Em "O banquete", Platão promove uma festa, onde seis convivas proferem, cada um à sua maneira, um discurso sobre o amor. Já, no filme "Eros", de 2004, dirigido por Steven Soderbergh, são apresentadas três versões sobre o amor. No primeiro episódio, intitulado "A perigosa linha das coisas", Michelangelo Antonioni (1912-2007) filma, na costa da Toscana atual, um casal que se agride nos fins de uma relação; em seguida, o marido reencontra o amor em uma mulher misteriosa, mas que, sem mais nem menos, desaparece. Passada na Nova York em 1955, a cena de Steven Soderbergh aborda o amor num sonho reiterativo que um paciente relata a seu psiquiatra, um "voyeur" em sua própria vida real e da vida do analisando. O episódio final - "A mão" -, dirigido por Wong Kar Wai, passa-se em 1963, em Hong Kong, onde um jovem aprendiz de alfaiate se apaixona pela mulher, cujo corpo modela; a cortesã, todavia, só pensa nos modelos novos para exibir a seus novos amantes. Costurando a trilogia amorosa, uma bela canção de Caetano, "Michelangelo Antonioni", sobre a qual são, qual palimpsesto, justapostas imagens oníricas:
Visione del silenzio
Angolo vuoto
Pagina senza parole
Una lettera scritta
Sopra un viso
Di pietra e vapore
Amore
Inutile finestra
Para Antonioni, Eros é o poema; segundo Soderbergh, é um sonho; na concepção do cineasta chinês, amor é tato.
Nem a filosofia da Grécia arcaica nem o cinema conseguem definir o que é o amor; já me dissera em Roma uma condessa decadente: "le cose si sentono". O amor não se define: sente-se. Ponto, parágrafo.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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