“Obedecendo à tradição sangüínea dos líricos da poesia árabe, Latuf delicia-se no puro enleio dos sabores etílicos do amor (...) Planta aos nossos olhos todas as sementes sinceras de uma poesia que tende a crescer, na medida contemporânea do coloquial, do humor, da irreverência, sob a tangência clássica do lirismo, que marca a permanência histórica da poesia brasileira. O prazer carnal, o mel do gozo, o comentário brejeiro, mesclam-se no roteiro de nítido prazer, prazer esse que se bifurca no sentido e na forma, revelando-se em imprevista musicalidade, em variações fonéticas, nas quais a palavra se liberta e joga sem gratuidade (...) Outras vezes, o poema é rápido como um rabisco, embora definindo com precisão a visualidade sobre a qual se apóia a emoção. Latuf, reitero, atende ao apelo lúdico, jogando com a palavra e a emoção, com a espontaneidade de um equilibrista de circo (...). Neste gosto do transitório, revela a natureza andarilha e cigana de seu coração, outrora forrado na segurança dos altos estudos filosóficos e cujo sal de erudição não espartilha o clima de distensão e fervor amoroso de sua poesia de hoje. Na depuração de certos desenhos idílicos, me lembra o muito amado Antônio Boto, descoberto na minha adolescência, mas o toque brasileiro de Latuf parece intencionalmente quebrar o plano ideal, com as palavras e as surpresas do corriqueiro, inspirado na qualidade direta e terrestre de seu recado (...)”.
Walmir Ayala
Saquarema, abril de 1984.
quarta-feira, 18 de março de 2009
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