sábado, 31 de julho de 2010
CRIANÇA RIMA COM ESPERANÇA
Crianças da Faixa de Gaza cobrem de milhares de pipas os céus da Palestina. Buscam um recorde? Para mim, alegorizam a paz que todos querem, tanto as crianças palestinas quanto as crianças judias.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
GABRIELA SIMÓN, AMIGA BARTHESIANA
Querido Profesor Latuf, ya de regreso a mi casa, me siguen rondando las imágenes de mis días tan intensos y felices en Río.
Gracias por haberme recibido con sus brazos abiertos..."todo ha sido óptimo y sin falla" como a usted le gusta falar...
Mientras escribo este mail escucho el cd que usted me ha regalado de Chico, es hermoso...gracias.
Ya le escribiré sobre su libro que he empezado a leer y que me parece hermoso.
Quisiera saber cómo está usted de salud? Espero que bien..
Sergio le envía un abrazo agradecido...
Mi querido Prof. Latuf, maestro, poeta, amigo, no me alcanzan las palabras para agradecerle y decirle que usted y su mundo me han fascinado.
un abrazo entrañable
Gabriela
Gracias por haberme recibido con sus brazos abiertos..."todo ha sido óptimo y sin falla" como a usted le gusta falar...
Mientras escribo este mail escucho el cd que usted me ha regalado de Chico, es hermoso...gracias.
Ya le escribiré sobre su libro que he empezado a leer y que me parece hermoso.
Quisiera saber cómo está usted de salud? Espero que bien..
Sergio le envía un abrazo agradecido...
Mi querido Prof. Latuf, maestro, poeta, amigo, no me alcanzan las palabras para agradecerle y decirle que usted y su mundo me han fascinado.
un abrazo entrañable
Gabriela
quinta-feira, 29 de julho de 2010
TELEVISÃO ATERRADORA
Em repouso forçado, forço-me a ver televisão, justamente eu que sempre detestei televisão e considero esse meio popularíssimo de informação o mais terrível rolo compressor ideológico. Opto, então, pelos noticiários, que são um verdadeiro terrorismo informativo, a tal ponto que você fica com medo de sair às ruas e, até, de viver. Noite passada, sonhei que estava sendo seqüestrado por três árabes. Até o pesadelo é xenófabo e nem se dá conta de meu orgulho de ser de origem árabe.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
HAY TORADAS? SOY CONTRA!
Informam-me que, na Catalunha, ficam probidas as touradas. Pena que a lei só comece a vigorar em 2012. Nas Canárias já não se pode mais tourear. O incrível do que envolve a lei catalã é que é vista como mais um movimento de separatismo com relação à Espanha, gerando mais ódio entre as províncias. Escutei um madrilenho gritar: " Se não querem as touradas, que eles (os catalãs) se vão da Espanha". É como se o sanguinolento e crudelíssimo costume cultural das touradas fosse o traço identificador da espanholidade.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
PERSONAGEM SOLAR
O médico recomendou-me tomar sol pela manhã. Instalei, então, uma cadeira no quintal, onde, em meio às roupas, dependuradas no varal, sou um personagem solar.
HERNÁN ULM, ELO
Amadíssimo
a gabriela e o sergio ficaram encantados com você (eu não estou surpreso por isso). Particularmente ela, ficou muito entusiasmada com o nível das comunicações e as suas intervenções. Você é uma maravilha de anfitrión. Fico muito agradecido com você pela cordialidade com meus amigos. Você é um verdadeiro embaixador da amizade. Para além do conhecimento de barthes, você faz da vida uma obra de arte. Isso não tem palavras para expressar.
Beijão
a gabriela e o sergio ficaram encantados com você (eu não estou surpreso por isso). Particularmente ela, ficou muito entusiasmada com o nível das comunicações e as suas intervenções. Você é uma maravilha de anfitrión. Fico muito agradecido com você pela cordialidade com meus amigos. Você é um verdadeiro embaixador da amizade. Para além do conhecimento de barthes, você faz da vida uma obra de arte. Isso não tem palavras para expressar.
