Falar de horrores da guerra é cometer, literalmente, um pleonasmo crasso. Só o ser humano faz, desumanamente, desde que o mundo é mundo, guerras: guerras locais, regionais, nacionais, civis, mundiais. Assistindo a "O pianista", de Roman Polanski, revejo a guerra e seus inomináveis horrores. Nasci durante a segunda guerra mundial, assim como Mário de Andrade morreu, de desgosto, durante essa mesma guerra. Tenho horror absoluto a toda guerra, por qualquer motivo que seja: religioso, de dominação, de segregação, de conquista de território... Haverá um motivo para a guerra? Nenhuma guerra é santa, a não ser na retórica de Obama, que repete, em pleno século XXI, o código sanguinolento das cruzadas. "O pianista" não foge aos clichês de todo filme sobre a perseguição nazista aos judeus. São as mesmas imagens do mais absurdo horror. Mudam-se os tempos, mudam-se as geografias, mudam-se os execrados, mas o horror, face à tecnologia a-ética, continua ainda mais horripilante.
Num de seus vários refúgios, o protagonista- pianista está trancafiado, proibido de fazer qualquer barulho, num quarto onde há um piano, de que ele ouve, mentalmente, a música à medida que vai simulando tocar as teclas; aliás, em várias cenas o herói (verdadeiramente um herói) dedilha teclas de um piano imaginário.
O "turning point" de "O pianista" ocorre quase no final do filme, quando, acuado em seu último esconderijo, Szpilman tem que provar que é pianista. Tocado em uma corda recalcada de sua sensibilidade, o soldado alemão comove-se e passa a ter amizade pelo judeu. A música salva, repertir-se-ia com Nietzsche, filósofo alemão, irmão-gêmeo de Dioniso. Chopin foi a senha da liberdade, a senda da libertação.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário