Jamais imaginaria eu um sincretismo em estado tão puro quanto o que percebo na vivência de Roseana Murray, poeta e contista. Ela é carioca, filha de poloneses, e mora em Saquarema-RJ. Judia, casou-se com um ex-padre espanhol, que foi jornalista credenciado junto ao Vaticano. É fervorosa e estudiosa do Candomblé. Aliás, esse seu sincretismo religioso lembra-me, à perfeição, a belíssima ópera Alabê de Jerusalém, do fluminense Althay Veloso, onde o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo e o Candomblé se irmanam, mui harmoniosamente, sob o signo da “Ecologia, a verdadeira religião”. Tem um amigo que a adora, absolutamente, e que é mineiro, filho de libanês, cristão-maronita, com leves laivos budistas.
Mas o que mais me impressiona no sincretismo roseano é seu discurso oral, onde venho percebendo expressões, que jamais poderia imaginar pudessem sair de uma boca judia: ela exclama, por exemplo, “Nossa Senhora!”; já a ouvi usando a metáfora “via crucis”, que não combinaria, jamais, com o código judaico.
Será sincreticamente pura a metafísica poesia de Roseana Murray? Quanto a mim, vejo essa poesia imperdível como pura, impura, sincrética, assincrética, como um texto, enfim, humano, demasiadamente humano, e que tem saudades do infinito.
sábado, 14 de março de 2009
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