Beijão
GABRIELA SIMÓN, UNIVERSIDAD NACIONAL DE SAN JUAN
Mi querido Profesor Latuf: es para mí un honor que me haya invitado a una reunión de gente inteligente y agradable, todo coordinado, y orientado con su inteligencia, su sensibilidad, su profundo amor para la vida y la amistad...
De todo lo vivido estoy profundamente agradecida y conmovida.
Su amor compartido por Chico Buarque y Pessoa me hacen creer , como escribe Borges, que personas como usted son "las que salvan el mundo"
Me alegra que le haya gustado lo que le traje, recibalo con todo mi amor.
Le agradezco lo que me dice del libro
Y que seamos de septiembre y de lejanos libaneses coronan esta emoción que usted me regala
un abrazo entrañable
Gabriela
De todo lo vivido estoy profundamente agradecida y conmovida.
Su amor compartido por Chico Buarque y Pessoa me hacen creer , como escribe Borges, que personas como usted son "las que salvan el mundo"
Me alegra que le haya gustado lo que le traje, recibalo con todo mi amor.
Le agradezco lo que me dice del libro
Y que seamos de septiembre y de lejanos libaneses coronan esta emoción que usted me regala
un abrazo entrañable
Gabriela
domingo, 18 de julho de 2010
MULHER FORTE
Convidado para almoçar na casa da Roseana Murray e do Juan Arias, vim a conhecer Gisela, a taxista da Roseana. É uma mulher impressionante, não só por sua estatura física como por sua atitude, que eu chamaria heróica. Mora em Inoã e dirige no Rio, o que é uma luta cotidiana. Adotou um filho (depois, teve dois seus) e veio a descobrir que ele é autista. Ela fala com paixão desse garoto, que é um gênio na informática e vem ganhando prêmios do Governo. Diante da bravura da Gisela, a do táxi amarelo, qualquer problema pessoal me parece insignificante.
HINO NACIONAL
Quando assistia, "en passant", aos jogos da copa do mundo, na África do Sul, eu obervava a atitude dos jogadores durante a execução do hino nacional de seu país. Os jogadores de muitas equipes, como os da Argentina, ficavam abraçados; já jogadores de outras equipes, como no caso da brasileira, colocavam a mão no peito. Chamou-me a atenção o fato de, na seleção da Espanha, nenhum jogador ter cantado o hino, isso porque eles são catalães e não se consideram espanhóis.
Sem dúvida são marciais e beligerantes todos os hinos nacionais; soube, até, pelo Juan Arias, que, no hino holandês, se fala mal da Espanha, grande rival na era das conquistas. No entanto, quem, como eu, viveu no exterior (passei 10 anos, estudando na Itália, na Bélgica e na França) não pode deixar de sentir um frisson quando escuta o hino nacional. Poema épico parnasiano, o hino nacional brasileiro emblema o País que, imaginado à distância, provoca uma onda de saudades.
Sem dúvida são marciais e beligerantes todos os hinos nacionais; soube, até, pelo Juan Arias, que, no hino holandês, se fala mal da Espanha, grande rival na era das conquistas. No entanto, quem, como eu, viveu no exterior (passei 10 anos, estudando na Itália, na Bélgica e na França) não pode deixar de sentir um frisson quando escuta o hino nacional. Poema épico parnasiano, o hino nacional brasileiro emblema o País que, imaginado à distância, provoca uma onda de saudades.
