sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
CASTRO CAMERA
O filme "Milk, a voz da igualdade", escrito por Dustin Lance Black e dirigido por Gus van Sant, portagonizado por Sean Penn - ganhador do Oscar de melhor ator -, narra a história de Harvey Milk (1930-1978), o primeiro "gay" assumido a ser eleito para um cargo público nos EUA. Trata-se da estratégia de luta para vencer arraigados preconceitos em uma sociedade cristã, que execra todos aqueles que não seguem o seu cruel código. Naqueles anos "hippies" - décadas de 60 e 70 -, eu estava em Londres, andava descalço, dançava "Hair" no Shaftesbury Theatre e via, perplexo, a repressão policial contra todos aqueles que não seguiam os preceitos da rainha Victoria, morta, há mais de meio século, contudo ainda reinante nas mentes britânicas. "Juramos lutar", "Protejam nossos direitos humanos", "Direitos dos gays já" ("now", em inglês; no Brasil, o advérbio "já" marcou o movimento da democratização, exigindo eleições diretas "já"), "Continuemos lutando", "Nunca irei para trás", "Há que se destruirem mitos e mentiras" foram vibrantes insígnias do movimento em prol dos direitos dos homossexuais, que eclodiu no bairro Castro, em São Francisco, na Califórnia e terá se espalhado, não só nos EUA, como no mundo inteiro. Percebi, também, no filme, que o "slogan" "Brasil, ame-o ou deixe-o", que vi, colado no pára-brisa de um carro, quando desembarquei no Rio, depois de 10 anos na Europa, e me assustou, é tradução direta do movimento "gay" estadunidense, pois Milk o usou num dos seus discursos: "America, love it ou leave it". Nos EUA, o sintagma era revolucionário, enquanto que, no Brasil dos anos de chumbo, era ditatorial a mesma expressão, expulsando, do nosso País, artistas e políticos da esquerda. Outro dado brasileiro do filme é a presença luminosa de Bidu Sayão, que canta "Tosca", a que Milk assistiu deslumbrado. Em determinado momento do filme, justamente na primeira "Gay freedom parade", que se transformaria nas mundiais paradas de orgulho "gay", toca-se a célebre canção "Over the rainbow", alusão direta ao arco-íris, símbolo da liberdade homossexual. O filme-documentário termina com o assassinato de Harvey Milk, tornado mártir da liberdade, como Mahatma Ghandi, Martin Luter King e John Lennon, por exemplo. O héroi da causa da liberdade para uma minoria (maioria) perseguida nos EUA, como nos tempos de Hitler, citado, aliás, várias vezes, discursara certa vez, afirmando que a bala que atingisse seu cérebro devia arrombar todos os armários ("estar no armário" é metáfora para o homossexual enrustido, aquele que se nega tal, que, por vários motivos, sobretudo familiares, se esconde). Uma palavra-chave do arrebatador filme é "esperança", a esperança que deve sempre brilhar, como as chamas das milhares de velas que iluminaram o enterro de Harvey Milk, que, a partir de sua loja "Castro camera" (Castro era, à época, o gueto gay de São Francisco) promoveu uma revolução pela liberdade de expressão e de vida de gays, asiáticos, latinos, judeus, ciganos, negros, velhos, deficientes, de toda uma população mundial, enfim,que os "podres poderes" insistem em perseguir. Harvey Milk começava sempre os seus incendiários discursos com esta frase: "Sou Harvey e estou aqui para recrutá-los". Ouço John Lennon cantando: "Come together right now!"
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