abrir da página



Há um tal provincianismo do geo-narcisismo

Que enjoa-me as alegorias e as divagações sexuais

As metáforas edipianizam-se, apagadas aqui

Nesse solo, inútil presença riscada



Fazer o que há é tarefa de poucos

Lançar-se no abismo do devaneio sutil,

Tactear as vertigens taradas do acaso indisciplinador

Assinar, no próprio sexo,

As libertações casuais dos trajetos em revoluções.

Tarefa nobre, corajosa e ensandecida,

Suicida, às vezes, no gosto sul do olhar noturno!



- Eis que pressinto Dioniso se apossar do texto /sic/

Os dados, já no jogo estamos lançados!



O segundo corpo, ilustre filho da meta-noite,

Intersecciona o fundo branco da tela

Desembainha, pelo avesso do sexo,

As peles vestidas na estranheza do corpo calado.



Há fuligem nas chamas dos dedos – um texto,

Perscruta ecos e tintas nos lagos obscenos da dedicação.

Em irradiação volátil de afetos, traquina,

Confunde as formas num deserto de almas.

Diz ser parte Fausto, parte Orfeu e todo enigma

Uno-me a ele através de suas imagens e seus fantasmas.



Insinua-se como um rito errante,

Cênico nas dissimulações amorosas,

Faz delirar os homens de prazeres outros.

Sob as tábuas inscritas em seu cheiro tatuado,

O laço do amante entregue ao delírio!

Origens dispersas, talvez eternamente,

De saudosas orgias bacantes



As primeiras mulheres selvagens abrem-se,

Libertam-se do temor e das gentes suas

Errando pelas colinas em busca de Dioniso,

Comem carne crua e trepam na relva nua

Em torpor ou vislumbre profético,

Escutamos a descontrolada manifestação do sublime.

Elas desinstrumentalizam-se, ex-sujeitos

Não sujeitas ao acaso obrigatório das identidades



Isoladas na mania dionisíaca,

Tratam de apagar os rastros serenos de Apolo,

O deus sol, a clave diurna e racional dos paradigmas

Ousam, no decorrer das luas,

Ondular os colapsos nervosos do bárbaro Dioniso,

Deus estranho, libertador de paixões e de fúrias



O limítrofe hermafrodita embriagado,

Imagem arquetípica da vida indestrutível,

Carrega em suas máscaras as vestes

E o tambor cintilante do ditirambo,

A convocar à vida o vinho, o teatro,

A metamorfose e a loucura.



Eis que o texto colide suas linhas, sinuosas,

Com o fulgor raro de existências puras!



Onde o corpo estranho levou meu texto?

Que importa? Há em mim muitos, sempre outros!

O corpo some e soma-se ao meu trajeto

Eis que somos um, e somos todos!

Viemos aqui por um motivo e sabemo-lo:

Dizer o inaudito sobre os corpos libertos,

Sobre as possíveis revoluções do mundo.

Somos, talvez por toda a eternidade,

Um espelho controverso de duas figuras quebradas.



Dedico as plêiades dessas letras minúsculas

Aos seguidores do bardo coxeado Dioniso,

Aos coroados por seus adornos iniciáticos:

Na testa, o impulso de todos,

Os festivais em ramos de Eras!

No rosto, a metamorfose das máscaras,

A dissimulação e loucura como transcurso,

Um brinde às vivências totais!

Na boca, o fogo da flauta e dos vinhos,

A busca do ardente texto em arritmia marginal

Ao corpo em elipses revolucionárias de libertação!

E nos pés, os leopardos adormecidos,

O presente de poucos,

Designar o grande lobo – a Morte,

Não como finitude perigosa ou tenebrosa,

E sim como flerte ilustre de vida e de caos!



Aos atores e aos palhaços deslocados,

Aos vadios boêmios e aos músicos errantes,

Aos poetas marginais e aos revolucionários militantes,

Infinitos em possibilidades de epifanias indestrutíveis,

Dou-vos parte de mim e toda minha paixão!



(Caio Di Palma)