terça-feira, 13 de julho de 2010
AD AUGUSTA PER ANGUSTA
Antes-de-ontem, tive a experiência da angústia e senti que ela é física. Por bastante tempo (pareceu-me uma eternidade), doeu-me o peito e era como se mãos estranhas segurassem o meu coração. Na noite fresca, faltou-me ar e dei-me conta de que a denotação supera toda conotação, sendo a vida muito mais real do que a toda a literatura. Nem rezar meus mantras eu conseguia. Eu não cabia dentro de mim e nem um grito saía do meu peito sufocado. Inda bem que as Cartas (do Tarô de Marselha, do Tarô Cigano, do Baralho Indígena) e as Runas tinham previsto, na véspera, que este meu momento kármico acaba de acabar. Pelas portas estreitas da angústia, hei-de atingir coisas augustas.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
ROSEANA MURRAY, TORCEDORA
Pela primeira vez, em minha vida, assisti, pela tv, a uma partida de futebol. Foi ontem, na casa de Roseana Murray e Juan Arias, que me convidaram para almoçar e ver a partida final da copa da África do Sul, em que disputavam a taça a Espanha e a Holanda. Eu olhava tudo aquilo como um burro olha para o presépio e só não entendia a extrema violência dos holandeses. Ao invés de observar o nervosíssimo e mui longo jogo, preferi prestar atenção às reações, naquela sala linda, dos telespectadores, dos quais dois são espanhóis: Juan e seu irmão Pepe. Roseana era um torcedora mais que fervorosa: gritava, xingava, comentava, descrevia, narrava, pulava; os irmãos espanhóis vibrava muito, mas, nem de longe, se comparavam à euforia da poeta. Finalmente, a Espanha venceu e, então, o telefone de Roseana e Juan não parou de tocar, felicitando pelo êxito da "Fúria".
sábado, 10 de julho de 2010
AVALIAÇÃO DA REVISTA ESPANHOLA AMALTEA SOBRE TEXTO MEU
Informe: "O mito de Tirésias revisitado: ética & estética na ótica do cinema", Latuf Isaias Mucci.
Ensaio excelentemente estruturado, numa linguagem acessível do grande público, além de abordar um tratamento pós-moderno da versão conhecida do mito, tem o mérito de estabelecer os aspectos de actualização, quer ao nível da diegese, quer ao nível da caracterização das personagens implicadas, e tudo isso sedimentado no riquíssimo diálogo estabelecido no filme entre o mito de Tirésias e outros mitos, quer de origem clássica greco-latinos, quer provenientes da tradição popular. Por outro lado, a pertinência deste ensaio ainda se justifica pela abordagem plenamente cheia de actualidade proporcionada pelos estudos inter-artes que utiliza (entre o discurso literário, o cinematográfico e o musical, inserida numa envolvência mais abrangente dos estudos culturais, em que o mito matricialmente se insere), bem como ainda pela importância de que se reveste nos nossos dias o estudo de temas incluídos na área dos “gender studies”, aqui evidenciado na vertente do ‘homoerotismo’ e da bissexualidade da figura central.
1. Amaltea es una revista de mitocrítica. Ofrece, a través de la red y de modo gratuito, un número anual y de temático sobre la recepción de los mitos antiguos, medievales y modernos en la literatura occidental contemporánea.
2. Las lenguas utilizadas son: inglés, español, francés, alemán, italiano y portugués.
3. La revista no tiene orientación crítica propia.
4. Amaltea sólo publica artículos originales. La excelencia del proceso editorial seguido en la selección de los originales garantiza la calidad de los artículos publicados.
5. La revista es editada por la Universidad Complutense de Madrid.
Ensaio excelentemente estruturado, numa linguagem acessível do grande público, além de abordar um tratamento pós-moderno da versão conhecida do mito, tem o mérito de estabelecer os aspectos de actualização, quer ao nível da diegese, quer ao nível da caracterização das personagens implicadas, e tudo isso sedimentado no riquíssimo diálogo estabelecido no filme entre o mito de Tirésias e outros mitos, quer de origem clássica greco-latinos, quer provenientes da tradição popular. Por outro lado, a pertinência deste ensaio ainda se justifica pela abordagem plenamente cheia de actualidade proporcionada pelos estudos inter-artes que utiliza (entre o discurso literário, o cinematográfico e o musical, inserida numa envolvência mais abrangente dos estudos culturais, em que o mito matricialmente se insere), bem como ainda pela importância de que se reveste nos nossos dias o estudo de temas incluídos na área dos “gender studies”, aqui evidenciado na vertente do ‘homoerotismo’ e da bissexualidade da figura central.
1. Amaltea es una revista de mitocrítica. Ofrece, a través de la red y de modo gratuito, un número anual y de temático sobre la recepción de los mitos antiguos, medievales y modernos en la literatura occidental contemporánea.
2. Las lenguas utilizadas son: inglés, español, francés, alemán, italiano y portugués.
3. La revista no tiene orientación crítica propia.
4. Amaltea sólo publica artículos originales. La excelencia del proceso editorial seguido en la selección de los originales garantiza la calidad de los artículos publicados.
5. La revista es editada por la Universidad Complutense de Madrid.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
A SÍNCOPE DO LINGUAJAR MINEIRO
Corgo, bringela, tramela, Beozonte. Decodificando: córrego, berinjela, taramela, Belo Horizonte.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
VIVA CAZUZA, POETA PÓS-MODERNO!
Faz hoje 20 anos que Cazuza "encantou-se", como diria Guimarães Rosa a respeito de morrer. Foi ele um poeta da linhagem de Walt Whitman e de Pasolini, com quem, aliás, se parece muito quando enverga aquela bandana vermelha. Foi ele um menino revoltado. Foi ele um burguês, crítico atroz da burguesia, "que fede". Foi ele uma presença linda no palco, com uma figura leve, alada, quase diáfana, mesmo berrando palavras contundentes. "O poeta não morreu", porque são eternas suas canções, todas antológicas e feitas de sangue, suor e esperma. Cazuza morreu de "overdose": exagero de amar, exagero de criar, exagero de ser.
terça-feira, 6 de julho de 2010
MAIS DE 72 NOMES PARA LATUF
Latufé, Latufiel, Latufervoroso, Latufanático, Latufan, Latufesta, Latufeérico, Latouféerie, Latufamélico, Latufaminto, Latufama, Latufake, Latufalho, Latufenomenal, Latufrenesi, Latufandango, Latufantástico, Latufresco, Latufamília, Latufantasma, Latufirme, Latufabulando, Latufilho, LatUFF, Latufanfarra, Latufirifinfin, Latufair, Latufuck, Latufoda, Latufofo, Latoufauve, LatuFAFIMA, Latuflorestamazônica, Latouflamboyant, Latufilme, Latufotografia, Latufalso, Latuforte, Latufechadura, Latufiufiu, Latufresta, Latufiandeiro, Latufinanceiro, Latufessor, Latuface, Latufruta, Latuflores, Latufim, Latufolhagem, Latoufemme, Latufrustrado, Latufaber, Latufazenda, Latufera, Latufronde, Latufrente, Latufarfalla, Latoufrère, Latufrater, Latufendi, Latufenício, Latufonfon, Latufun, Latuforró, Latuforall, Latufiníssimo, Latufraco, Latufine, Latufour, Latufurniture, Latuforza, Latufavorito, Latufiorucci, Latufiorella, Latufiligrana, Latufernandino, Latufogo, Latufulgurante, Latufogoso, Latuflumen, Latufluminense, Latufutebol, Latufálico, Latufreund, Latufriend, Latufriorento, Latoufoulard, Latoufou, Latoufêtard, Latufräulein, Latoufainéant, Latufurioso, Latufuribundo, Latufatal, Latufetal, Latufascínio, Latoufindesiècle, Latufirenze, Latufiumicino, Latuflama, Latufarra, Latuflair, Latufarsa, Latupharmakon, Latufilósofo, Latufurbo, Latufeelings, Latufaro, Latufarol, Latufelizardo, Latufanfarrão, Latufada, Latufugidio, Latufujão, Latufavo, Latufarinha, Latufarofa, Latufeijão, Latufofoca, Latufather, Latoufrance, Latoufrancophone, Latoufrancophile, Latufao, Latufifa, Latoufoliesbergères, Latoufrisson, Latufrufru, Latuforma, Latufrugal, Latruque, Lassurf, Lafoco, Laturco, Latufirme, Latufigura, Latufax, Latufashion, Latufigurino, Latufrevo, Latufolião, Latufaraó, Latufiligrana, Latufalanstério, Latufalso, Latufidedigno, Latufetiche, Latufinisterrae, Latufunkjamais, Latufundamental, Latufornication, Latufucral, Latufurtacor, Latufértil, Latuforasteiro, Latufuniculifuniculà, Latrufa, Latufacetas, Latufalácia, Latuférreo, Latufluir, Latuflexão, Latuflecha, Latufamaior, Latufricote, Latuforlan, Latufaísca, Latufiat, Latufieri, Latufactotum, Latufelino, Latuferino, Latufrankfurt, Latufosco, Latufórum, Latufausto, Latufácil, Latufútil, Latufurdunço.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
LETÍCIA VELLOSO
Latuf, a morte do José Saramago abriu uma ferida no meu peito. Adoro os livros dele. Com relação ao texto abaixo, li este livro, "As Pequenas Memórias". Chorei quase da 1ª à ultima folha, lembrei do meu amado avô. Em alguns trechos as lágrimas impediamn que a leitura fosse adiante:
"Muito mais tarde, já tinham passado há muito os meus quarenta anos, comprei num antiquário de Lisboa um relógio semelhante que ainda hoje conservo, como algo que tivesse ido pedir emprestado à infância."
