segunda-feira, 14 de junho de 2010

MANECO CRUZ NASCIMENTO ELABORA BELA RESENHA SOBRE PEQUENO POEMA INFINITO, DE JOSÉ MAURO BRANT

Prezado Senhor,
Professor Doutor Latuf Iaias Mucci

Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Após assistir ao espetáculo que passou pelo Piauí, recentemente, tomei também contato com o roteiro de "Pequeno Poema Infinito - Palavras de Federico Garcia Lorca". Entre outros textos de parte da fortuna crítica do espetáculo, li seu artigo "A Consciência Poética de Garcia Lorca".
O texto que escrevi ao ser enlevado pela delicada peça, pareceu perder força diante de tantos textos ricos que trataram de "Pequeno Poema Infinito". Gostei, sobremaneira de seus comentários sobre o Poeta, sua obra e sobre o espetáculo. Senti necessidade de fazer um contato com você. Muito Prazer em ler seu texto. De quebra, envio-lhe comentário que fiz sobre o espetáculo ao ser arroubado por ele.

09/06/2010
Falas de Lorca

Ao Lorca com Amor
por maneco nascimento

» Siga o Vooz no Twitter

» Add o Vooz no Orkut

“(...) a sua mãe vestida de cor viva para uma festa, (...)”
Federico Garcia Lorca In: Pequeno Poema Infinito – Palavras de Federico Garcia Lorca. Roteiro de José Mauro Brant e Antonio Gilberto. Trad. Roseana Murray. imprensaoficial. São Paulo, 2009.

As múltiplas facetas da personalidade e da influência do instintivo e original, mas moderno na acepção da prática da produção textual refinada, de renovação da poesia e prosa espanhola, tem em Garcia um grande sopro à anima literária, desvinculada das tradições que se embotavam no contexto artístico em emergência.

Para Arturo Berenguer Carísomo, em “As Faces de Garcia Lorca”. Ícone Editora, São Paulo, 1987, pag. 26, “(...) Todo o interregno entre a paz de 1918 e novo estalido de 1939 parece-me apenas uma febre, cujas horas transcorreram na inquietação fugaz do delírio que deixou alguns êxitos; outros, como tais, não passaram de quimeras do desvario. (...)”

Segundo o crítico de arte argentino, em 1918 os homens voltam das trincheiras, no histórico de vencedores e vencidos há uma convicção de algo novo que deve acontecer no mundo e que, especialmente, aquela arte maciça e em quantidade, deve desmoronar, implodir-se. Pela Europa o trânsito é de uma onda de destemperança, de atrevimento insultante, original a qualquer custo.

O poeta granadino começa a promover nesse período não só uma inquietante obra literária, mas uma ode a sua Espanha que também interage às novidades dos “ismos”, Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, Super-realismo, Futurismo, etc., de convergência européia.

O Theatro 4 de Setembro pautou nos dias 08 e 09 de junho de 2010, às 21 horas, o preciosismo concentrado de “Pequeno Poema Infinito”, espetáculo Dirigido por Antonio Gilberto, com Roteiro Dramatúrgico Literário de José Mauro Brant - que também verte-se do Discurso e Personagem de Lorca - e Antonio Gilberto.

As falas da personagem que se iniciam para o ano de 1918, quando começam seus estudos acadêmicos, vão aos poucos desvelando ”uma simples lição sobre o espírito oculto da dolorida Espanha”. Das memórias afetivas em que como uma criança cheia de assombro mostra sua mãe vestida de cor para uma festa, apresenta sua cidade natal, Granada.

Pela sua Granada destacam-se as estações de Inverno, Primavera, Verão e Outono, todas descritas pelo viés da alma hispânica. A Poesia e o poético, as Canções populares ganham força de inflexão até desembocar no Teatro, que define como sendo sempre sua vocação. Ao tratar desse assunto, a força crítica e venal de bom observador possibilita, em quase metalinguismo, alfinetar o teatro morto e defender a vivacidade das novas linguagens.

Para Arturo Carísomo, que trocou com o Poeta só algumas palavras numa quente noite de dezembro, em frente ao Teatro Avenida, em Buenos Aires, Garcia era extrovertido e jovial, cordialíssimo e violento e parecia que, ao devorar a vida, era como se tivesse a certeza trágica da sua efemeridade. De fala agitada, porém franco e bem falante ao jeito dele, teria uma sede de prazer e uma alegria torrencial que eram senão as drogas heróicas em que adormecia um sentimento cósmico da Morte.

É esse sentimento do mundo presente no discurso de Lorca que José Mauro Brant tão também atribui ao público assistente da peça “Pequeno Poema Infinito”, quando trata ainda da Morte, sujeito recorrente de sua obra, especialmente a dramatúrgica. A delicadeza da construção da personagem lorquiana de Zé Brant, seguramente brechtniana, reverbera esse poeta quente e transgressor das velhas dinastias em queda livre.

O desenho dramatúrgico da Direção de Antonio Gilberto; a Cenografia e Figurino de Ronald Teixeira; a Direção Musical de Sacha Amback e a preciosa Iluminação, de sépia contextualização histórica do inquieto período do mundo ocidental, tratada por Paulo Cesar Medeiros, corroboram ao elegante e eficiente resultado cênico.

Há em Zé Brant a alegria, o bom humor e a energia contagiante da obra e vida de Federico Garcia Lorca. “Pequeno Poema Infinito”, de Brant e Antonio Gilberto não é só para ser recomendado, é para recomendação de que seja absorvido sem pressa e sorvido feito vinho da safra de 1918 a 1936.

A peça encenada se representa muito bem e os revisitadores de Garcia o amam com distanciamento crítico, sem perderem-se da paixão violenta, arraigada de teatro vivo do autor granadino.


Edição: Maneco Nascimento | Fonte: maneco

Nenhum comentário:

Postar um comentário