quinta-feira, 23 de abril de 2009

ACROSS MY UNIVERSE

Por mais uma belíssima indicação de Roseana Murray, vi o dvd "Across the Universe", que me fez reviver toda uma era de minha própria vida e me estendeu o espelho do que fui sendo feito. Com efeito, vivi aquele período todo em Londres, onde dancei, inclusive, "Hair", o primeiro musical que retrata uma geração inteira "hippie", cujo lema é "paz e amor". Nos anos sessenta, eu morava em Londres e acompanhava, em seu nascedouro, as canções dos Beatles; no apartamento em Notting Hill Gate, o "landlord" comprava os compactos com as novas músicas, que fazia girar o tempo todo, como, por exemplo, "Let it be", que sempre entendi como um hino budista. Lembro-me de que, quando o professor, na "International House" (escola em Piccadilly onde eu me preparava para o exame Cambridge), perguntou-me por que eu estudava inglês, respondi-lhe que era para compreender as canções dos Beatles; ele, então, orientou-me : "You should go to Liverpool". Psicodélica opereta, o filme "Across the Universe" (2007), de Julie Taymor, com Jim Sturgess, no papel de Jude, e Evan Rachel Wood, como Lucy ( todos os personagens têm nome dos personagens das canções do grupo de Liverpool), deu-me, entre outras coisas, a noção da importância essencial das canções dos Beatles, que, mais que baladas, embalam, desde sua publicação, gerações e gerações. Talvez o que mais me tenha feito ficar perplexo seja o fato de a questão da guerra, no caso a guerra no Vietnã, objeto de todos os performáticos protestos em "Across the Universe", não ocupar mais a atenção do mundo, que vive horrendas ( o adjetivo "horrendo" é um pleonasmo, em se tratando de guerra...) e intermináveis guerras no Oriente Médio, no Iraque, no Afeganistão; a guerra ter-se-á banalizado e os Estados Unidos, mentores e fazedores de guerra no mundo inteiro, não mais abrigam movimentos como o "hippie", que eclodiu, por exemplo, no festival de Woodstock. Mirando minha vida no caleidoscópio desse musical imperdível, revi alguns personagens de minha experiência londrina: a brasileira Linda e o libanês Antoine; ambos mudaram,desde então, de nome; Linda voltou a seu nome mineiro de batismo: Wilma; quanto a meu primo, traduziu seu nome libanês para o armênio: Antonov. Da brasileira, sei que vive em Genebra, onde a visitei algumas vezes; sobre o Antoine, nunca mais soube de nada, tendo, inclusive, procurado-o no Google. Ele vivia angustiadíssimo por causa da guerra no Oriente Médio, exilara-se em Haia, onde o visitei; depois, dele só tenho imensíssimas saudades.

Words are flowing out like endless rain into a paper cup
They slither while they pass they slip away across the universe
Pools of sorrow, waves of joy are drifting through my opened mind
Possessing and caressing me
Jai Guru Deva Om
Nothing's gonna change my word
Nothing's gonna change my word
Nothing's gonna change my word
Nothing's gonna change my word
Images of broken light which dance before me like a million eyes
They call me on and on across the universe
Thoughts meander like a restless wind inside a letterbox
They tumble blindly as they make their way across the universe
Jai Guru Deva Om
Nothing's gonna change my word

Mais do que uma quase inocente canção que empresta seu título a um esplêndido filme, "Across the Universe" lança-me, com imagens, palavras, sons, no meu próprio Universo, que muda, sim, e muda a partir de experiências cotidianas, inclusive das experiências de meu universo "hippie" e da experiência de reviver em um filme toda uma época de minha vida vadia.

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