terça-feira, 12 de janeiro de 2010

AGENDANDO-ME

Nesta canícula quase insuportável, imito meu cão, o Guto, que procura os lugares mais frescos da casa, dos jardins e dos quintais, deixando-se espreguiçar. Definitivamente, ele é um Macunaíma, totalmente sem caráter, mas com toda sabedoria. Para enfrentar este calor senegalesco, ele não precisa, apesar de seus espessos pêlos dourados, nem de ventilador nem de ar condicionado. Mas sabe evitar os tapetes que cobrem o chão de minha casa, libanesa, com certeza.
Na mesa de mármore de Carrara, com mosaicos de pedras preciosas, instalada em minha varanda, vou perfazendo o ritual de todo começo de ano: atualizar minha agenda quanto aos aniversários, inclusive os de meu Pai e de minha Mãe, já na dimensão sideral. Embora saiba de cor todos os natalícios da família, gosto de reinscrever suas datas porque é como se eu já começasse a festejá-los "a priori"; sei, igualmente, as datas dos aniversários dos meus seletos amigos, que, com fervor, celebro. Um dado entusiasta com relação a escrever em agenda consiste em dar-me conta de que sobrevivi a tantos compromissos, resisti a tantas pressões, conclui etapas e abri outros horizontes; já o lado nostálgico da agenda, sempre prospectiva, que passo a limpo, basendo-me na do ano anterior, é o fato de constatar que inexoravelmente passamos e não é o tempo que passa, como se diz; se a metáfora do tempo é o rio, somos levados por esse rio. Para onde? O mistério a tudo rege. É a vida um imperscrutável mistério, que a Arte ressignifica o tempo todo.

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