"... na minha frente, entornando leite sobre a noite e a paisagem, havia uma lua redonda e enorme..."
" Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vem um imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu." Lindo demais!!!
Latuf, parecia que estava vendo o meu amado, sábio e analfabeto avô Homero. Que saudade...
Beijos,
Letícia.
"Muito mais tarde, já tinham passado há muito os meus quarenta anos, comprei num antiquário de Lisboa um relógio semelhante que ainda hoje conservo, como algo que tivesse ido pedir emprestado à infância."
"... na minha frente, entornando leite sobre a noite e a paisagem, havia uma lua redonda e enorme..."
" Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vem um imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu." Lindo demais!!!
Latuf, parecia que estava vendo o meu amado, sábio e analfabeto avô Homero. Que saudade...
Beijos,
Letícia.
sábado, 3 de julho de 2010
VIAGENS ASTRAIS
Recém-chegados de um tour pela Côte d'Azur, Toscana e por Paris, Hélio & Fernando convidaram-me para jantar no seu maravilhoso sítio, aqui, no bairro da Barreira. Imaginava eu que seria a ocasião propícia para que eles me relatassem a tão sonhada viagem. Nosso reencontro foi muito além de minhas expectativas, na medida em que, logo ao chegar à entrada soberba do sítio, acenderam todos os faróis do carro para que eu pudesse ver a placa "Quinta da Harmonia", em azulejos azuis e doirados, que trouxeram da Itália. Está, assim, batizado o sítio com o título do poema que escrevi,lá se vão dois anos, em homenagem àquele paradisíaco lugar. Inuagurada a placa, com direito a fotografias e a um champagne, que nos esperava nos salões da mansão, adentramos aquela triunfal alameda, que vai criando, no visitante, um clima de calorosa intimidade; Hélio, por exemplo, conhece de cor todas as árvores e flores daquele exuberante bosque, muitas delas por ele plantadas. Não bastasse a felicíssima surpresa da placa, tornada, ela mesma, um poema, tive, ainda, a felicidade de conhecer Jostemídio Silva de Abreu, que, no salão, repleto de obras-de-arte e de peças cusquenhas, falava de coisas espirituais e místicas. Eu estava boquiaberto diante da tamanha sabedoria do Jô, como é chamado pelos amigos e já por mim. Guru, vidente, tarólogo, astrólogo, Jô ultrapassa classificações e é, para mim, um ser humanamente extraordinário, mesmo conservando uma simplicidade franciscana. Hélio e Fernando não falaram de sua esplêndida viagem à Europa, até porque, naquela noite de céu estreladíssimo, valor mais alto se alevantava.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
MEMORIES IN RIO
Ontem, comprei, nas Lojas Americanas, do Baymarket, em Niterói-RJ, uma preciosidade: o "dvd" Queen live, ao vivo no Rock in Rio 1985, a que, emocionadíssimo, acabo de assistir. Com efeito, eu, com meu filho Otávio, era um dos milhares e milhares de espectadores daquele megaevento. Havia, de Icaraí, em Niterói, um ônibus que ia direto ao Rio Centro, local das apresentações, um ônibus recheado de jovens e onde estava liberado o uso da maconha. Muitas vezes, fiquei dependurado nos ombros do meu filho, assim poderia ver melhor o que se desenrolava no palco. Jamais esquecerei a "ouverture", feita por Ney Matogrosso, todo de branco vestido, cantando "Rosa de Hiroshima", belíssimo poema de Vinícius de Moraes; após sua apresentação, soltou um bando de pombas brancas, simbolizando a paz. Outro momento apical, no primeríssimo dia, foi quando James Taylor, também envergando túnica branca, entoou o hino "We got a friend", fazendo com que toda a multidão, silenciosa, se sentasse no lamaçal geral. Sempre gostei imensamente do Queen, sobretudo em suas canções sinfônicas, acompanhadas ao piano por Freddie Mercury, que encarna toda a sensualidade africana (de pais persas,ele nasceu em Zanzibar); é um Rick Martin mais másculo. É imbatível a peça "Bohemian rapsody", bem como é impactante a canção "Love of my all", que o Rio Centro cantou em coro. No "show", Freddie Mercury falou algo em português, como, "Olá, Brasil!", "Olá, Rio!", "estão felizes?", expressões certamente aprendidas com algum namorado brasileiro. Ninguém me tira da cabeça que o rebolado de Freddie foi ensaiado na boate Sótão, reduto "gay" carioca dos anos 80. Ele, estrela máxima, ainda se apresentou enrolado na bandeira brasileira, "auriverde pendão da minha terra", como cantou, divinamente, em "Navio Negreiro", o baianíssimo Castro Alves. No "dvd" consta, ainda, a canção "We are the champions of the world", que vem a calhar com este momento eufórico da copa de futebol, na África do Sulo.
Discurso de José Saramago na Academia Sueca ao receber o Prêmio Nobel de Literatura
"O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.
Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram
analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao
ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às
pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo
das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do
enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.
Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de
pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei
lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de
ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a
transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das
searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.
Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos
depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz
noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e
depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu
noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo,
surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago,
como ainda lhe chamávamos na aldeia.
Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.
Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso
dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a
ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".
Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.
Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com
porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de
ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô
Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte
o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por
uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a
ver."
P.S. "Mutatis mutandis", eu sempre disse que minha Tia Laiafoi a pessoa mais sábia que conheci e que, tampouco, sabia ler nem escrever. porque jamais, no Líbano ou no Brasil, andara por escolas, mas que criara, com extrema sapiência, suas filhas e me adorava ver dançar.
Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram
analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao
ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às
pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo
das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do
enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.
Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de
pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei
lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de
ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a
transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das
searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.
Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos
depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz
noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e
depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu
noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo,
surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago,
como ainda lhe chamávamos na aldeia.
Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.
Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso
dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a
ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".
Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.
Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com
porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de
ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô
Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte
o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por
uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a
ver."
P.S. "Mutatis mutandis", eu sempre disse que minha Tia Laiafoi a pessoa mais sábia que conheci e que, tampouco, sabia ler nem escrever. porque jamais, no Líbano ou no Brasil, andara por escolas, mas que criara, com extrema sapiência, suas filhas e me adorava ver dançar.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
LÍBANO-FENÍCIA.
Desembarcava eu em Orly, aeroporto de Paris, quando uma senhora, muito elegante, à minha frente, foi perguntada na alfândega: "D'où venez-vous, Madame?", ao que ela respondeu em alto e bom som: "De Beyrouth". Jamais esquecerei a ênfase da resposta de alguém que vinha de um país, bombardeado por Israel e pela Síria, e que sabia que o Líbano, ou Fenícia, renasce sempre, gloriosamente, de suas cinzas.
INQUIETAÇÃO
Hamilton de Mattos Monteiro, mentor de minha entrada na UFF e meu real pai acadêmico, disse-me, certo dia, que estaria feliz quando lhe cessasse a libido. Faz algum tempo, ele faleceu, ainda jovem. Hoje, me pergunto se felicidade tem a ver com a extinção do fogo sexual.
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