sábado, 14 de março de 2009

CRÔNICA DA IDADE OU IDADE CRÔNICA

“Who wants to be for ever young?”
“I wanna be for ever young!”

É muito comum, neste nosso mundo que valoriza, acima de tudo, a juventude, as pessoas, tanto homens quanto mulheres, mentirem sobre sua idade, escondida numa contagem de menos. A mentira deslavada ficou ainda mais banalizada com a popularização da cirurgia plástica, em cujo ranking o Brasil ocupa o segundo lugar, em classificação posterior aos Estados Unidos. Fincou-se, de vez, no imaginário popular, o mito de Dorian Gray, aquele personagem do único romance do irlandês Oscar Wilde, que narra a troca de lugar entre o modelo e a pintura que o retrata; por um pacto à la Fausto, o jovem permanecerá sempre belo e jovem, ao passo que o quadro envelhecerá e se tornará cada vez mais feio. Escondendo a própria idade, nossos contemporâneos têm o ledo engano de pensarem que adiam a morte, inscrita em cada um de nossos destinos. A Internet, por exemplo, e o Orkut, em particular, são os lugares privilegiados da mentira, inclusive quanto à idade, ou melhor, quanto à ficção cronológica. Mas atingirá a alma a cirurgia plástica? Talvez o humor; jamais, todavia, o húmus do homem.
Na minha longeva família, ocorre a camuflagem da idade, de uma maneira inversa, porém, pois minha prima Maria Anita apregoou aos quatro ventos que completaria, dia 1 de fevereiro deste ano da Graça, 63 anos. Espalhou-se a notícia e seu irmão mais velho, José Eustáquio, quis tirar satisfação com ela, argumentando que ele, sim, fará, este ano, 63 anos e, como não são gêmeos, deveria haver, de sua parte, uma contagem para mais. A celeuma esquentou-se tanto que tiveram os dois irmãos que cotejarem as respectivas certidões de nascimento. Maria Anita ficou pasma: tem ela 62 anos e morre de vergonha ao imaginar que seus alunos vão pensar ser mentirosa sua professora, tão esbelta e digna.
Quem me contou, por telefone, essa história bem familiar foi minha irmã caçula, Maria, que sempre assumiu sua idade exata e que jamais precisaria de uma cirurgia plástica, mesmo com os janeiros todos, que já começam a lhe pesar sobre os ombros largos. Muito amigas desde crianças no interior de Minas Gerais, Maria Anita e Maria deixam que os anos lhes passem, inexoravelmente, sobre o corpo, deixando suas almas cada vez mais belas.

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